Ressaca moral mode on

Levantei da cama com muito cuidado, minha cabeça parecia que ia estourar. Minha coluna estava doendo muito. Procurei por minhas roupas em todos os lugares. Achei elas perfeitamente dobradas em cima de um apoiador de vinho.

Enquanto eu me vestia, flash do que havia acontecido na noite anterior tomavam conta do meu pensamento. Pareciam vários recortes sem nexo. Lembrei de derramar vinho na minha roupa, de derrubar a pilha de livros quando tentava subir na mesa para dançar. Por fim, tirei minha roupas e puxei Alexandre para cama.

— Eu só posso estar enlouquecendo! O que diabos passou na minha cabeça? — Pensei alto olhando Alexandre se movendo na cama, como se tivesse prestes a acordar. — Acho melhor eu ir para casa rápido. Não sei como vou explicar isso e nem tenho cara para olhar para ele. Aí meu deus. Que vergonha. O que eu fiz! Ele nem gosta de mulher! Que vergonha.

Fui ao banheiro, rapidamente terminei de me vestir, tentei fazer um coque no cabelo para disfarçar o caos que estava. Parecia um ninho de passarinho. Lavei meu rosto e lavei minha boca com um enxaguante bocal que estava no banheiro. Vamos pelo menos fingir que eu ainda tenho alguma dignidade depois dessa noite.

— Eu até entendo as mulheres, ele calado, dormindo assim, não posso negar que é um pedaço de mal caminho de 1,90. Pena que meu 1.56 de altura não é o suficiente para ele. Quer dizer, o gosto dele é bem diferente do que posso oferecer. Espero que não fique chateado com o que aconteceu hoje a noite. Talvez seja melhor fingir que nem aconteceu. — Pensei alto, ajoelhada na altura do rosto de Alexandre, admirando sua beleza.

Respirei fundo, sabia que precisava voltar para casa e que haviam problemas esperando. Virgínia e sua mãe nunca deixariam tudo que eu fiz passar tão fácil. Até imagino o que tem preparado para mim quando chegar.

Antes de sair, deixei um dinheiro em cima da mesa com um bilhete. Não sabia ao certo qual deveria ser minha atitude naquela situação, afinal, era a primeira vez que eu durmo com alguém. Pensei que estaria sentindo muita dor, mas não sinto nada, apenas uma enorme dor de cabeça, mas com toda certeza deve ser da ressaca tanto física como moral. Acho que paguei minha vergonha no débito, perdendo a virgindade com um homem que gosta na verdade de homens. É melhor eu esquecer logo essa história.

No caminho para casa, decidi que era melhor deixar elas esperando ansiosas minha chegada em casa, para deixar elas ainda mais irritadas, não havia motivo para ter pressa para chegar e passar raiva. Como estava com fome, decidi comer em uma padaria no meio do caminho.

Devidamente alimentada, com sensação que tinha conseguido superar a ressaca de uma vez por todas. Como estava passando por perto, decidi passar no hospital. Minha avó estava internada a algum tempo, Márcia que cuidava dela me proibiu de visitar ela, alegando que eu era uma decepção tão grande, que poderia matar o mulher apenas com minha presença. Pensando bem, se elas tinham um plano desde o começo, cada atitude delas até agora deve ter tido uma razão. Deve haver um motivo para me afastarem dela. Tenho que descobrir.

Não vou mentir. Fiquei alguma horas na porta criando forças antes de entrar. Talvez aquela senhora realmente não gostasse de mim, afinal, seu filho me adotou e me abandonou nas mãos da minha madrasta. Todos da família sabiam bem disso, mas não adiantava pensar nisso. Para ter resposta, preciso encarar a realidade.

Juntei as forças que tinha e entrei no quarto. Minha avó estava muito mais magra e fragilizada do que a última vez que havia lhe visto. Envelheceu uns dez anos em alguns dias, isso é possível?

— Alice? — Minha avó perguntou surpresa, parecia não esperar mesmo a minha visita.

Para ser sincera, nem eu esperava fazer essa visita. Uma parte de mim tinha muito medo de ser rejeitada por mais uma pessoa. Ainda mais, quando Márcia fazia questão de deixar claro como a família doeu pai me odiava, mas eu tinha um pouco de esperança que fosse tudo uma enorme mentira. Queria encarar de frente a realidade, descobrir toda verdade, por mais dolorosa que fosse.