A virada de chave surpreende

O rosto de Márcia era de surpresa no início, ela não esperava uma resposta minha, todos os anos apenas aceitei os desaforos dela, mas logo o seu semblante se contorceu de ódio, ao se dar conta que eu estava realmente afrontando ela.

— Você por acaso bateu a cabeça? Sabe com que está falando? O que pensa que seu pai vai pensar quando souber que a caridade perdeu completamente o juízo e está me respondendo? — Márcia sempre me ameaçava com o mesmo discurso. — Me responda onde você está estava e deixe a minha filha longe disso.

— Você tem um discurso tão repetitivo que cansa. E sobre o meu pai? Também não tenho mais saco para aguentar desaforo por ele, que nunca está em casa. Talvez a culpa dele não parar em casa seja sua. Já parou para pensar que foi depois que você chegou que ele decidiu trabalhar demais? Antes disso, todas as noites a minha mãe jantava com o meu pai. Bem, mas é diferente, não é? Afinal, a minha mãe era esposa querida dele, você era o brinquedo que ele tinha na rua. Que apenas ganhou uma casa porque minha mãe faleceu e você usou sua filha como chantagem. Você sabe, eu sei, todos sabem. Meu pai nunca teve olhos para você. — Senti a mão de Márcia vindo diretamente no meu rosto.

— Você vai se arrepender por ter me menosprezado, você querendo ou não, aquela mulherzinha está morta. E agora, Álvaro é meu marido. Sou dona daquela casa. Você tem que seguir as minhas regras. Sabe muito bem que o seu pai me deixou responsável por você. — Márcia estava tremendo de ódio. Não sei onde eu estava com a cabeça quando tentei me dar bem com uma mulher como essa. — Se ainda quiser pisar na minha casa, terá que me responder onde você. Mesmo que seja um lixo sem valor, ainda carrega o nome da nossa família. Não deixarei que nos envergonhe.

— A verdade dói, eu sei, mas ela também vira uma chave na gente. Realmente não me importo nenhum pouco com as suas ameaças, mas se quer tanto saber onde eu estava, matarei a sua curiosidade. Estava decidindo meu futuro, decidi aceitar um encontro às cegas. Foi muito interessante. Era um homem bastante único. — Eu tinha um sorriso no rosto, mas ao ver Márcia pálida, não pude deixar de rir. Tenho certeza que ela e a filha pensaram em diversas justificativas para o que aconteceu ontem, mas em nenhuma delas, me colocava em um encontro com o futuro noivo de Virgínia.

— Es-espera. Você tá brincando, não é? É uma piada. Você está me dizendo que ontem a noite você teve um encontro às cegas com Alexandre Albuquerque? O empresário? — Márcia gaguejou algumas vezes com a informação. Nunca pensei que a vingança seria tão satisfatória.

— Sim, esse mesmo. Aquele que Virgínia tinha feito vários planos para se casar naquele caderno que ela organiza desde os 16 anos. O mesmo que ela perseguiu todo esse tempo. Como me encontrei com a minha querida irmã ontem, tenho certeza que ela já te disse cada detalhe, não é? Se queria uma confirmação sobre do que se tratava, aqui está. Aliás, se prepare, logo-logo teremos um casamento. Sei que adora organizar festas. — Eu sei. Alexandre não concordou com nada disso, mas quando me dei conta, já estava falando esse absurdo. — Bom, agora tenho que ir. Tenho muitas coisas para resolver.

Márcia ficou tão chocada com o que eu havia dito, quem não conseguiu nem retrucar. Aproveitei o momento para fugir de lá. Precisava pensar em uma forma de provar a minha suspeita e também, de livrar a minha avó das garras dessa mulher maluca. Por sorte, Marcia não me viu pegando a escova de dentes. Só preciso levar isso para algum laboratório de segurança. Depois irei pensar em uma forma de manter a vovó em segurança.

— Será que Alexandre vai aceitar minha proposta? Ahh! Falei com tanta convicção. Aquelas duas vão me massacrar se eu não conseguir o Alexandre. Como será que posso fazer ele mudar de ideia? — Quando entrei no carro não pude deixar de pensar. Para meu plano ser um sucesso, eu precisava muito daquele egocêntrico do Alexandre.