A vovó tem uma atitude suspeita

— Sim, sou eu, vovó. Alice, sua neta. — Falei em voz alta, para tentar relembrar também a mim que não estava errada em querer ver a saúde do minha avó, mesmo que tivesse o risco de ser rejeitada e expulsa do lugar por ele.

Receosa, eu me sentei em um banco que estava ao lado do minha avó. Respirei fundo antes de encarar seu rosto, para minha surpresa, seus olhos estavam cheios de lágrimas e dor. De alguma forma, senti meu coração apertando.

— Minha doce e querida neta. Espero que possa viver ainda para desfazer todo o mal e injustiça que fiz com você. Perdoe essa velha que não sabia o mal que estava causando a minha única neta. — minha avó disse colocando sua mão sob a minha. — Eu deveria ter reconhecido você antes. Mesmo depois de tantos anos de vida, apenas me tornei uma velha inútil que não sabe valorizar e reconhecer algo de valor.

— Não estou entendendo, do que você está falando? — perguntei confusa ao minha avó, nunca havia ouvido aquelas palavras nenhuma vez. Igual ao meu pai, foram poucas as vezes que me encontrei com ela.

— Eu quero dizer que você é a minha neta. Agora eu reconheço. — Minha avó continuou repetindo incansavelmente, até ser interrompido por Márcia.

— Sogra, o que você está dizendo. Acho que está confundindo as meninas. A sua única neta é a minha filha, Virgínia. Essa ao seu lado é apenas a filha adotiva que meu marido pegou para criar por pena. Sua neta ficaria realmente magoada se soubesse dessa confusão, sabe como a Virgínia é uma criança sensível. — Márcia se colocou na minha frente, impedido que eu visse a minha avó. — A senhora não pode esquecer ou se confundir, a sua única neta é a Virgínia e ninguém mais.

Márcia me empurrou sutilmente da cadeira, tomando o lugar que eu estava, com um pedaço de pano, limpava o rosto da minha avó. Vendo assim, até parece que ela é cuidadosa, mesmo sendo uma enfermeira formada, não havia nada nele de humano.

— Você nos deixou preocupadas, passamos a noite esperando voltar. Sabe o que eu havia dito sobre vir aqui, ainda mais sem dizer nada. Você é mesmo uma menina problemática e ingrata. Nem sequer tem boas maneiras para cumprimentar sua mãe. Criei com tanto amor e me trata dessa forma. A vida não é justa mesmo. — Márcia começou com seu drama. Lógico, não podia me tratar mal já frente da mãe de meu pai.

Achei desnecessário dar qualquer resposta para ela. Estava claro que independente do que eu fizesse, ela me pintaria como vilã. Tinha algo mais importante que eu queria investigar, afinal, era no mínimo suspeito o que a avó estava falando, não parece que ela está delirando ou com qualquer demência.

Pensei enquanto passava por um móvel, em cima dele havia um copo com uma escova de dentro, possivelmente, se tratava da escova que a minha avó estava usando. Eu não podia dispersar aquela chance. Era um aposta com chances baixas, já que tudo isso pode ser devidos aos remédios, mas não custava nada tentar, não é?

— Você vai mesmo embora sem me responder, sua ingrata. Te liguei a noite inteira. Onde você estava? O que aconteceu? — Márcia perguntou irritada, tenho certeza que a vaca da filha dela já repassou tudo. — Onde você dormiu, garota? O que seu pai fará quando souber o tipinho de garota que você se tornou. Vai te odiar ainda mais do que já odeia. Talvez dessa vez, finalmente te coloque para fora. Você nunca mereceu morar naquela casa de qualquer forma. É uma desgraça para família.

— Quer mesmo saber? Ou apenas confirmar o que a cobra da sua filha disse? Tenho certeza que sabe exatamente onde eu estava, com quem e o que eu estava fazendo, não é? — Abri um sorriso malicioso, sempre quis responder aquela mulher que me humilhou desde a primeira vez que colocou os pés naquela casa.