O tempo é o melhor remédio

Avy

Levou bastante tempo para reorganizar todos os cabides e notei que algumas roupas acabaram amassando e tive que passar novamente.

Chega rapidamente o horário do almoço e desço para a cozinha.

Todos os funcionários estão conversando, mas param abruptamente ao me ver chegar. já sei que estão falando de mim, mas sento no meu lugar indiferente as caras e bocas.

-E então, Avy, curtindo o seu quarto novo?

A pergunta veio alguns minutos depois e notei que Dilcy pronunciou o meu nome com mais veemência.

Ergo os olhos para vê-la e é puro ódio, então resolvo ignorar a pergunta para me preservar de uma situação pior.

-Mal chegou e já está se achando tanto a ponto de ignorar a nossa governanta, você não é fraca, dona Avy!

Foi a vez de uma funcionária aparentemente mais jovem que eu, da área da limpeza.

Alguns riram como se isso fosse uma piada.

-Não vai continuar rindo por muito tempo, pode ser a puta da vez do chefe, mas a rotatividade dele é bem grande e quando ele abusar não vai perder só os privilégios, mas o emprego e a reputação, pois não deixarei o seu filme limpo. - Dilcy me acusou e finalizou com uma ameaça.

-Eu... peço licença. - Acabei conseguindo falar e me retirei levando o meu prato quase completo até a pia e descartando a comida no lixo, lavei o meu prato como sempre costumo fazer e saí para a área de serviços.

Em outra época eu bateria boca e me defenderia, mas eu aprendi que o tempo é o melhor juíz e Deus tem visto as minhas aflições. No tempo certo ele me justificará.

No fim do meu expediente subi as escadas em direção ao segundo piso, finalmente entraria no meu quarto. Não o fiz no meu intervalo de almoço para não despertar ainda mais comentários maldosos.

Minhas pernas doem bastante hoje e tudo que quero é tomar um banho fresco e dormir.

Caminho até a porta do meu quarto e antes de entrar ouço o som do elevador abrindo as prontas.

-Avy!

Não deu tempo de entrar sem ser vista.

-Senhor?

-Já encerrou por hoje?

-Do que o senhor precisa?

Ele caminhou até mim. Me recordo instantaneamente das palavras de Dilcy sobre a alta rotatividade de mulheres e me enojo ao vê-lo chegando perto.

o senhor Yuri é um homem bem bonito, agora eu consigo ver, ainda não havia notado antes, eram tantas preocupações em minha cabeça.

-Não preciso de nada, estou bem

O bom humor do senhor Yuri até me causou estranheza.

-Está bem.

-Avy, você gosta de ler? Tem cara de que gosta.

-Eu costumava ler bastante.

-Fique a vontade para usar a biblioteca.

-Obrigada, senhor

— De nada. Ah, pode me emprestar seu celular?

Ele já pede de mão estendida, sem entender entrego-lhe desbloqueado.

Ele disca alguns números e leva ao ouvido.

-Ótimo, obrigado.

Ele me devolve e pegando o seu, finalmente notei que ele estava salvando o meu número, fico mais uma vez pensando nas palavras de Dilcy e temo.

-Passar bem, Avy!

As piadinhas a meu respeito continuaram no dia seguinte e então eu decidi não comer mais com eles, como resultado fiquei sem almoço e me fez muita falta, a noite tive que assaltar a geladeira.

Já eram 21 horas quando entrei na cozinha, com bastante fome.

No dia seguinte uma das funcionárias, a que fez piadinha comigo, chegou aos prantos de choro e eu não pude ignorar.

-Bom dia, está tudo bem com você?

-Não estou nada bem, Avy, na verdade eu estou fudid@!

Ela chorou ainda mais, as cozinheiras chegaram perto.

-Sara, pare de escândalo, já estou servindo a mesa de café da manhã do senhor Yuri!

Uma delas brigou.

-Você quer nos contar o que está havendo?

perguntei depois de a colocar para sentar.

Ela enfiou a mão na bolsa e tirou com teste de gravidez com 2 palitinhos vivos.

-Meu Deus!

As duas cozinheiras disseram em coro.

-Parabéns, Sara!

Eu disse com voz serena segurando as duas mãos dela carinhosamente e olhando em seus olhos.

-Avy, está debochando de mim?

-De forma Nenhuma, estou te felicitando porque você acabou de descobrir o maior amor da sua vida!

-Avy, eu sou solteira, estou na faculdade, isso não poderia ter acontecido.

-De fato, são circunstâncias ruins, mas um filho não deixa de ser uma benção.

-Minhas amigas disseram que eu tô ferrada!

-Elas são mães?

-Não.

-Então ignore-as, ouça: não há nada mais maravilhoso do que a maternidade, tem muitas dificuldades e não posso negar, mas vai ser maravilhoso quando você escutar as batidas do coraçãozinho, doida pra saber se é dele ou dela... E quando vierem as mexidas e depois os chutes e movimentos bruscos, nossa, como é delicioso!

-Você tem um filho, Avy?

-Eu tive dois filhos e daria qualquer coisa na minha vida pra ter eles aqui comigo.

Claro que nesse momento eu já estava chorando.

-Avy, eu tô com medo!

-Eu sei querida, é apavorante nos primeiros dias e até semanas, mas você vai passar a amar tudo que vai viver a partir de agora.

-Senhor Yuri?!

Todas se espantaram com a voz de Dilcy que acabada de entrar e encontrou Yuri próximo à entrada da cozinha.

Ele apareceu e olhou diretamente para mim.

Tive a certeza de que ele ouviu toda a nossa conversa.

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