Capítulo 17

Estava tão furiosa, lutando para me conter e não tomar uma medida drástica contra aquele idiota. O que ele pensava que era? Mesmo que eu fosse uma simples humana, isso não lhe dava o direito de me tratar como uma mercadoria. Só porque ele era um lobo, achava que era superior aos outros?

Todos da família Farrier se levantaram da mesa e deixaram a casa dos meus sogros, literalmente rosnando como cachorros raivosos. Logan olhou para mim com um orgulho indisfarçável. Paul, que ficou em silêncio durante todo o embate, começou a rir, e todos nós o olhamos, sem entender.

— Não é possível que vocês não acharam hilário o "sente-se, levante-se" da Aurora. — Todos começamos a rir. Meu cunhado só podia ser um palhaço mesmo. De todas as coisas que aconteceram, ele só prestou atenção nisso?

— Me desculpe por isso, Bryana. Eu sei que você pediu para mantermos segredo, mas aquele homem me tirou do sério, e eu não consegui evitar. Não queria causar esse tipo de transtorno para vocês. — Me desculpei.

— Não se preocupe com isso, minha filha. Você faz parte da família, lembra? Quem provocou tudo isso foi o Farrier por não saber impor limites ao filho. Aquele garoto cresceu pensando que pode ter todos seus desejos realizados. Quase chegou a desfiar nossos anciões uma vez. — Aquilo me surpreendeu.

Algo que Paul disse me chamou muito a atenção... Como eu fiz aquilo? E pior ainda, que poder é esse que fez o lobo obedecer? Por que minha mãe escondeu isso de mim por tanto tempo? Após terminarmos nosso desjejum, nos dirigimos para a biblioteca. Eu precisava me descobrir, entender quem sou e do que sou capaz. Logan, sentindo minha agitação, me chamou de forma mais reservada.

— O que está acontecendo, meu amor? O que está te incomodando tanto?

— Logan, você cresceu sabendo quem era. Conhecia suas limitações, compreendia sua força, sabia o que o futuro lhe reservava. Descobri hoje que tudo o que pensei que fosse era uma mentira. Eu não sei quem sou, nem o que posso fazer, do que sou capaz, absolutamente nada. Eu não sei nada sobre mim!

— Você está errada, Aurora. — Então ele me encarou. — Você é a mulher mais determinada que já conheci. Altruísta, generosa, poderosa, e não estou falando dos seus poderes. Você conquistou 5 lobos ferozes. Inclusive, um deles mantém as rédeas curtas. — Nesse momento, ele me abraçou sorrindo. — Não são esses poderes, ou o fato de descobrir que não é uma simples humana, que vai determinar quem você é, Aurora. Você já sabe quem é. Só precisa decidir o que fará com o resto.

Não tinha como não amar esse homem. O que imaginava viver antes, estava se tornando realidade aqui com ele. Ele não estava errado em suas palavras. Eu só precisava descobrir o que significava ser uma sacerdotisa e determinar o meu caminho dali em diante. O Sr. Cadman tinha uma biblioteca bastante abastecida, e agora dependia de nós encontrarmos as respostas. Ele me entregou um livro que falava sobre a minha raça.

"As sacerdotisas são mulheres dotadas de magia, seres psíquicos. Há séculos atrás, elas foram confundidas com bruxas e muitas foram mortas antes de conseguirem ativar seus poderes. Diferentemente das bruxas, as sacerdotisas só ativam seus poderes após a ligação carnal com um macho. Após a descoberta desse fato, muitas garotas começaram a ser vítimas de estupro e a serem mantidas sob o domínio de seres obscuros. Isso levou à morte da grande maioria delas, e apenas um grupo resistente permaneceu, embora seu paradeiro tenha permanecido desconhecido."

Aquilo me chocou completamente. Agora eu compreendia o motivo de tanto segredo sobre nossa comunidade. Não conseguia nem imaginar a angústia daquelas mulheres, servindo como receptáculos para serem exploradas e depois acabarem mortas. Que destino cruel era esse? Lágrimas escorreram pelo meu rosto, e uma revolta intensa tomou conta do meu coração. Por que mulheres tão poderosas permitiram que isso acontecesse? Decidi continuar lendo.

“As sacerdotisas foram mantidas separadas, e assim como acontece em todas as raças, seus filhos eram o ponto mais fraco delas, e eram justamente eles que eram usados para mantê-las obedientes e cativas. Até que uma sacerdotisa surgiu. A rainha Isolda. Que segundo relatos possuía uma ligação rara com um membro do clã dos dragões e com a ajuda de seu companheiro conseguiu a tão sonhada liberdade das sacerdotisas, que perceberam que juntas se tornavam poderosas”.

Será que era devido a isso que existia a regra do casamento entre membros? Dessa forma, todas se mantinham agrupadas e não tinha o risco de seus filhos serem usados contra elas. Mas uma coisa eu não conseguia entender, a regra do filho primogênito. Por que o companheiro do filho primogênito era escolhido pelos líderes? Mas a resposta estava quase no final daquele livro.

“Existem relatos sobre uma carta deixada pela rainha Isolda antes de sua morte, sobre uma visão que ela teve do futuro, relatando o surgimento de uma nova sacerdotisa com poderes ainda maiores que o seu. Essa sacerdotisa seria a responsável por evitar uma guerra entre raças, capaz de acabar com o mundo como todos conhecemos. Ela carregará uma marca, quase idêntica à que a rainha Isolda possuía. E será a filha primogênita de uma sacerdotisa. Adiante a marca da rainha Isolda”. 

No entanto, a página seguinte foi arrancada do livro. Mas foi provavelmente a partir daí que surgiu a regra do filho primogênito. Talvez nem todos saibam dessa informação, mas os líderes com toda certeza, sim. Tanto que normalmente escolhiam pessoas do alto escalão para casarem com os filhos primogênitos. Eles não poderiam caracterizar apenas as mulheres, pois ficaria muito visível que existia algo errado. Mas era possível discernir um padrão nisso tudo. Talvez eles quisessem ter esse poder em suas mãos. Eu precisava descobrir qual era essa marca.

— Encontrei o que estávamos procurando, mas a parte mais importante foi arrancada do livro. — Falei, olhando para minha família. Nesse momento, meus olhos começaram a queimar novamente.

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