Capítulo 16

Eu sabia que aquela tatuagem no corpo de minha companheira deveria significar algo. Meus pais sempre nos ensinaram que o conhecimento é a chave mais importante para tudo na vida. É o conhecimento que faz a balança pender tanto para o bem quanto para o mal.

— Mas por que esse dom só surgiu agora? — Ayla perguntou, curiosa.

— Porque as sacerdotisas só têm seus dons liberados após o acasalamento. Sua mãe provavelmente falaria sobre isso com você. — Meu pai explicou, encarando Aurora. — Elas não são como nós, que possuímos nosso lobo desde o nascimento. Apesar de que a transformação só acontece a partir dos 12 anos. O dom de uma sacerdotisa nasce com elas, mas fica adormecido até esse momento. Quanto à tatuagem, podemos tentar verificar se nos livros sagrados existe algo a respeito. — Nós apenas assentimos em concordância.

— Aurora, acho prudente que seu dom não seja revelado a ninguém fora de nossa família. Nunca ouvimos falar de nenhuma sacerdotisa atuando fora de um grupo. Normalmente, elas se protegem em conjunto. Aqui, você está sozinha. — Minha mãe aconselhou.

— Engano da senhora, mamãe. Idiota será aquele que tentar algo contra minha mulher. Ela nunca estará sozinha. Ela pode não ter o grupo dela, mas ela tem a mim, e espero que possa contar com vocês também. — Falei, irritado, só de pensar que alguém poderia tentar algo contra Aurora. Então, senti a mão de Aurora sobre a minha, o que acalmou meu lobo.

— Lobinho, eu entendi o que sua mãe quis dizer. E não é nada disso que você está imaginando. Sua mãe só quis dizer que meus dons podem despertar o interesse das pessoas erradas. Agora começo a entender por que éramos uma comunidade restrita e o motivo pelo qual não se permitia que ninguém de fora entrasse. Mas ainda assim, algumas regras que existiam lá continuam inaceitáveis para mim. — Aurora disse, e eu sabia exatamente ao que ela se referia... o casamento.

— Exatamente! Aurora já se tornou minha filha desde o momento em que você a escolheu como sua companheira. Ela faz parte da nossa família, e na família, cuidamos uns dos outros, não importa o que aconteça. Quanto menos pessoas souberem disso, menor será o risco que ela enfrentará. — Minha mãe concluiu, lançando um olhar afetuoso para minha esposa.

Alguém bateu à nossa porta, e minha irmã se levantou para verificar, retornando com a família Farrier, incluindo o idiota do Nilan. Meus pais então os convidaram para se juntarem a nós para o café da manhã, e eles aceitaram.

— A que devemos a honra desta visita? — Meu pai perguntou de maneira amigável ao Sr. Farrier.

— Viemos conversar com vocês porque nosso filho, Nilan, nos informou que encontrou sua companheira em sua família. — Naquele momento, todos nós olhamos para Ayla, que prontamente negou com a cabeça, deixando-nos confusos.

— Não é a sua filha, Cadman, embora não fosse uma má escolha. Estamos falando de sua convidada, a Srta. Aurora. — Nesse momento, um sorriso se desenhou em meu rosto. Balancei a cabeça em negação e olhei na direção do Nilan. Ele sempre demonstrava inveja de tudo o que eu tinha ou conquistava.

— Acredito que deve haver algum mal-entendido nisso, Farrier, pois Aurora é a companheira de Logan. Meu filho a marcou ontem. Uma companheira não pode pertencer a dois lobos, somos extremamente possessivos quanto a isso.

— Tenho certeza de que ela é minha companheira, pai! — Aquele idiota gritou com a maior cara de pau.

— Você sempre quis tudo o que era meu, Nilan, mas desejar minha companheira é completamente absurdo. — Disse encarando-o.

— Você é quem está se apossando do que é meu, seu idiota. Você sabia que eu a desejava antes mesmo de você a tomar para si. — Ele me acusou. Meu lobo estava enfurecido com tudo aquilo. Levantei-me, pronto para partir para cima dele, e ele também se pôs de pé.

— Parem vocês dois!

Aurora não gritou, mas todos sentimos a autoridade em sua voz, o que nos causou surpresa. Todos olhamos para ela, que continuava sentada. Nunca senti nada parecido, e aposto que todos ali também não.

— Vocês estão debatendo sobre mim. Nesse caso, acho que também tenho direito a opinar aqui. — Ela então encarou, aquele idiota. — Você acredita mesmo que o fato de você desejar algo te dar o direito de posse sobre ele? Você pode ser um lobo, mas eu ainda sou alguém com direito de escolha e eu não te escolho, porque não sinto nada que me ligue a você.

— Isso é desrespeito com meu filho, Cadman! — O Sr. Farrier gritou com meu pai.

— Não, Farrier! Desrespeito é o seu filho entrar em minha casa e desconsiderar o vínculo de companheiro entre meu filho e minha nora. Desrespeito é você achar que apenas o fato de seu filho desejar algo lhe dá o direito de vir aqui e impor sua vontade como se a garota fosse um objeto. Além disso, ela escolheu ficar com meu filho, então não há mais nada a ser discutido.

— Ela é apenas uma humana, ela não entende nosso vínculo! — Nilan gritou, ainda de pé, e antes que eu pudesse reagir, Aurora se levantou também.

— Sente-se! — Ela ordenou a ele, e ele simplesmente obedeceu. — Levante-se! — Mais uma vez, ele obedeceu. — Uma simples humana poderia te dar ordens assim, seu idiota? E mesmo que eu fosse uma simples humana, isso não te daria o direito sobre mim. — Nesse momento, todos observamos o olhar assustado daquele imbecil. — Nunca mais subestime alguém que você não conhece. Eu saberia se tivéssemos um vínculo de companheira com você. — Ela finalizou.

— O que você é? — Ele perguntou surpreso agora.

— Não importa o que ela é, meu filho. Essa humilhação não ficará assim, Cadman. Solicitarei uma retratação com os anciões. — Sr. Farrier falou encarando meu pai.

— Ótimo, Farrier, tenho certeza de que os anciões poderão esclarecer melhor a situação. Se eu estiver errado, farei questão de me retratar perante todos. Mas só faça isso se seu filho estiver realmente certo, pois se nada do que ele disse for verdade, registrarei uma queixa contra ele por tentar quebrar um vínculo sagrado, e você sabe qual é a punição para isso. Se ela não estivesse destinada a Logan, seu lobo não a teria marcado. — Meu pai olhou para a marca no encontro do pescoço com o ombro da Aurora. — Isso a teria matado.

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