Capítulo 17

Aline

Não sei o que me deu, mas quando vi a forma como a dona Yasmin ficou abalada, eu nem pensei duas vezes, quando vi já estava segurando o braço da falsiane e ameaçando partir aquela cara falsa em duas!

Fala sério, essa menina precisa fazer mais aulas de atuação, porque até eu que não sei da história, percebi que as lágrimas dela são as típicas "lágrimas de crocodilo", e olha que é proibido comer essa carne por aqui....

- Me solte! Essa... essa selvagem está me atacando! - a fingida sacode o braço, tentando se soltar.

- Eu solto se eu quiser, e para falar a verdade, não estou com vontade não. - dou de ombros.

- Minha oncinha... - vejo os olhos de Zayn brilharem na minha direção.

- Oncinha é? Eu te mostro a onça brava depois, porque você vai me explicar direitinho essa história, senhor Zayn. - estreito os olhos e ele engole em seco. - Agora, sua rapariga fingida, pode caçar teu rumo e dar linha na pipa! Bora, vaza!

A falsiane me olha, picando algumas vezes...

- Cunhada, ela não é brasileira, não entende o que você disse... na verdade nenhum de nós entendeu. - Aisha me olha, confusa.

Dou um suspiro e saio puxando a maluca pelo braço, e não é que a talarica me acerta um tapa... que erro mais feio!

- Como ousa tocar na minha zawja?! - pronto, agora acho que acordaram o leão adormecido.

Vejo Zayn se levantar, e não entendo, ele parece maior, mais forte e bufa exatamente feito uma fera que foi cutucada.

- Zayn... - eu o olho com calma. - Deixe que eu resolvo isso... - ponho a mão em seu peito, com carinho, e só então ele desvia o olhar furioso que estava sobre a tal atriz de meia tigela, e olha nos meus olhos, parecendo se acalmar. - Olhe e aprenda como lidamos com uma loba em pele de cordeiro..

Sorrio e me viro, vendo a falsa puritana enfim mostrar as garras...

- Sua mulher sem pudor, como ousa tocar no peito de um homem que ainda nem tem um compromisso com você?! Isso mostra a mulher baixa que é! - ela cospe no chão.

Ergo a sobrancelha, respirando fundo.

- Engraçado, pelo o que eu entendi dessa história, muito mal contada por sinal, você beijou ou se deixou ser beijada por um homem com quem sequer tem um compromisso ou um arranjo, como vocês dizem aqui... então, quem é a mulher baixa aqui? Hã? - me aproximo e ela estufa o peito... gostei, assim fica mais divertido. - Você bateu no rostinho onde minha avó beijou, e acredite, isso foi seu grande erro!

Estalo a mão com vontade na cara da palhaçada, que chega a virar o rosto, tamanha a força do tapa... caraca! Até minha mão ardeu!

- Oh... você... me agrediu?! - ela me olha, e depois olha os outros. - Vocês viram? Essa selvagem... - nem deixo ela terminar e carimbo um tapão do outro lado, que faz ela desequilibrar e bater com as costas contra a parede.

- Isso é para você deixar de ser mentirosa, falsa, cínica e parar de ofender os outros! - me aproximo e dou outro tapa, com toda a força. - E esse é porque você deixou a dona Yasmin passando mal, sua talarica, falsiane de esgoto!

- Sua... sua... - ela soluça, com a mão no rosto, já com a marca dos meus dedos.

- Vai continuar? Porque eu posso te bater o dia todo! - falo algo, já pronta para deixar a cara dessa abusada toda inchada de tanto estapear.

- Minha Line... - ouço a voz de Zayn e desvio meu olhar para ele.

- Com você eu me entendo depois! - falo, num tom baixo, mas ameaçador.

Logo vejo meu sogro... Aí meu Deus, eu chamei o sr. Harmud de sogro em pensamento... minha nossa!

- Levem a senhorita Al - Haroon daqui! - a voz grave do Sr. Harmud soa na sala e, aos gritos, a tal "senhorita" é levada para fora, por mais três mulheres.

Mesmo da sala, podemos ouvir gritos e uma voz de mulher praguejando contra a família Harmud e dizendo que isso teria represálias, que não ficaria assim, e outras coisas que eu não consegui entender, mas pelas caras dos homens à mesa, não deve ser coisa boa não.

- Me desculpem. - digo, soltando o ar, desanimada. - Eu... eu não queria causar problemas, agi por impulso e...

- Você agiu certo! - a voz forte do Sr. Yousef Harmud se faz ouvir. - Erga a cabeça, minha filha. - só então ergo a cabeça e olho para o homem mais velho, porém imponente. - Não curve sua cabeça, quando você está certa! Agiu em defesa dos nossos, agiu em defesa própria porque foi agredida e todos nós vimos, porém não intervimos pois notamos que sabe bem como se defender. - ele dá um pequeno sorriso, o que me deixa mais aliviada.

- Sinceramente, eu nunca apanhei, nem mesmo da minha avó quando eu aprontava. Então não acho justo essa moça vir, sei lá de onde, me ofender e ainda causar mal a uma família que me acolheu. - olho para a senhora Yasmin. - Está bem agora?

- Sim, minha querida filha, estou bem. - Dona Yasmim sorri e vem me abraçar.

Gosto do abraço dela, deve ser assim um abraço de mãe,porque me sinto bem, assim como me sentia quando minha avó me abraçava.

- Tenho uma nova filha que luta por mim com unhas e dentes, isso alegra o coração de uma mãe. - ela sorri. - Venha Aisha... - logo Aisha se junta ao nosso abraço. - Minhas duas filhas!

Me permito aproveitar esse abraço, e nele sentir o carinho que me faltava desde que vi minha avózinha partir.

Essa lembrança me dói, e me faz dar um longo e doloroso suspiro, porque ainda posso sentir o cheirinho bom da minha avózinha...

- Sei que não posso tirar sua dor, mas espero poder te mostrar, como muito amor, que você é muito querida por nós. - ouço a voz da dona Zaira, que também se junta ao abraço e beija minha testa. - Agora, você também é minha neta e vou cuidar de você, minha pequena flor.

É bom me sentir acolhida, abraçada em todos os sentidos da palavra, mas deixo um pouco esse momento de lado, pois não posso fingir não estar, no mínimo curiosa, para saber o que realmente aconteceu entre meu suposto noivo e aquela moça.

Em poucas horas, confesso que Zayn despertou algo em mim, e não sei se é somente atração física, pois ele é um homem muito bonito e isso eu não posso negar, mas também não posso definir o que sinto, pois nunca me apaixonei de verdade por alguém.

Me afasto gentilmente das mulheres que me abraçavam com carinho e sorrio levemente, mas é um sorriso sincero, de gratidão.

- Eu agradeço, de verdade, por todo o carinho. Acreditem, também sinto que estou em casa, por mais estranho que pareça. - digo e as três sorriem, assentindo, como se compreendessem o que eu quis dizer. - Mas agora... - desvio o olhar para Zayn, que me olha com receio. - Será que posso conversar com meu futuro marido? Pois dependendo dessa conversa, eu prefiro que não haja um casamento!

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