Capítulo 7

Zayn

Tomo um banho, visto uma roupa qualquer, e me olho no espelho. Estou horrível!

Olheiras enormes, barba maior, o semblante abatido, o que evidencia minha preocupação e minhas noites sem dormir direito.

Desde que tudo aconteceu, parece que meu mundo está ruindo bem diante dos meus olhos, e para piorar tudo, minha mãe continua no hospital e eu mal consigo olhar em seus olhos, tamanha a culpa que me corrói a cada dia.

Sei que não planejei, jamais faria isso, mas infelizmente, fui tolo e caí numa armadilha, hoje percebo isso.

Gostei de Hadassa por tantos anos e ela me enganou, me arrastou com sua voz doce e me deixei cegar pelos meus sentimentos.

- Se continuar assim, acabará com cabelos brancos bem antes do tempo! - me viro, ao escutar a voz do meu pai.

- Desculpe, meu pai. Não o vi entrar. - saio do banheiro e ele me abraça.

- Bati na porta várias vezes e você não abriu, imaginei que estivesse no banho, mas o encontrei com esse olhar perdido... não se culpe, Zayn!

Respiro fundo e me sento na minha cama, vendo meu pai se acomodar na poltrona e me olhar atentamente.

- É difícil meu pai... sinto tanta dor ao ver minha mãe naquele hospital e sabendo que fui eu o culp...

- Nem termine! - ele ergue a mão, sério. - Acaso mentiu para nós, Zayn? Beijou aquela moça? Armou toda essa situação para forçar um compromisso pois tem sentimentos por ela?

- Não, meu pai! Claro que não! - respondo, firme. - Tive sentimentos por Hadassa sim, mas sabia do compromisso dela e sempre a respeitei e me mantive distante. Se aceitei encontrá-la foi por um momento de fraqueza, mas jamais a beijaria.

- Então se é assim, você foi vítima, e não pode se culpar pelas consequências das atitudes maldosas dessa moça e sua família. - ele suspira. - Bom, eu tenho algo para te dizer...

- Pode falar, meu pai.

- A família Al- Haroon está disposta a tornar essa situação pública e nos deu alguns dias para aceitarmos casar você e Hadassa, e caso isso não aconteça, farão um escândalo! - meu pai parece preocupado

- Isso é um absurdo! Essa moça já tem um compromisso, meu pai, como podem fazer tal coisa?! - fico, indignado.

- Meu filho, o Sr. Al - Haroon é ambicioso, e eu paguei um bom dinheiro a uma funcionária que me garantiu que Hadassa concordou com todo esse plano, que eles estão executando a meses.

Começo a pensar...

- Há alguns meses Hadassa começou a sorrir para mim, e até mesmo se insinuar discretamente. Achei estranho, mas não tive maldade, até pensei ser impressão minha, pois ela parecia sempre tão séria e o compromisso dela é coisa certa.

- Era coisa certa, meu filho. - meu pai fala, desanimado. - Zayn, nós caímos em uma armadilha muito bem orquestrada por pessoas de má índole e ambiciosas, e agora eu estou vindo do Palácio, onde conversei seriamente com seu avô e encontramos uma solução que talvez possa nos dar algum tempo para resolver tudo isso... ou você prefere se casar com Hadassa? - ele me olha com receio.

- Pensei e quis isso por muito tempo, meu pai. Mas hoje apenas quero que ela e a família paguem por essa situação em que me colocaram.

- Que bom, meu filho. - ele sorri. - Vejo que as lâmpadas do seu juízo estão acesas, e isso é bom, pois vou precisar que seja paciente e compreensivo, encarando a situação como um todo e com sabedoria...

- Meu pai, está me deixando nervoso. Que solução o senhor e meu avô encontraram? - fico receoso.

- Bem... - meu pai respira fundo e me encara. - Você conhece nossos costumes e sabe que nossos casamento são feitos por arranjos. - eu assinto. - Também sabe que uma das formas de arranjos é pagando dívidas de gratidão e unindo famílias que nos ajudaram em situações difíceis.

- Sim, meu pai. Mas o que isso tem a ver com o fato de eu estar quase sendo obrigado a me casar com a moça que me acusou sem que eu seja culpado?! - solto o ar com força.

- Tem muito a ver, pois eles exigem um casamento, e você sabe que um segundo casamento só é permitido caso a primeira esposa não lhe dê filhos ou por aliança política ou de poder.

- Sim, meu pai, eu sei disso. Mas porque falamos em segundo casamento, se eu ainda nem sequer sou casado ou tenho uma noiva?!

- Não tinha! - ele me olha. - Seu avô e eu tivemos um amigo muito querido que nos ajudou muito quando a Oásis passou por aquela crise em que sua mãe precisou assumir a empresa, lembra dessa história que contamos a você e sua irmã? - eu assinto. - Pois bem, esse nosso amigo, um homem fiel e de boa conduta, se apaixonou por uma brasileira e se casou, indo morar no interior de Minas Gerais, um estado brasileiro.

Fico olhando meu pai, tentando entender o motivo dessa conversa, mas ele continua...

- Zayn, infelizmente esse meu amigo e sua esposa sofreram um acidente há 16 anos atrás e faleceram, deixando uma filha de 2 anos de idade, que foi criada pela avó materna, no Brasil. Essa jovem hoje tem 18 anos, e a avó acabou falecendo a dois dias atrás, deixando-a sozinha.

- Nossa! Coitada dessa moça... - digo, sincero. - Mas o que toda a minha situação tem a ver com ela? - fico curioso.

- Tudo! - meu pai olha nos meus olhos. - Eu e seu avô temos uma dívida de gratidão com o pai dessa jovem, e agora iremos cuidar dela e garantir que fique segura. Então, vimos a situação e resolvemos que ela será sua noiva e vocês se casarão o mais breve possível.

Me levanto da cama em um pulo.

- Meu pai, como assim? Eu irei me casar com uma moça que foi criada em outro país? Longe de nossos costumes e nossa cultura?

- Sim, você irá. - sua voz é firme. - Ela não conhece nossa cultura pois o pai faleceu quando ela era apenas uma bebê. Mas tenho certeza que aprenderá com o passar do tempo.

- Meu pai, isso é loucura! Sequer vi a moça, não aceitarei um casamento cuja noiva não entende nada sobre como ser uma esposa segundo nossos costumes! - encaro meu pai, que se levanta e respira fundo algumas vezes, antes de me encarar, sério.

- Seu casamento acontecerá, e sua noiva chega amanhã a tarde, então espero que reflita e aceite essa união de boa vontade, Zayn! - ele diz, firme. - Sei bem o que está pensando agora, acredite, eu já estive numa situação parecida quando me vi "noivo" de sua mãe. Julguei que meu casamento seria uma forma de punição dada a mim por seu avô, mas o tempo me mostrou que na verdade, meu casamento com sua mãe foi uma das maiores bênçãos que recebi em toda a minha vida! - ele aperta meu ombro com carinho. - Meu filho, essa jovem não tem culpa do que aconteceu com os pais, não tem culpa de não crescer com os ensinamentos sobre suas origens. Mas tenha paciência, receba a moça com carinho pois ela perdeu a única família que restou e agora deve estar se sentindo perdida, triste e sozinha. Sei que será difícil para ela, e pelo choque cultural, muito mais do que para você, mas não seja tão teimoso quanto eu fui, não encare esse casamento como uma punição, mas sim como uma nova chance, uma oportunidade de contruir um amor com alguém que pode se tornar muito especial na sua vida...

Respiro pesado. Não me imaginei casado com uma "estrangeira", pois apesar de ter um pai árabe, essa moça não deve saber nada sobre nós, nosso povo, como se comportar ou ser uma esposa dentro da cultura do nosso país.

- Meu pai... - meneio a cabeça, descontente. - Isso não será bom. Colocarei uma manada de elefantes nervosos em nossa casa! - bufo.

- Então seja paciente e amoroso, e transforme sua manada de elefantes nervosos em uma lebre dócil e gentil, com muito carinho e atenção. - ele dá um leve sorriso.

- Lebres são ariscas, Sr. Harmud. - reclamo.

- Se souber tratá-la com carinho, ela pode ser muito tranquila, futuro Sheik. - me adverte.

- Se não tenho opção...

- Sim, meu filho, você tem. - meu pai respira fundo. - Permaneça solteiro, espere esse escândalo vir a público, e se case com Hadassa, uma cobra traiçoeira que deu o bote sem a mínima hesitação, e está prestes a destruir, não só a sua reputação, mas manchar o nome da nossa família. Mas não espere o nosso apoio para essa união!

Vejo a seriedade mas também a tristeza nos olhos do meu pai.

Sei que ele só quer o melhor para mim, e nesse momento, se eu assinar o contrato de casamento com essa moça, ninguém poderá me obrigar a ter uma segunda esposa de imediato, e isso nos dará tempo para poder agir e provar que fomos vítimas de uma armação maldosa.

- Se essa é a melhor opção, então tudo bem, eu me caso com essa moça, mas não seremos um casal de verdade. Farei como manda a tradição, três dias de festa, faço questão de dar a ela alguma alegria depois do luto de ter pedido a avó recentemente, mas será apenas isso, um casamento de aparências. - dou um longo suspiro.

Meu pai dá um pequeno sorriso zombeteiro e eu o encaro, confuso, mas ele caminha até a porta do meu quarto, meneando a cabeça...

- Do que está rindo, meu pai? - questiono.

Ele se vira para mim e suspira...

- Estou impressionado como sua mãe tem razão. - franzo a testa. - Você.... você é igualzinho a mim! - ele sorri. - E por experiência própria, te digo que, quando menos esperar, algo mudará em seu coração Zayn, e você desejará fortemente fazer desse casamento de aparências, um casamento feliz e muito, muito real.

- Eu não acredito em amor a primeira vista, meu pai. - digo, sério.

- Eu também não acreditava, Zayn! - ele me olha atentamente. - Bom, te enviarei a foto de sua noiva. Quem sabe algo já move em seu coração...

Ele sai e logo meu telefone toca, indicando uma nova mensagem.

Pego o aparelho e quando abro a imagem, realmente sinto algo estranho...

- Aline Moreira Saad.. - digo, lendo o nome que meu pai enviou, junto a foto.

Uma coisa não posso negar... como é bela a minha futura zawja!

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