Capítulo 16

Viu o que não queria, Kamile e Paulo dormindo juntos abraçados aparentemente sem roupa para piorar tudo, muito decepcionada, foi voltando para trás chorando, entrou no carro sem falar nada, dirigiu até a cidade tremendo nervosa.

Na frente do mercado respondeu ao Pedro, que estava fazendo perguntas preocupado, ela apenas disse que só precisava confirmar e que as coisas mudariam, porque ela não era do tipo que simplesmente ia se fazer de cega o tempo todo.

Enxugou as lágrimas e foi fazer compras, ele ficou a tocando afetuoso o tempo todo, falando coisas para apaziguar a situação, que com certeza teriam uma boa explicação e que infelizmente, a vida continuava para os viúvos.

Ela o proibiu de falar sobre aquilo, demorou mais de duas horas pra rua, quando voltou estavam todos lá, Kamile, Paulo.

Amara entrou com as sacolas séria, disse oi, de um jeito que os dois sentiram, a decepção no olhar dela.

Trocaram olhares preocupados, Kamile foi atrás

- Porque não me avisou que viria filha?

- Tudo bem?

- Não vai me apresentar seu amigo?

Pedro estava apreensivo, foi se apresentando sozinho conversando, com poucas palavras Amara disse que estava se sentindo doente, o mentiroso tomou a frente, todo protetor

- Ela já vomitou duas vezes hoje, eu acho que está com virose.

- Ou foi algo que comemos.

- Porque não vai deitar um pouco?

- Eu ajudo sua avó!

Eles estavam próximos, ela encostou no ombro dele engolindo o choro

- É, pode ser. Mas vamos deitar comigo? Por favor.

Kamile já deduziu que estavam ficando, disse que ela ajudaria a Ana, quando foram para o quarto, Paulo falou que Amara estava estranha, Otávio disse que ela estava diferente, parecendo preocupada triste, que chorou várias vezes desde que se encontraram e que o Pedro chorou também, Kamile interrompeu confusa

- Como assim ele chorou Tatá?

Também preocupado com a irmã, ele contou tudo o que viu, falou que ela não estava comendo, logo ele saiu no quintal ficar com Alice que estava gritando o chamando, Kamile ficou mais confusa

- Ela vomitou duas vezes hoje e não está comendo direito.

- Não, isso não! Fazer o tratamento sozinha e esconder de nós.

Ana sorriu pensativa

- Ela não contaria de início por medo, esse rapaz me parece bom, fica todo do preocupado com ela de chamego.

- O meu Deus será que vou realizar meu sonho de ter um bisneto.

- Paulo César vai colher laranja lá que vou fazer um suquinho pra minha neta. Eu chego fica tremendo, o meu Deus.

- Abençoa minha menina!

Mais preocupado com a mentira deles, Paulo saiu foi no pomar, Kamile ficou na cozinha com aquela cara péssima toda tensa, Ana sabia o que estava acontecendo e já tinha dito para contarem a verdade para os filhos, mas os dois queriam ter certeza antes, de que realmente queriam reatar após mais de dez anos separados.

Amara entrou no quarto enxugando os olhos, puxou a cortina cobrindo a janela, deixou a porta entreaberta

- Vou tirar essa roupa, senta aí. Liga a televisão!

Foi se trocar no banheiro, colocou um vestido soltinho e tirou o boné que estava usando desde cedo, Pedro foi deitando encostado na cabeceira

- Vem ficar pertinho, eu quero conversar. Você quer?

Ela deitou abraçada com a cabeça em cima do tórax dele, resmungando que não queria conversar sobre nada.

Ele começou acariciar seus braços, costas

- Vamos brincar, jogo da desgraça. Eu fazia isso com meu primo, quando meus pais estavam se divorciando.

- É tipo assim, fala algo ruim sobre você e eu tenho que deixar pior, só que sobre mim. Posso começar?

- Minha mãe é bagaceira e eu tenho vergonha dela.

Ela resmungou desanimada que a dela morreu, ele começou falar sobre estar machucado, ter brigado com os primos atoa, ter perdido a melhor amiga de anos, ela interrompeu

- Não tem graça esse jogo. Só quero ficar quietinha!

Ele se mexeu pra pegar o celular que estava vibrando, a afastou sutilmente

- Tudo bem, vou fingir que vou deixar, você quietinha.

- Sabe eu já fingi muitas coisas, mais que era namorado, sem ser, nunca. É a primeira vez!

- Geralmente eu finjo que não sou é nada.

Ela sorriu revirando os olhos

- Eu sei que não devia ter te colocado no meio disso.

- Mas também nunca fui babá de um menino tão grande.

Ele mostrou o celular rindo debochado

- Ééé, um meninão beeem grande, mas deixa pra lá.

- Olha minha prima quer saber como fazer para entregar a doação?

Ela bateu nele com o travesseiro, deitou de costas querendo rir

- Pedro vai caçar o que fazer, eu tô nervosa aqui, e você com graça.

Ele foi quase deitando em cima dela com brincadeira, mostrando a mensagem da Maria, começou ameaçar fazer cócegas, tomou alguns beliscões leves, por causa das brincadeiras o cabelo dela soltou, ela estava rindo ainda que irritada, o afastando, mandando parar, pegou o celular dele para responder a mensagem com as informações, ele se aproximou carinhoso foi mexer no cabelo dela

- A Maria é muito gente boa, ela com certeza vai te ajudar com várias coisas. O pai dela tem loja né? Aí direto ele participa…

Silenciou alguns instantes, foi passar a mão notando que havia surgido uma falha maior e nova, ela percebeu se afastou repentinamente, foi prendendo o cabelo

- Toda ajuda é bem vinda, as crianças estão super ansiosas.

Ele puxou as mãos dela a impedindo de esconder com o coque

- Deixa eu ver! Você tá tirando ainda?

- Amara! Solta!

Muito constrangida com os olhos marejados ela insistiu se soltando

- Não é nada. Para por favor! Não Pedro!

Começou chorar sentida, ia se levantar até que ele a puxou para abraçar forte

- Desculpa! Tá tudo bem, não precisa se esconder de mim.

- Eu já sei de tudo, não vou brigar com você.

- Só quero te ajudar! Confia em mim.

- Pode desabafar, descontar sua raiva, chorar, só não faz mais isso, você é a mina mais durona e doida que eu conheço, a minha versão feminina, me deixa triste, real, sei que tá passando por muita coisa, mas precisa parar.

- Ouuuu, vai ser denunciada!

- Para a ddc, delegacia dos cabelos. É, tá achando que é brincadeira?

- Eu falaria com a minha mãe, por você.

- Sabe quanto custa um corte no salão dela? Caro!

Ela foi se acalmando, soltou o cabelo toda sem jeito

- Eu nem percebo, quando vejo já fiz.

- Ontem meus irmãos falaram coisas que eu não sabia, começaram discutir, Alice já está percebendo que tem algo errado.

- Imagina como ela vai lidar com isso? É muito nova e eu tô longe. Minha vó não tá bem…

Ele interrompeu a colocando sentada de costas

- Vou fazer um penteado. Porque você não se arruma e a gente sai um pouco?

- Pra poder conversar melhor?

Começou trançar o cabelo dela desde em cima quase fazendo uma trança embutida

- Às vezes ajuda ter uma opinião diferente, eu sou de fora, minha prioridade é você e eu minto perfeitamente, vou concordar muito, só pra agradar e fazer você se sentir melhor.

- Se quiser matar alguém, eu faço a cova.

- E se continuar cometendo esses crimes capilares, vou te denunciar.

Ela se acalmou, começou rir

- Delegado da ddc, hummmm, por essa eu não esperava.

- Talvez, eu continue, já que falaria com a sua mãe por mim!

Ana interrompeu batendo na porta

- Amara a vó fez um suquinho pra você, fresquinho!

- Tem ninguém sem roupa aí não né?

Ela disse que não, pediu para entrar, Ana ficou surpresa ao ver o que estavam fazendo, serviu os dois

- O que você tá sentindo filha?

- Quer que a vó faça uma comidinha diferente?

Amara agradeceu, disse que só estava enjoada, com dor de cabeça, afogou com a avó que a surpreendeu