Capítulo 9

Ele sorriu sem jeito

- Não, vou ficar aqui até ser adotado, tô bem de boa longe da minha mãe.

- Sinto muito por tudo isso, você é mó forte né?

- Mais do que eu imaginei, tô me sentindo um frango perto de você.

Ela colocou uma bala na boca dele

- Mais você é, franguinho de granja. Olha cuidado com oque fala, as crianças aqui, são diferentes, gostam de atenção, carinho, não seja chato.

Ele sorriu

- Já que estamos trocando confidências, não achei que você era esse tipo de pessoa, é tão patricinha, toda marrenta, porra doida, tô realmente surpreso.

- As crianças se aproximaram a abraçando, foram pegando os doces, um menino estava tentando pegar escondido, indo pelas costas dela, o Pedro estava sentado perto da mesa, falou oi, o menino o encarou invocado

- Oque é? Tá olhando oque?

Ela se virou o repreendendo

- Eiiii tenha bons modos. O Pedro é jogador de futebol sabia?

- O Bento ama jogar bola. Os doces, são só pra quem participar da aula!

Ele jogou os saquinhos no chão afrontoso

- Grandes coisa, essa porcaria, eu que não vo dança igual menininha.

Ele nem esperou o xingo, saiu correndo, ela foi pegando tudo do chão com ajuda de uma menina, falou ao Pedro que o Bento era muito difícil, ele brincou

- Sério? Nem notei. Conhece ele faz tempo? Porque tá aqui?

Ela pediu pra menina ir arrumar o som, começou falar baixinho

- Ele chegou fazem uns três meses, a mãe era usuária de drogas, foi morta a pauladas na frente dele na rua.

- Ela cresceu em abrigos, não tinha familiares e o pai dele morreu ano passado atropelado, também na frente dele, era catador de reciclagem.

- O Bento não obedece ordens, é mal educado e agressivo, ele não reage a castigo, não se importa com nada nunca, mesmo tão pequeno entende que não tem nada a perder.

Pedro ficou sentido

- Nossa é muita coisa, ele é só uma criança, que mundo louco né. Acha que ele vai me bater se eu for lá?

Ela disse que talvez, jogar pedras, dava pra ver o menino sentado sozinho no gramado não muito longe, o Pedro foi até ele com um saquinho de doces, ao se aproximar perguntou pra qual time ele torcia, foi ignorado

- Bento você não gosta de futebol? Eu falei para a Amara, que ia te dar uma aula de menino, só pra você não ficar sem os doces.

Ele o encarou debochado

- Aula do que se você tá machucado? Que bo.sta! Que time você joga?

Ele ofereceu o saquinho

- Pega aí, bora treinar e eu te conto tudo. Já pensou se eu jogar no seu time preferido?

Ele pegou o saquinho desconfiado

- Joga nada, fala logo. Como nóis vai treina sem bola?

Ele começou rir

- Aí aí você acha que jogador só fica correndo atrás de bola cara? A gente tem muito preparamento físico, academia, corre igual tonto todos os dias.

- Vai treinar igual jogador ou quer ir lá rebolar com elas?

- Porque a bala você tá comendo tudo.

Ele também deu risada

- Sai fora, sou menino, tá doido que vou rebola. Como que é pra correr?

Ele sentou no gramado, foi explicando, o Bento ficou entretido começou fazer, brincar, contou que o pai era jogador de futebol, mais depois ficou pobre, até virar catador de lixo, Pedro deu bastante atenção, se distraiu, quando a Amara terminou, se aproximou deles, o Bento não perdeu a oportunidade de afrontar

- Oque você tá olhando? Seu lugar é lá dançando igual tonta.

- Ae Pedro você vai volta mais vez?

Ele disse que talvez, ela sorriu

- Quer que ele volte Bento? O convide!

O menino foi se afastando

- Podia volta só ele, sem você, mó chata.

Ela deu a mão para ajudar o Pedro levantar

- Nem discordo sabe, sou muito chata mesmo. Espero que esteja mais calmo, as vezes eu acho que meu mundo tá caindo, aí eu olho a vida de pessoas, como essas crianças e percebo, que já tenho muito. Perder mãe e pai, dói demais, é um vazio uma dor, que não passa sabe.

Ele sorriu irônico

- Então deixa sua mãe pegar seu tio e fica de boa. Pelo menos são solteiros, não?

- As vezes eu me pego pensando nisso, a vida é muito breve né, hoje estamos aqui e amanhã, podemos não estar mais.

- Era pra eu tá assinando contrato, ia de seis sete mil pra sei lá, quinhentos ou mais. Por causa de um momento, é capaz de perder até os sete mil, desde novo a minha vida era essa, nunca tive registro de nada além de clube na carteira.

- Minha avó ficou doente e morreu em tipo seis oito meses, não teve dinheiro que a salvou. Eu sinto a falta dela todos os dias!

- Sabe pode me achar louco, mais eu queria fazer uma coisa, nunca tive coragem de comentar com ninguém isso, nem com meu primo.

Ela ficou olhando apreensiva

- Tá, manda aí.

Ele mostrou uma foto

- É meu pai e minha mãe, ela é negra, eu sou branco mais não pareço com ele, sempre fui loirinho, sabe eu acho que talvez, não seja filho dele e ele descobriu quando se separaram, por isso me deixa de canto. Queria fazer um exame de Dna .

Ela ficou muito surpresa

- E pra que? Olha sinceramente eu até entendo, mais não acho que vá ser legal isso.

- Que conversa pesada né? A gente precisa de uma consulta no psicólogo.

Ele começou rir mexendo no som do carro dela

- Do que eu preciso não é de psicólogo, engraçado que a mais chata, tem sido a mais legal.

- Sei que é seu trabalho, mais de verdade, valeu mesmo. Eu estava super mau e agora, pude por a cabeça no lugar. Queria conversar com a Belinha!

Ela apenas sorriu, ficou pensando no quanto o Pedro era apaixonado pela Belinha, o deixou na porta do hospital, ele agradeceu com um abraço apertado, ela se ofereceu para buscá-lo caso precisasse, pediu pra ele não ficar brigando com as pessoas.

A visita foi ruim, ele nem falou com a Belinha, se desentendeu com os primos. Foi para o clube de novo, passou o resto da tarde deitado na arquibancada, com o celular desligado, arrependido do que fez prejudicando os primos daquela forma.

Estava dormindo no vestiário do clube, quando foi acordado com um leve toque

- Ei, Pedro. Acorda! Não pode ficar aqui.

Ele despertou no susto

- Oque foi? Que horas são?

Amara se sentou perto

- Vai dar onze. Porque não me ligou? Podia ter ido pra casa.

Ele se sentou sonolento

- Eu não tô sendo boa companhia pra ninguém.

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