Capítulo 11

Ele percebeu

- Oque foi? É uma cicatriz?

Ela disse que não, se sentou prendendo um coque, ele insistiu a puxando para deitar

- Deixa eu dengar você um pouco também. Não precisa ficar assim, tá caindo muito?

Ela voltou deitar toda sem jeito

- Eu arranco. Olha não comenta com ninguém essas coisas, por favor. No trabalho.

- Já é difícil ter respeito nesse meio, não preciso de ninguém me achando fraca ou boba.

Ele voltou com o carinho

- Não não que isso, pode ficar tranquila. Você tá me ajudando muito, eu não vou falar nada.

- Você já procurou ajuda tipo profissional? Tá muito estressada né?

Ela disse que sim para ambas perguntas, super desconfortável logo prendeu o cabelo e deitou pro outro lado, quando o filme acabou ela deu boa noite, com beijo no rosto, abraço, foi deitar e o deixou confuso chateado, aquela Amara era diferente da que ele estava acostumado a ver, se pegou pensando em como nunca parou pra reparar naquelas coisas sobre ela, foi dormir e deixou a família preocupada sem notícias.

No outro dia, toda família dele foram a sua casa, organizar uma surpresa, fizeram até decoração, com bolo de aniversário e tudo mais, estava tudo ficando lindo como se fosse um aniversário.

Pedro estava dormindo ainda, Amara quase não dormiu a noite toda, levantou silenciosa cedo, passou pela sala reparando nele super a vontade só de shorts todo esparramado no sofá, logo começou preparar o café da manhã, bateu um bolo de fubá cremoso na mão para não fazer barulho, colocou para assar, junto com pão de queijo, que ela mesma fez a massa também, foi tomar banho, já se arrumou para sair, colocou vestido longo florido azul com borboletas rosas e amarelas, passou maquiagem forte, para esconder as olheiras de quem não dormiu.

Quando voltou, ele nem havia se mexido, ela começou arrumar a mesa, muito caprichosa com copos e talheres combinando, estava com o pensamento distante, cantarolando baixinho, ouvindo

" Coisas Que Eu Sei - Danni Carlos

Eu quero ficar perto

De tudo que acho certo

Até o dia em que eu mudar de opinião

A minha experiência

Meu pacto com a ciência

O meu conhecimento é minha distração

Coisas que eu sei

Eu adivinho sem ninguém

Ter me contado

Coisas que eu sei

O meu rádio relógio

Mostra o tempo errado

Aperte o play

Eu gosto do meu quarto

Do meu desarrumado

Ninguém sabe mexer na minha confusão

É o meu ponto de vista

Não aceito turistas

Meu mundo tá fechado pra visitação ... "

Ele levantou sorrateiro, a assustou entrando na cozinha

- Oi, bom dia ou boa tarde gata?

Ela quase derrubou um copo, começou rir, foi se aproximando para o ajudar

- Já é uma boa tarde campeão. Tudo bem?

- Tá se sentindo melhor? Dormiu bem?

Ele sentou na mesa

- Tô melhor sim, seu sofá me derrubou, de uma maneira boa.

- Tô renovado! Que cheiro bom. E você? Porque tá linda desse jeito?

Ela foi servindo tudo em um prato, sem nem perguntar se ele queria ou não

- Ahhhh, eu queria sair hoje. Mas já desisti. Come enquanto tá quente!

Ele ficou olhando reparando nela, toda feminina e delicada com vários acessórios, roupa mais comportada

- Porque desistiu? Tô te atrapalhando né?

Ela começou preparar o liquidificador, foi pegando um abacaxi para descascar

- Não, eu só desisti mesmo, coisa minha.

Ele disse que ia pegar o celular na sala, ela largou tudo

- Eu pego. Toma seu café da manhã reforçado.

Ele sorriu sem jeito com tanta gentileza

- Você comprou isso tudo? Tá acordada faz tempo? Porque não me chamou?

Ela foi pegar rindo

- Eu fiz tudo isso seu bobo.

Voltou com o carregador

- Tá sem bateria?

Ele ligou o celular

- Não muito. Eu deixei desligado mesmo.

Ela fez o suco, o serviu

- Vê se tá bom de açúcar. Eu sempre fiz bolos, quando era pequena amava brincar de cozinhar. Minhas duas mães deixavam, mas a Kamile gostava mais. Minha mãe Layla era toda, destoante.

Ele tomou quase o copo todo

- Tá muito bom, como todo o resto. Lembra de muita coisa?

- Da sua mãe Layla? Não vai comer comigo?

Ela sentou perto, só pegou dois pães de queijo

- Eu não tô com fome. Lembro sim, ela era muito muito divertida, me vestia de princesa e a gente assistia juntas, era tão bonita, lembro de a admirar, sempre maquiada, cabelo escovado, parecia uma famosa, meu pai e ela, eram tipo capa de revista, eu fecho os olhos e lembro, deles juntos, as risadas pela casa.

- Eu tinha quase cinco anos, essa fase marca muito. Eu não sei como, mais são tantas coisas, mesmo pequena eu entendia, lembro perfeitamente do dia em que a Kamile mudou pra casa pra ser minha babá, eu era terrível, a moça que cuidava de mim parou de ir por causa dos meus surtos.

- Em poucos dias, a Kamile estava fazendo as malas, minha mãe já estava bastante debilitada, ia ser internada pra morrer, e eu tinha entendido que ela estava doente, mais que ia morrer, eu não conseguia processar, ela inventou uma história sobre bichinhos que a deixaram doente, falou que ia virar uma estrelinha.

- Elas estavam tentando me animar como sempre, ajudei escolherem as roupas e entrei na mala, falando que queria ir junto, ela disse que sempre estaria comigo em meu coração, que me amava mais que tudo no mundo e eu surtei ; você não me ama, porque se me amasse, não iria morrer e me deixar sem mamãe, todo mundo tem mamãe.

Começou chorar chateada

- Naquela semana ela morreu e oque eu fiz foi brigar com ela e ir ficar com meu pai. Ahhh se eu pudesse voltar no tempo e abraçar minha mãe, pela última vez.

Ele se levantou foi abraçar ela

- Sinto muito pela sua perda. Você era muito pequena, não tem que se culpar por nada disso. Vai me mandar ir abraçar minha mãe?

Ela começou rir correspondendo ao abraço

- Vou! Obrigada. Poxa, fui pega na manipulação. Devo estar toda borrada né? Olha esse pé no chão!

Ele puxou a cadeira, sentou mais perto, foi limpando os olhos dela

- É, um pouco. Você se sente tipo, errada ou incomodada, por ter tido outra pessoa no lugar da sua mãe?

Ela foi pegando o prato e copo dele, colocando mais perto

- Sim e não. Quando criança eu supri toda minha carência de mãe, com ela. Parece história de novela, mas eu não aceitaria minha melhor amiga, casando com o meu marido viúvo em tão pouco tempo, mas, sem ela o que teria sido de mim?

- Eu só me pergunto se era real, o casamento, deles todos, porque tem muita coisa.

- Tipo, hoje adulta, eu vejo várias coisas que não via. Lembro que logo no começo, do relacionamento do meu pai com a Kamile, tinham muitas brigas, lembro de sentir como era a sensação de enjôo, dor de estômago, eu chorava até vomitar as vezes.

- Meu pai era tipo rude, não comigo, com ela. Eu tinha medo dele brigar, tipo machucar.

- Não consigo me recordar porque exatamente brigavam daquela forma, acho que o primeiro ano deles juntos foi assim, enérgico e estranho, tinham fases da gente sair separados, eu e ele.

- Ou eu e ela, com meu irmão bebê. Eu fiquei sempre dividida querendo todos juntos, quando você falou de fazer DNA com seu pai, eu pensei nisso. Fazer com meu irmão, ele tem umas manias que lembram meu pai e ele não parece com meu tio.

Ele enfiou um pão de queijo na boca dela

- Come! Como assim real? Acha que eram tipo amantes?

- Antes da sua mãe morrer? Ou trisal?

- Com certeza seu tio saberia, se não fosse o pai do Tatá.

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