Capítulo 12

Ela foi aceitando quase a força

- Eu não quero comer. Olha eu não sei, quando o Tatá ia nascer, meu pai estava pra casar com outra. Aquela lá não gostava de mim . Enfim, e se eles tinham caso? E minha mãe não sabia? Meu pai sempre foi bem de vida, e minhas duas mães não. Layla era humilde sofrida, quando casou fez a vida. Kamile era bem de vida, até perder os pais, ficou tipo na miséria e aí entrou em nossas vidas. Depois disso só subiu, estudou, trabalhou, com certeza meu pai a ajudava financeiramente quando ficaram juntos.

Ele foi enfiando uma garfada com bolo na boca dela

- Essas coisas são bem difíceis né? Acho que só sua mãe poderia te contar toda a verdade .

- Mas sinceramente, não te recomendo remexer no passado dessa forma, seu caso é bem diferente, envolve seus irmãos e tipo, já pensou em como sua mãe se sentiria?

- Sendo tipo confrontada dessa forma? Leva a minha como exemplo, egoísta, egocêntrica, me deixava largado pra ficar em festa.

- Eu me pego pensando, em como estaria hoje, com a minha avó viva. Não teria ficado perdendo tanto tempo com a Belinha, nem me machucado ou me queimado nas redes sociais como aconteceu.

- Me incomoda muito, ser acusado do que não fiz, dá vontade de sair socando geral. Eu ando tão estressado sabe?

Ela arqueou as sobrancelhas com ironia, pegando um pão de queijo e o servindo na boca atenciosa

- Uhum. Socando geral, o campeão está estressado.

Ele sorriu com maldade, beijou a mão dela

- Pô você pode ser minha parça no último, nível hard, mas bobeou te maceto bonito. Só pra te lembrar!

Ela começou rir debochando

- Aí aí campeão, eu já tive sua idade e toda essa energia. Isso tudo é ilusão e passa! Daqui alguns anos, quando sua bagagem emocional for bem maior, talvez você acorde em um quarto de hotel, com uma gata ao seu lado nua, exausto de horas e horas de sexo.

- Vai ter tudo, dinheiro, fama, mas vai se dar conta, de que não é o suficiente. Eu sou muito chata, só tenho apelidos negativos no meio da galera, fui criada cheia de regras, me acostumei a ser sistemática, doeu no processo mas eu encontrei o propósito.

- Faço terapia desde os cinco anos! Acho que todos deviam fazer, até você, principalmente nesse momento que está passando.

Ele estava prestando atenção

- Você já chegou nesse momento da vida? Que tem tudo e não é o suficiente?

Amara foi se levantando para pegar mais suco

- Sim e você só vai entender quando sentir. É um divisor de águas na vida.

- Mais relaxa que é um bebê, tem muita coisa ainda pra viver, errar e aprender, tudo no seu tempo e no de Deus, às vezes coisas acontecem e a gente não entende, fica sofrendo imaginando e se, mil possibilidades, como seriam as coisas todas diferentes.

Ele ficou a encarando fixamente sério

- É sobre aquilo, de ter filho né? Sentiu que a perda, te mudou?

Ela balançou a cabeça que sim

- É, eu tive de tudo, nem imaginava que ia querer tanto aquilo, não tão nova, perder meu pai me mudou muito, eu sou completamente apaixonada por ele, sempre fui.

- Eu ia ter tudo, dar um neto que ele tanto queria, casar, construir uma família que eu considerava certa, acredite eu queria ter uma vida padrão, sempre tive comigo que não queria ser mãe solteira ou ser aquelas que namoram, tem filhos e moram com os pais.

- Acho que por isso fiz questão de criar minha independência.

O celular dele começou tocar, ele pediu licença e atendeu

- Fala Bê, alguém morreu?

Ela foi arrumar a maquiagem no quarto, tirou tudo, o Bernardo falou que estavam lá reunidos o esperando, pediu pra ele ir pela Vick ( sua madrinha ) e as meninas, que tinham feito uma surpresa de boas vindas, ele ficou calado, irritando o Bê

- Vai vir ou não? A gente não é palhaço, sabe Pedro. Tá todo mundo se esforçando pela família, tudo você coloca a vó no meio, mas já parou pra pensar em como ela ia ficar, com você agindo assim?

Ele também se irritou

- Então sabe eu acho que vocês não precisam ficar na minha casa, me enchendo o saco. Eu só faço merda mesmo e vou continuar fazendo!

- Pode avisar pra geral que eu não vou. Esse é o problema de vocês! Não respeitam nada, o espaço um do outro, por isso sai tanta briga.

Bernardo estava conversando afastado do restante da família, ficou muito chateado

- É porque somos sua Ohana, ninguém vai te deixar sair. Você não precisa machucar a gente, porque está triste. Todo mundo aqui torce por você e sofre junto. Faça o que achar melhor!

Pedro desligou sem responder, se levantou foi até o quarto, encontrou Amara sentada na frente da penteadeira com os olhos marejados mexendo no cabelo

- Meu primo tá me enchendo pra ir embora, minha família tá toda reunida lá, pra comemorar não sei o que.

Ela ficou cabisbaixa evitando o olhar

- Vai lá fazer as pazes com eles, não tem porque ficar brigando a toa, pare de ser genioso. Se quiser eu te levo! Vou dar uma saída já já.

Super a vontade ele deitou na cama abraçando o travesseiro dela

- Ahhhh não quero, pra onde você vai? Eu não posso ir junto? Eii o que aconteceu? Te deixei na mesma vibe que a minha né? Desculpa!

Ela sorriu tentando esconder a tristeza

- Não é culpa sua. Eu to meio sei lá, esse cabelo tá me incomodando demais. Bobagem!

- Então, vai querer um vestido emprestado? Reage Pedro!

Ele jogou o travesseiro nela

- Eeeee cavala! Só vou pra casa se você for comigo, acha que é fácil ser eu? Não é gata.

- Joguei uma bomba e sai, meu tio brigou com todo mundo, inventaram uma história da minha prima ter usado drogas pra esconder que ela gosta de menina, tão querendo separar lá eu só piorei as coisas.

- O meu primo perfeitinho, foi dedurado e o pai dele caiu em cima. Tenho medo de mim as vezes sabia, de machucar as pessoas que amo, meus amigos, quando perco a cabeça, estou muito estourado!

Ela apenas debochou

- É? Vou arrumar a cozinha, e quando voltar te quero pronto. Ou eu vou e você fica! Olha o que te mandei, do evento das crianças.

Ele disse que ia se arrumar, passar os produtos dela, viu as mensagens sobre o evento, pedido de doações e postou nos status, se trocou rápido, foi arrumando a mochila guardando tudo, ela logo voltou começou passar corretivo escondendo as olheiras

- Só vou te levar, tá? Tenho que ir ver minha avó, ela não tá bem. Eu estava pensando sobre a fisioterapia, já devemos começar com tudo.

- Vou conversar com o técnico amanhã e marcar os horários certos. O começo é o mais difícil mesmo, sou bem sincera, mas você é novo, seu corpinho super saudável, em pouco tempo você vai voltar a ativa, tenho certeza.

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