Capítulo 15

Alisson lançou um olhar de gratidão a Noah, que assentiu em entendimento. Ele virou-se e tratou das formalidades em seu lugar. A enfermeira explicava com paciência.

— Sra. Alisson, nos próximos tempos, você passará por um tratamento longo. Os remédios quimioterápicos são administrados por injeção, e a cada sessão será preciso inserir uma agulha nas suas veias para infusão. Isso prejudica as veias devido aos efeitos dos remédios, e se for grave, ainda pode ocorrer vazamentos. Muitos desses medicamentos são corrosivos. Para evitar esses problemas, recomendamos que você tenha um catéter implantado no seu braço. Para garantir que os remédios entrem nas veias e alcancem todos os órgãos, será colocado uma via intravenosa com antecedência. A vantagem é que ela pode ser usada por um tempo prolongado, evitando a necessidade de procurar veias a cada sessão e os riscos de extravasamento. Porém, a desvantagem é que você não poderá levantar objetos pesados com esse braço no futuro.

Allison concordou com a sugestão da enfermeira e passou por um pequeno procedimento antes da quimioterapia, implantando um catéter no seu braço. Seu corpo tinha resistência a anestesia, então ela recusou a injeção. Quando a lâmina cortou sua carne delicada, ela apenas franziu a testa, sem permitir som algum. O médico comentou surpreso.

— É raro ver uma jovem como você suportar a dor tão bem.

Allison gentilmente falou com resignação.

— Ninguém se importa comigo, a quem eu mostraria minha tristeza?

Ela se lembrou do ano anterior, quando teve um parto prematuro depois de cair na água. Mesmo com anestesia, ainda sentia nitidamente a dor da lâmina cirúrgica cortando seu abdômen. Naquele dia, ela desmaiou de dor na mesa de cirurgia e acordou sentindo a dor novamente.

Enquanto isso, Justin esperava do lado de fora da sala de parto de Brenda. Ela gritou tanto que ficou rouca, mas mesmo assim, não conseguiu ver o rosto dele.

Desde então, ela aprendeu a suportar a dor em silêncio.

No segundo dia após a quimioterapia, os efeitos colaterais surgiram. Noah providenciou sua alta do hospital. O trajeto curto do quarto até o estacionamento subterrâneo foi interrompido por Allison várias vezes. Qualquer movimento a deixava tonta e enjoada, como se suas energias tivessem sido sugadas. Noah suspirou, abaixou-se e a pegou nos braços. Allison ficou pálida e nervosa.

— Noah, não...

Dessa vez, Noah não cedeu ao pedido e falou com firmeza olhando diretamente nos olhos dela.

— Sua condição física está muito frágil agora. Se você não aceitar minha ajuda, em consideração à sua segurança, terei que ligar para a sua família. E a única família que pode vir agora é Justin, não é?

Allison sentiu uma ironia profunda. Sem o divórcio assinado, ele ainda era, legalmente, seu marido. O "único parente" que poderia cuidar dela.

— Não. Não conte a ele.

Ela já estava em uma situação lamentável. Se Justin descobrisse que ela tinha câncer, provavelmente ficaria ainda mais feliz. Ela não queria ser humilhada por ele dessa forma. Com cuidado Noah, a levou de volta ao apartamento e sugeriu algo.

— Allison, você precisa de alguém para cuidar de você. Sua alimentação é um problema agora.

Allison assentiu e disse:

— Eu sei, minha amiga vai voltar para o país em breve, ela virá cuidar de mim. Noah, você precisa voltar ao trabalho, não vou mais te incomodar.

Noah olhou para o relógio, estava realmente ficando tarde. Ele ainda tinha uma cirurgia importante hoje, então deu algumas instruções antes de sair.

Sozinha na cama, Allison não conseguia descrever o que estava sentindo. Doía, doía em todos os lugares. Ela estava tonta, a cabeça girava e o estômago estava agitado. A ferida em seu braço também latejava.

Apesar de estar no mundo real, cada segundo parecia um tormento no inferno.

Ela não imaginava que, neste momento, a pessoa que mais desejava ver fosse Justin. Ela lembrou-se do ano em que teve apendicite aguda e ele a carregou em meio a uma tempestade de neve até o hospital.

Naquela época, ela era muito frágil emocionalmente, e ao ser levada para a sala de cirurgia, estava tão assustada que suas lágrimas não cessavam. Ele segurou sua mão firmemente e a acompanhou até a sala de cirurgia, onde o procedimento foi realizado sob seu olhar atento.

Mesmo após tanto tempo, Allison ainda lembrava da expressão quando ele disse:

..."Não tenha medo, estou aqui."...

Durante um mês após a cirurgia, ela não conseguia se levantar, e ele cuidou dela com grande atenção. No entanto, agora ele estava ao lado de outra mulher, cuidando do filho que era deles.

Allison repetia em sua mente a traição dele, a crueldade dele, ela precisava esquecer o lado bom dele.

Em meio à dor intensa, Allison se esforçou para levantar da cama. Ela mordeu os lábios e se convenceu de que conseguiria suportar. A verdade que ela ainda não havia descoberto estava esperando por ela, ela não podia morrer.

Ela pegou um punhado de arroz branco e, enquanto lavava o arroz, as lágrimas caíam sobre os grãos junto com a água corrente.

A dor mais intensa não era causada pela medicação penetrando em seus ossos, mas sim, pelo sentimento intenso por ele, como inúmeras facas que cortavam e rasgavam seu corpo, tornando a dor insuportável.

Durante três dias inteiros, ela sofreu em sua cama. Na manhã do quarto dia, sentiu que a dor em seu corpo diminuiu um pouco e sua cabeça estava menos tonta.

Com um som de deslizamento, a cortina foi aberta, revelando Noah, que vinha para cuidar dela todos os dias depois de sair do trabalho.

Ele trouxe ingredientes frescos e a tão desejada batata-doce assada.

Ele veio com pressa, com vestígios de umidade em seu casaco preto de lã e em seu cabelo, devido à neve. Quando ele abaixou a cabeça para avaliar o estado de Allison, ela viu um floco de neve ainda não derretidos em seus longos cílios densos.

— Está nevando? - Allison disse fracamente.

Noah assentiu:

— Sim, nevou à noite toda. Quando você melhorar nos próximos dias, vou te levar para ver.

— Está bem, acho que hoje já não dói mais tanto. - Allison se levantou com seu roupão grosso.

Quando ela se virou, porém, notou uma grande quantidade de cabelos caídos em seu travesseiro.

Mesmo que ela já tivesse esperado o resultado e tivesse cortado o cabelo curto especialmente para isso, neste momento, ela ainda sentiu um calafrio ao olhar.

Allison rapidamente puxou o cobertor para cobrir o travesseiro. Afinal, ninguém queria expor sua situação bagunçada diante dos outros.

Com um olhar preocupado, ela disse:

— Vou me arrumar primeiro.

Noah tinha visto inúmeros pacientes com câncer e sabia que, além do medo da morte, eles muitas vezes tinham dificuldade em encarar essa versão debilitada de si mesmos.

— Está bem, tome o tempo que precisar.

Allison fechou a porta do banheiro e olhou para o reflexo no espelho. Seu rosto estava marcado pela fraqueza, e quando ela puxou levemente seu cabelo, não precisou de muito esforço para um grande tufo de cabelo negro vir em sua mão. Ela não sabia o que sentir, mas teve medo.

Allison, afinal, era uma jovem bela como uma flor. Ver essa cena a deixou ainda mais angustiada.

Pouco a pouco, todo o seu cabelo preto cairia.

Ela precisava completar o processo de divórcio o mais rápido possível.

Allison não queria esperar até ficar completamente careca para se encontrar com Justin, se apresentando sem cabelo.

Finalmente, Allison pegou o celular e, ignorando as mensagens acumuladas nele, discou imediatamente o número de Justin.

Ela não fazia ideia de que, nos últimos dias, Justin havia estado procurando por ela.

O telefone não tocou três vezes como antes, ele atendeu assim que ela discou, com uma voz carregada de raiva:

— Allison, onde diabos você estava?

Ele a procurou por quatro dias e noites!

Allison não explicou, mas com urgência em sua voz, disse:

— Justin, daqui a uma hora, vou estar esperando por você no cartório. Não quero mais adiar isso, vamos nos divorciar.

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