Capítulo 15

Aquilo era loucura. Eu precisava marcar um psicólogo pra mim, não era normal. Olhei para frente, fitando o letreiro onde ficava as informações da comida que havia no lugar.

— Eu tenho. — Ela falou baixinho, mas eu fingi que não ouvi, apenas pra saber se ela estava firme nas suas palavras.

— Você disse alguma coisa? — Vi ela morder o lábio antes de apertar minha mão e repetir o que tinha falado.

— Eu tenho interesse no senhor… — Murmurou, abaixando a cabeça. — Me desculpe, eu sei que a gente nem se fala além do trabalho, mas…

— Pois eu também tenho interesse. — Murmurei, vendo-a ficar surpresa. — Anne, você não sabe o efeito que causa em mim.

— Eu… — Ela se recostou em mim, escondendo seu rosto entre meu braço e meu peito. — Eu acho isso loucura…

— Se eu disser… — Ri levemente, fazendo o corpo dela balançar. — Você não vai acreditar.

— No que? — Levantou a cabeça levemente, o suficiente para fitar meus olhos.

— Eu estou apaixonado por você. — Gostei de me abrir, um peso saiu de meus ombros. Ela arregalou os olhos levemente. — Mas quero fazer tudo no tempo certo. — Acariciei sua mão, que ainda estava entrelaçada a minha. — Vamos nos conhecer melhor.

— Sim… — Senti ela relaxar contra mim e segurei um sorriso, sentindo uma paz me invadir. — O que o senhor vai pedir?

— Logan você vai pedir o que? — Cantarolei, falando de mim mesmo em terceira pessoa, jogando a indireta.

— Logan, o que você vai pedir? — Refez a pergunta rindo.

— Um capuccino. — Molhei meus lábios. — E talvez algum salgado.

— Eu pago o meu, ok? — Indagou, pra nada, pois sabe que no fim, eu que vou pagar.

— Não vou fazer questão nem de te responder, Anne. — Ri, vendo ela revirar os olhos e bufar. Olhei para trás, e vi que a fila estava enorme. Aquelas pessoas iriam ficar muito tempo ali.

Vi Anne ofegar baixinho e voltei meu olhar para ela preocupado. Um homem de cabelos castanhos parou em nossa frente com um imenso sorriso no rosto, enquanto fitava Anne com os olhos brilhando.

Anne se encolheu ao meu lado, ajeitando sua postura. O homem parecia encantado em vê-la, como se não a tivesse visto durante muitos anos. Algo dentro de mim se contorceu, vendo aquela felicidade imensa em olhar Anne.

— Anne! — Seu sorriso se alargou, enquanto se aproximava mais dela. — Como...Como você está linda!

— Ah…Obrigada. — Ela parecia envergonhada e sem graça em receber aquele elogio. — A gente…

— Estudamos juntos. — Riu. Estreitei meus olhos fitando aquele homem de cima abaixo, o reconhecendo. Era Eddy, o cara que gostava de dar em cima da minha amiga, a qual eu amava. — Não se lembra de mim? Eu ficava tentando chamar a sua atenção na hora do intervalo…

— Ah… eu não me recordo muito. — Sorriu sem graça, e eu gostei de ouvir aquilo. — Desculpa.

— Você era amiguinha daquele riquinho, não se lembra? — Meus olhos se arregalaram. Eu estava em choque com aquela informação, se Anne era a menina que ele tentava chamar a atenção…

— Eddy Karter. — Minha voz saiu como um trovão, e eu sabia que estava sendo rude quando senti a morena ao meu lado se tremer levemente. — Quanto tempo.

— L-Logan? — Quando seus olhos verdes pousaram em mim, vi a felicidade sumir em segundos. — Você…

— É uma pena que a Anne não se lembre de nós. — Murmurei, antes de alternar meu olhar entre Anne, que se encontrava chocada, e depois fitei Eddy. — Mas eu me lembro muito bem.

— Cara… — Riu, coçando a nuca. — Me desculpe, eu não queria roubar a Anne de você naquela época.

— Imagine se não quisesse. — Meus braços rodearam a cintura de Anne, a trazendo para o meu corpo.

— V-Você... Você… — Anne começou a me fitar em choque, abrindo e fechando a boca direto. — Você…

— É. Eu. — Sorri levemente, apertando sua cintura. — Logan, o garoto que passou a ser seu amigo até os dezoito anos, quando você sumiu.

— Meu Deus… — Ela se virou de frente pra mim me olhando de cima abaixo. — Você era o meu…o meu…

— Sim. — Sorri, mostrando a única coisa que eu não conseguiria esconder dela por muito tempo. Meu sorriso verdadeiro. — Logan Muller, o seu melhor amigo que sempre foi apaixonado por você.

— Deus! — Ela se jogou em meus braços, chorando enquanto me abraçava pela cintura. Eu sabia o que ela estava sentindo, era como se a gente tirasse os sentimentos do cofre, que tanto sofremos pra colocar lá. — Você é o meu melhor amigo da infância? Aquele menino fofo que sempre me ajudava em tudo?

— Eu mesmo. — Ri. Eu estava feliz em saber que ela tinha se lembrado de mim, e não estava nem ligando em estar no meio de um shopping lotado, com um ex-colega de sala assistindo a gente se lembrar um do outro.

Eddy me fitou com raiva, antes de dar as costas e sair dali rapidamente. Deixei Anne o tempo que quisesse abraçada a mim, enquanto afagava seus longos cabelos pretos.

Ela continuava com o mesmo cheirinho de sempre, como se não tivesse mudado. E não tinha. Continuava a mesma, a diferença era que agora ela era uma mulher feita, mas isso não a fez deixar para trás suas qualidades.

— Anne. — Chamei, ainda afagando seus cabelos. Eu estava sorrindo que nem um bobo, sentindo suas mãos agarradas em minha blusa nas costas. — Qual o seu pedido?

— O mesmo que o seu. — Com a voz embargada ela me respondeu. Eu amei a sentir perto de mim novamente, como se ela tivesse esquecido de me tratar formalmente.

Fiz o pedido e esperei um pouco antes de pegar os dois e caminhar em direção a uma mesa vazia, com ela agarrada em mim. Eu não queria que ela me soltasse, mas queria que se alimentasse.

— Anne, querida. — A chamei, puxando uma cadeira para que ela se sentasse. — Coma.

— Hm…

Ela se soltou de mim, deixando uma sensação de vazio, e se sentou na cadeira que eu havia puxado para si. Puxei a minha para mais perto dela e me sentei, esperando ela começar a comer.

— A gente nunca mais se viu… — Murmurou, olhando fixamente para o lanche a sua frente. Aquilo me deixava com uma sensação ruim no peito, mas as coisas precisavam ser esclarecidas.

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