Capítulo 20

A viagem é revigorante, nem parece que estava trabalhando, até esqueci um pouco dos problemas que me cercam, infelizmente os dias praticamente voaram e já é hora de voltar para casa.

Respiro fundo e torço para que Lucas me deixe de lado, não quero me estressar mais do que esse assunto já está, não que eu tenha desistido de me vingar, mas preciso agir com cautela e organizar tudo que pode servir como prova desta traição.

Esse tempo longe de tudo me deu espaço para pensar e ver onde eu estava errando, agora com uma visão ampla farei o que é necessário ainda que para isso eu precise me afastar de Pedro.

— Oi meus amores, mamãe sentiu saudades! — Falo abraçando meus filhos que correram em minha direção ao me ver no portão.

— Oi, minha filha, espero que você esteja bem! — mamãe fala se juntando a nós.

Converso com ela e conto sobre como estou em paz com meu serviço, com a vida e prometo que eu vou alinhar tudo que falta o mais rápido possível.

Me despeço afinal já está anoitecendo e eu preciso descansar, pois a megera da Samantha não me deu um dia de folga como costuma fazer com as demais, mas isso eu já esperava.

Peço um Uber e coloco o endereço de casa, no caminho troco mensagens com Pedro, ele me convida para dormir com ele, mas é melhor evitar, na verdade eu já tinha decidido que não falaria mais com ele até que tudo estivesse resolvido, contudo é mais forte que eu.

Desço do carro e arrasto a mala para dentro, sorrio aliviada ao ver que o carro não está na garagem, espero que Lucas fique longe de casa o máximo de tempo possível.

— Oi Thamires! — Lucas fala e eu dou um grito de susto.

— Lucas? Eu... eu... pensei que você não estivesse em casa! — Falo assustada.

— Estava te esperando, te esperei ansioso por vários dias! — Ele fala se levantando e vindo até mim.

Meu corpo todo está em colapso, minha respiração fica falha, fecho meus punhos com força para canalizar minhas emoções, respiro pausadamente e me concentro em não perder o prumo.

— Eu tô falando com você Thamires! Me responde sua piranha! — Lucas grita e eu nas faço ideia do que é que ele está falando.

— Quem você acha que é para gritar comigo? Você não tem esse direito! Eu não te dou esse direito! — Eu falo com autoridade e coloco o dedo em sua cara.

— Então a vagabunda acha que por ter arrumado um amante agora pode cantar de galo? Vou te ensinar a me respeitar e a nunca mais mandar ninguém embora da minha vida! — Ele fala de forma agressiva, me colocando contra a parede.

— A única pessoa que eu tô tirando da sua vida sou eu mesma! — Respondo em tom de desafio.

— Eu estava falando da Silvia, mas isso já não importa! Você não pode me deixar, eu te amo...— Ele fala com um olhar melancólico e me beija com força e paixão.

Afasto Lucas de perto de mim, meu corpo ainda o deseja e meus lábios gritam por mais, contudo essa não é a vida que eu quero para mim, não é a vida que eu mereço.

— Entre nós não existe mais nada! — Digo e viro as costas para sair dessa casa.

Sinto uma mão me puxar pelo cabelo com força, me viro com avidez e avanço em Lucas que me segura, começamos a trocar agressões não só físicas como também verbal.

— Você não quer ser minha, não vai ser de mais ninguém! — Ele fala me enforcando no chão.

— Me solta Lucas! — Eu peço com a voz fraca.

— Pede socorro para o seu Pedro, cadê ele agora? — Ele debocha e começa a me dar socos no rosto.

A dor é tanta que já não estou sentindo mais nada, vejo as manchas de sangue se espalhar, minha visão cada vez menor e a voz dele cada vez mais longe.

Sinto socos e pontapés por todo o meu corpo, luto comigo mesma para me manter consciente e acordada, contudo é quase impossível e um apagão toma conta de mim.

Não entendo uma pessoa jurar amores e fazer tudo que Pedro está fazendo comigo, ele não tem o direito de me bater ao seu bel prazer. Essa foi a última vez que ele me bateu, eu nunca mais colocarei os pés nessa casa, ele nunca mais terá contato comigo ou com nossos filhos.

Abro os olhos com dificuldade, em minha frente há paredes brancas e nos pés da minha cama um jarro com flores, movo minha cabeça com dificuldade e não consigo enxergar ninguém aqui.

Não acredito que aquele maldito me bateu tanto que eu precisei vir parar num hospital, mas antes aqui do que num cemitério, ao menos agora eu tenho a chance de agir verdadeiramente.

— Não a force falar nem se movimentar, a visita deve ser rápida e qualquer coisa estamos aqui fora. — Ouço uma voz feminina falando e fecho meus olhos para não ter que falar com ninguém.

O aroma de perfume bom toma conta do espaço, sei que a pessoa é o Pedro, contudo ele é um dos que não quero dar satisfação sobre o ponto em que as coisa chegaram.

— Thamires, minha doce Thamires! — Ele fala segurando em minha mão.

Penso em abrir os olhos, mas ouço a porta ser aberta bruscamente, Pedro segura minha mão um pouco mais firme e um clima tenso se estabelece no ambiente.

— Que diabos você está fazendo aqui? Quem te autorizou entrar no quarto da minha esposa? E que ousadia é essa de segura-la pela mão? — Lucas pergunta alterado.

— Sua esposa? Acredito que há um equívoco, e quem não deveria estar aqui é o senhor, principalmente por ser o responsável por essa internação e por cada uma desses hematomas em seu corpo! — Pedro fala com raiva, mas em tom moderado.

— Eu vou chamar os seguranças para lhe tirar daqui!— Lucas fala caminhando até a porta.

— Faça isso, aproveita e chama a polícia para que possamos solicitar um exame mais apropriado para essas agressões, eu sei porque ela está justo nesse hospital, eu sei o porquê dos médicos não terem chamado a polícia no momento em que ela deu entrada aqui! — Pedro diz em um timbre ameaçador, solta minha mão e caminha até Lucas— Caso não saiba, eu sou amigo e sócio e advogado do marido da sua amante, basta a Thamires me pedir uma única vez e a vida dos dois está arruinada!

— Ela nunca teria coragem! — Lucas fala irritado e sai batendo a porta.

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