Capítulo 10

Entro no escritório, que é o único cômodo onde existe um mínimo de privacidade, Vivi não está com cara de muitos amigos, um medo cortante atravessa meu coração, será que Lucas disse algo que possa me prejudicar com a louca da Samantha? Não, ele não faria isso, não faria mesmo.

— Eu vou conversar com a Thamires, não com a Luna e se eu estou me dando ao trabalho de falar é porque eu me importo, menina você não tem juízo?

— Não estou aberta a sermões! — Respondo.

— Thamires, presta atenção na sua vida garota, você viu o que você fez hoje? A vida está te dando uma oportunidade de ser feliz e você não está valorizando. Menina o Pedro é milionário, aqueles presentes não fizeram nem cócegas no bolso dele, mas ainda que você não ficasse, que só pegasse e vendesse você teria mais dinheiro do que trabalhar um ano aqui— Ela fala e se senta em minha frente, visivelmente irritada.

Eu tento retrucar e falar alguma coisa a mais, contudo sou interrompida e lavada com as verdades mais doloridas que eu poderia imaginar, meus olhos lacrimejam e eu sinto uma aflição tomar conta de mim.

— Chega! Pelo amor de Deus, chega! — Suplico em lágrimas.

Vivi me abraça com carinho e ficamos alguns minutos ficou em silêncio, eu sei que ela só quer o meu bem e que tudo que disse é verdade, mas não estou pronta para essa conversa.

— Só me promete que vai pensar, agora vamos trabalhar antes que a Samantha chegue e nos dê uma advertência— Ela fala sorrindo.

Saímos da sala e Jaddy nos encontra no lobby, sentamos e ela até tenta arrancar alguma informação, porém eu me limito a dizer que tive uma pequena discussão com Pedro.

— Eu não acredito, você é louca? — Jaddy me pergunta eufórica e incrédula.

— Sim, ela é e você nem sabe o quanto! — Vivi complementa.

—Qualquer garota faria de tudo para cair nas graças dele, não acredito que você está jogando isso fora! — Jaddy fala, mas antes que eu diga qualquer coisa ficamos todas em silêncio, pois o telefone toca.

A prosa estava agradável, mas chega nosso momento de trabalhar, paciente para mim e para Jaddy, o que é ótimo, realmente preciso focar em algo que não seja o Pedro e nosso conflito.

No fim do expediente, Lucas chega para me buscar e eu até sorrio satisfeita por isso, Samantha está em seu escritório, veio para fazer o pagamento, os trinta dias mais difíceis da minha vida finalmente chegaram ao fim.

Jaddy sai feliz com seu pagamento, ela está juntando dinheiro para dar uma casa para sua irmã, é um motivo nobre.

Bom, na minha vez de receber, Lucas entra no escritório e me manda esperar do lado de fora, eu não acredito que ele vai fazer o que estou pensando, não mesmo.

— Até quando, Luna? — Vivi fala e nega com a cabeça.

Não respondo, hoje o dia já foi tenso o bastante e espero que não piore, muito tempo depois, mais do que o tempo padrão, Lucas sai com um olhar satisfeito, não consigo me recordar da última vez que o vi com uma expressão tão boa.

— Seu mês foi bom, contudo tem potencial para melhorar! — Lucas fala segurando minha mão e abrindo a porta do carro para eu me sentar.

— Isso é bom ou é ruim? — Pergunto confusa.

— Uma crítica construtiva... — Ele fala e volta sua atenção para o trânsito.

Seguimos o restante do trajeto em silêncio, eu espero que eu esteja enganada e que ele não esteja fazendo o que estou pensando.

Entramos em casa e a primeira coisa que faço e perguntar exatamente quanto eu recebi e óbvio peço o meu dinheiro, o que provocou a quinta guerra mundial.

— Lucas o pagamento é meu, eu quem fiquei alisando corpos o mês inteiro! — Digo revoltada.

— Não torra Thamires, você quer dinheiro pra que? Já não tem comida em casa? Nem roupa você não usa mesmo, seu serviço é pelada! E outra, eu estou com uma problemas aí e esse dinheiro vai me ajudar a resolver. — Lucas fala batendo a mão no bolso em que colocou o meu salário.

Sem pensar nas consequências, avanço em Lucas e tento pegar o conteúdo em seu bolso, ele me joga com força contra o sofá, mas insisto e me levanto tentando outra vez, ao que ele me agride violentamente.

— Seu defeito é afrontar e medir forças, você sabe como vai acabar. Eu te amo, não quero te fazer mal, se eu saio todas as noites é para não te pipocar na porrada.— Lucas fala acariciando o meu rosto, mas se levanta e sai de casa me deixando sentada no chão encostada no sofá.

Reflito sobre o meu dia e sobre a vida que estou levando, divago em pensamentos dos quais só saio quando minha filha me abraça.

Não posso deixar que meus filhos cresçam em um lar violento, não é isso que eu quero para a educação deles, vou conversar com minha mãe e pedir que ela fique com eles até eu resolver isso tudo.

Me arrumo e ligo para ela, peço que ela busque as crianças para passar a noite, melhor conversar sobre isso pessoalmente, óbvio que ela concorda e avisa que chega em alguns minutos.

Mamãe não concorda que eu continue com Lucas, e olha que não contei nem metade de tudo que ele anda fazendo comigo, mas ela leva as crianças e com muito carinho me pede para ter juízo.

Graças a Deus tenho uma rede de apoio, não quero nem imaginar como seria atravessar essa fase sem que ela me ajude. Me despeço deles com lágrimas nos olhos, mamãe me abraça forte e me dá um tapinha nos ombros.

— Da um jeito nisso tudo, não criei filha para ser pandeiro de malandro não! — Ela fala contrariada e sai.

Tomo um banho lavado em lágrimas, respiro fundo e me deito tentando dormir, não consigo, Pedro não sai dos meus pensamentos, espero de coração que ele volte.

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