Capítulo 5, Sentimento bom de saudade...

JULIANE...

O meu irmão chegou na pensão em que estamos instalados e fala sobre ter conseguido uma casa para ficarmos, mas que o dono pediu o aluguel adiantado.

JULIANE: Pague... Melhor do que ficarmos aqui na pensão.. O dinheiro acabaria mais rápido.

THIAGO: Tem razão, mas irmã... Temos que ficar atentos aqui. Pelo que parece o dono da casa onde vamos morar é o chefe aqui da comunidade.

JULIANE: Ele não cruzando o meu caminho...

Acabamos dormindo cedo, no outro dia o Thiago foi até o banco sacar o dinheiro do aluguel, pois achamos mais seguro entregar o valor em mãos do que fazer uma transferência pix. Quando o meu irmão chegou fomos até o mercado comprar coisas para a casa como a feira do mês, alguns medicamentos que já estavam faltando e também acertar a matrícula da Sophie na escola.

SOPHIE: Mamãe, titio, vamos para uma casa nova?

JULIANE: Sim, minha princesa.

SOPHIE: Que legal.

THIAGO: Pegou tudo no quarto?

JULIANE: Peguei.

Pagamos a dona da pensão pelos dias que ficamos e seguimos até o local que o tal Rafa falou que ia nos encontrar, nós resolvemos trocar o carro numa concessionária antes de virmos embora, então além do dinheiro que o nosso pai tinha em conta, a indenização paga pela empresa que ele trabalhava, o nosso próprio dinheiro que recebemos após pedir as contas... Ainda conseguimos um pouco mais de dinheiro por trocar o nosso carro que era quase novo por um mais antigo. Deixamos a nossa casa a venda, então...

Chegamos na rua que o Rafa nos guiou e para essas bandas as casas parecem mais "chiques" que a das outras ruas. O homem de moto parou em frente a uma casa bem bonita, olhei de onde ainda estávamos no carro e pude ver que tinha até mesmo um pequeno jardim.

JULIANE: É linda...

THIAGO: Gostou?

JULIANE: Gostei... Você já acertou com o tal chefe?

THIAGO: Não, vou lá acertar quando você conhecer a casa e disser que quer mesmo ficar com ela.

JULIANE: Tudo bem, vamos.

Entramos na casa e era a coisa mais linda, eu não imaginava que uma casa de comunidade fosse ser tão... Acolhedora. Sempre retratam as pessoas de comunidade como gente sem condições pra nada, mas essa casa é bem parecida com a nossa de Minas.

JULIANE: O que você achou, Thi?

THIAGO: Eu achei bem... Bonita e espaçosa, vale o valor que ele pediu.

JULIANE: Então vamos ficar. A Sofi também gostou, olha (aponto para onde a minha filha está e, ela estava no quarto de criança que tinha, a alegria dela era nítida)

THIAGO: Tá bom. Vou acertar tudo e volto (ele me dá um beijo) falei com ele pra arrumar um emprego pra mim... Ele disse que ia ver o que conseguia, o que ele achar pra mim... Eu vou aceitar, assim vamos ter com o quê nos sustentar.

JULIANE: Acho que... Acho que vou tentar encontrar uma escola que esteja precisando de professora... É melhor do que eu ficar trancada em casa...

THIAGO: Não precisa se não quiser, Ane. Sabe que eu consigo me virar pra sustentar a gente.

JULIANE: Mas não é justo só você guardar as suas dores e ir a luta... Somos uma equipe... Também é meu dever ajudar...

THIAGO: Não pensa muito nisso, tá bom? Não tô te cobrando nada. Só quero te ver bem de novo.

JULIANE: Está bem...

Ele me abraça e sai, eu fico olhando tudo na casa e sinto uma paz vinda do jardim, vou até lá e me sento na grama, uma brisa fresca passa balançando os meus cabelos, como se fosse o meu paizinho dizendo que vai ficar tudo bem. Sem perceber sinto uma lágrima descer pelo meu rosto, mas dessa vez... Dessa vez não doeu... Agora foi uma lágrima feliz.

JULIANE: Vou me levantar, papai... Vou lutar pelo senhor...

Fico mais alguns minutos no jardim e resolvo entrar, começo arrumar as nossas coisas no lugar, arrumo as do Thiago no quarto dele e encontro o relógio do papai entre as coisas dele, assim como a correntinha que ele sempre usava, fico olhando para aquelas peças, mas não sinto raiva do meu irmão por ter guardado isso. Me sinto uma péssima irmã por não ter notado a dor dele.

JULIANE: Estou sendo uma péssima irmã e filha...

Tiro mais algumas coisas das malas e tem a camisa preferida do papai, essa foi eu quem dei a ele num dia dos pais, abro um sorriso ao ver a roupa, guardo num lugar quietinho junto da corrente e do relógio. Olho o restante das coisas e só encontro o álbum de fotos nossas de quando ainda éramos crianças. Em algumas fotos tem a nossa mãe, em outras tem só o papai, outras é nós quatro.

Olho tudo com muita saudade, um aperto pequeno no peito me faz chorar, mas não permito que aquela dor insuportável tire esse sentimento bom de saudade. Lembro que o papai guardava uma caixinha com algumas coisas da mamãe, não me surpreendi quando encontrei ela nas coisas do Thiago. Então peguei a caixa e algumas fotos, pego também uns porta retratos que tem numas caixas que ficou na sala.

Coloco algumas fotos dos nossos pais, de nós quatro, da Sophie e espalho pela sala, vou até o jardim e encontro umas flores plantadas no chão, arranco algumas e coloco dentro de uma jarra com água, coloco em cima do raque da televisão e volto para o quarto do Thiago onde deixei as outras coisas.

Pego a caixinha com as coisas da mamãe e dentro tinha um colar dela, o papai falava que tinha sido a minha bisavó quem deu a ela, por isso ela gostava tanto, coloco em mim e termino de arrumar as coisas do meu irmão, deixo em cima da cama só a corrente do papai e o relógio dele.

Vou agora para o quarto da Sophie, chego lá e ela estava brincando com as bonecas dela, ela me ajuda arrumar tudo e depois me ajuda a arrumar o meu quarto, quando terminamos tudo o Thiago chega, já estava quase de noite, ele olha tudo ao redor e enche os olhos de lágrimas.

THIAGO: Vo... Você...

JULIANE: Tá tudo bem pra você se eu deixar as fotos aí?

THIAGO: É o colar da mamãe?

JULIANE: Quero que use o do papai. É uma forma de termos eles sempre conosco.

Ele vem até mim e me abraça forte. Eu retribuo com a mesma intensidade, somente nós dois entendemos a dor de perder os nossos pais dessa forma e, ter um pedacinho deles com a gente é só uma forma de fazer eles ficarem sempre vivos sempre conosco.

THIAGO: Eu te amo, Ane.

JULIANE: Também te amo, Thi.

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