Capítulo 18, Não há cura melhor que o amor...

JULIANE...

Não sei o que essa minha "relação" com o Gus vai dar no final de tudo, mas sei que se um dia acabar, a Sofi vai ser a que mais vai sofrer. Ver a sua alegria durante o dia inteiro, a forma fofa com que ela chamava o Gus de papai, aquilo me fazia sorrir e ao mesmo tempo me trazia medo.

Hoje quando deixei ela na escola, ouvi a felicidade com que ela contou aos amigos sobre ter conhecido o papai dela. A Tamara me viu de longe e veio me cumprimentar.

TAMARA: Olá. Como você está?

JULIANE: Oi... Sinceramente? (ela assentiu) parece que um caminhão passou por cima de mim enquanto eu dormia.

TAMARA: Noite difícil?

JULIANE: Está mais para fim de semana estranho...

TAMARA: A Sofi está alegre.

JULIANE: Ela conheceu o "pai" dela, no sábado quando fui buscar ela.

TAMARA: Por que usou as aspas?

JULIANE: O Gustavo não é o pai verdadeiro dela... Mas meio que me pediu para assumir essa responsabilidade... Ele gosta da Sofi e... Ele quer que eu dê uma chance a ele.

TAMARA: Sabe Ju, quando eu conheci o Marcílio, eu tinha passado por poucas e boas. Havia acabado de sair de um relacionamento abusivo que me rendeu 4 anos e 2 abor.tos... O Marcílio me contratou como babá da irmã mais velha dos gêmeos, ela tinha 3 anos na época. No início eu me sentia tão... Frágil cuidando dela, porque era a idade que a minha filha teria se estivesse viva.

Seguro na mão dela.

TAMARA: A Lorena me pediu para ser a mãe dela poucos meses depois que eu estava trabalhando lá. No início o Marcílio tinha achado um pouco estranho, mas entendeu que eu era a figura materna que a Lorena tinha na vida dela naquele momento, e que era normal ela se apegar a mim. Aos poucos ele começou a me incluir em tudo que dizia respeito a Lorena, tudo mesmo. Em pouco tempo como "mãe" dela, comecei ser vista por todos como a esposa do cobiçado Marcílio Vieira. Eu estava começando ficar incomodada com as mulheres achando isso, mas ele... Ele garantia que eu era sim, a esposa dele, pois se eu era a mãe da filha dele, e já me comportava como esposa. Então não teria mais como voltar atrás.

Eu ouvia a Mara falar e sentia o meu peito ficar quentinho.

TAMARA: O nosso primeiro beijo foi no aniversário de 4 anos da Lorena. Ela pediu uma foto com os pais dela, e nesse momento... Ele se aproveitou da oportunidade e me beijou, no início era só um selinho, mas... Ele pediu mais. Confesso que já estava apaixonada por ele, e foi nessa dia que ele me pediu em casamento. Não em namoro como se imaginava ser, em casamento. Os gêmeos nasceram no dia do nosso casamento. Não tivemos lua de mel, mas... Foi um dos dias mais importantes da minha vida.

Olho para ela e vejo lágrimas nos seus olhos.

TAMARA: Estou te falando isso, Ju, para você entender que muitas vezes o amor está bem na nossa porta, só precisamos deixar ele entrar. Se o Gustavo quis assumir esse compromisso de pai com a Sofi, não se negue a aceitar também o compromisso que ele quer assumir com você. Sei que todos têm o seu próprio tempo, a sua própria forma de curar uma ferida. Mas não há cura melhor do que o amor.

Agradeci a Mara pelas palavras e por contar a sua história. Dirigi até a escola, e quando cheguei lá os meus alunos estavam todos na sala me esperando, quando entrei na sala, eles correram para me abraçar.

JULIANE: Oi meus amores kkkk

GABRIEL: A senhora demorou fessora.

MILENA: Achamos que não vinha hoje.

JULIANE: Mas eu já estou aqui.

Eles sorriram e foram para as próprias cadeiras. A aula correu bem até o horário do intervalo, pois a Patrícia, diretora veio até a minha sala.

PATRICIA: Na minha sala, agora.

Franzi as sobrancelhas e fui com ela até a diretoria. Quando cheguei lá, ela foi até a cadeira alta dela, que deveria valer o dinheiro de pintar a escola toda. As suas unhas de esmalte em gel, absurdamente longas batiam freneticamente na mesa.

JULIANE: Já pode falar, preciso voltar para a minha sala em 7 minutos.

PATRICIA: Você está demitida!

Antes que eu falasse, a porta se abre, e ela já vira para a porta querendo gritar com quem entrou, mas pela porta entra o Gus, sorri discretamente e ele sorri abertamente para mim, mas logo fecha o sorriso e olha para a Patrícia que está praticamente tirando os peitos da blusa.

PATRICIA: Guga, que bom ver você. Eu estava justamente agora, dando uma lição nessa zinha aqui.

O Gus olha pra mim tentando descobrir o que ela fez, mas apenas dou de ombros.

GUSTAVO: Que tipo de lição estava dando a ela e porquê?

PATRICIA: Eu demiti ela (vejo os olhos do Gus praticamente brilharem de raiva)

GUSTAVO: Porquê?

PATRICIA: Por quê ela chegou atrasada hoje, e também, porque ela fica querendo dar uma de superior aqui dentro, criando regrinhas com as crianças. Ela chegou a pedir que eu compre um retro... Retro num sei o que lá, pra "dar" aulas, quando eu procurei o preço... Era muito caro, a escola não tem verba suficiente para cobrir.

O Gus olha pra mim, agora com a expressão confusa.

GUSTAVO: Aconteceu alguma coisa, pra você atrasar?

JULIANE: Precisei deixar a Sofi na escola, lembra que o Thiago viajou para nossa cidade natal pra terminar de fechar negócio com o casal que comprou a nossa casa?

GUSTAVO: Tinha esquecido. Qual o nome do negócio que você precisa pra dar aula?

JULIANE: É um retroprojetor. Ele é para ajudar na hora de passar os conteúdos, torna a aula mais dinâmica e traz mais incentivo para as crianças, tornando mais fácil o aprendizado.

GUSTAVO: Você sabe onde vende?

JULIANE: Em lojas de eletrônicos, eu acho.

GUSTAVO: Libere os alunos da tarde mais cedo hoje, aí nós vamos na rua e pegamos quando voltar da escola da Sofi.

JULIANE: Tá bom (abro um sorriso e vejo a Patrícia soltando fogo pelo nariz) tá tudo bem Pati?

PATRICIA: Tudo ótimo.

JULIANE: Vou voltar para a minha sala, os meus alunos já devem estar me esperando.

Me levanto de onde estou e vou em direção a porta, o Gus continuava parado perto dela, então dou um selinho demorado nele, que aperta a minha cintura.

GUSTAVO: Venho te buscar pro almoço.

JULIANE: Ok.

Não fiquei para ver a reação da Patrícia após essa demonstração de afeto, apenas segui para a minha sala, e como eu já esperava, os meus alunos estavam todos na sala de aula esperando por mim.

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