Capítulo 12, Minha mulher...

JULIANE...

Nunca fui a um baile, sempre fui mais fechada, preferia a minha casa à estar na rua, em festas... Mas aqui estou eu. Num baile de comunidade, dançando com uma garota tagarela.

BEATRIZ: Você quer algo pra beber?

JULIANE: Eu não bebo.

BEATRIZ: Eu acho que eles tem refrigerante, mas se não tiver posso pedir ao meu irmão pra comprar.

JULIANE: Eu também não bebo refrigerante. Desculpa.

BEATRIZ: Uau... Você é estranha (dou um sorriso pra ela) Esta gostando de dar aulas na escola?

JULIANE: Vai passar o relatório pra seu namorado depois? (ela me olha confusa) o seu namorado, vi quando você foi abraçar ele... Tem muito tempo que vocês estão namorando?

Ela continua me olhando com uma cara confusa. Será que eu me enganei?

BEATRIZ: Você tá falando do Guga? (assinto) ele é o meu irmão kkkk o meu futuro namorado é aquele ali (ela aponta para o Pardal) não vou passar relatório nenhum pra ele não kkkk relaxa.

JULIANE: Ah... Na escola está... Como posso dizer, complicado em certas partes e ótimas em outras.

BEATRIZ: Tipo o quê?

JULIANE: Bom..., as crianças estão gostando da forma como trabalho, percebi que eles estão mais focados depois dos incentivos que passo pra eles. Mas a forma como a diretora trata todos... É como se ela não se importasse com a escola. Está tudo caindo aos pedaços lá, menos a sala dela... Essa semana ela simplesmente viajou com algumas das professoras e os alunos ficaram sem aulas.

BEATRIZ: Meu Deus... Quanta irresponsabilidade. Acho que o Guga não tá sabendo disso, ele não tolera que as crianças fiquem sem aulas por motivos fúteis.

JULIANE: Bia, não fala pra ele. Sério... A Patrícia vai pegar no meu pé e não quero ser demitida.

BEATRIZ: Porque você seria demitida?

JULIANE: Ela me ameaçou ser despedida no meu primeiro dia lá. Disse que eu teria que seguir as ordens dela, se não era rua (a Bia me olha incrédula)

BEATRIZ: Me da licença um pouquinho, Ju.

Ela sai e eu fico ali olhando as pessoas dançar lá em baixo, vejo várias fumando, bebendo, se pegando literalmente, e percebo que estou fora da minha bolha. Nada disso me causa efeito de alegria, pelo contrário, só me faz querer voltar pra casa.

Sinto alguém se aproximar, mas não me viro para ver quem seja, pois o cheiro amadeirado me deixa inebriada, da pra sentir um pouco de cheiro de cigarro misturado, mas tá bem suave, como se já tivesse bastante tempo que ele tivesse largado fora.

A pessoa que está atrás de mim se encosta na grade ao meu lado, sinto o seu olhar me observar completamente, fazendo queimar a minha pele, sei que o meu rosto está vermelho de vergonha, pois nunca me senti tão exposta dessa forma.

JULIANE: Está me deixando com vergonha... (falo num fio de voz)

HOMEM: Não deveria ficar, você é linda.

Olho para ele e me deparo com o homem com quem o meu olhar cruzou alguns minutos atrás. Os seus olhos intensos, os traços fortes que marcam o seu rosto, tudo isso me chama a atenção. Analiso ele por alguns segundos e me dou conta de que ele é o irmão da Bia, e é o chefe do morro.

GUSTAVO: Está tudo bem? Você ficou pálida de repente.

JULIANE: É só que...

GUSTAVO: Está passando mau? Quer uma água?

JULIANE: Não... Foi só a sua presença que me pegou de surpresa...

GUSTAVO: Te assustei? (ele fala com a voz rouca e isso me causa arrepios)

Não respondo, apenas fico observando o homem ao meu lado. Será que ele está planejando me fazer de próxima vítima? Claro que é... E eu aqui na feito uma boba, achando que ele tinha visto algo de especial em mim.

JULIANE: Acho que já vou pra casa. Estou um pouco cansada...

GUSTAVO: Já? Não tem nem duas horas que você chegou. Aproveita mais um pouco.

Antes que eu responda ele, uma loira sobe no camarote e se joga nos braços dele, atacando a sua boca, não vou mentir, me causou um pouco de incômodo.

GUSTAVO: Quem disse que você podia subir aqui em cima, Ketlyn? (a garota olha pra ele com um bico parecendo criança quando não ganha doce)

KETLYN: Amorzinho...

GUSTAVO: Já falei pra não me chamar assim, agora cai fora daqui.

KETLYN: O quê? Porque?

GUSTAVO: Por que tô mandando, não te chamei aqui em cima.

Ela sai dos braços dele e olha pra mim com a cara feia, me encolho um pouco ao sentir o seu olhar sobre mim.

KETLYN: E você? Faz o quê aqui? Não sabia que professorinhas va.dias que se acham podiam ficar aqui em cima.

Não vi quando e nem como, mas a tal Ketlyn praticamente voou para bem longe quando terminou de falar, quando olhei para quem tinha feito sei lá o que com ela, vi o Eduardo e o Rafa segurando a Bia.

KETLYN: Você tá louca, sua pirralha mimada?

BEATRIZ: Eu vou te bater muito mais se falar isso de novo dela.

KETLYN: Só podia ser amiguinha sua. Isso não vai ficar assim.

GUSTAVO: Está ameaçando a minha irmã e a minha mulher, Ketlyn? E na minha frente? Você não tem medo do que eu possa fazer com você não?

KETLYN: S... Su... Sua mulher?

BEATRIZ: Isso que você ouviu, agora cai fora daqui antes que eu me solte desses dois idiotas e acabe com a sua cara.

A Ketlyn sai correndo, olho para o Guga e ele está com a cara mais lisa do mundo, como se não tivesse acabado de dizer que sou dele. Passo um sinal para o Thiago e saio de onde estou, começo descer as escadas, quando uma mão grande e forte segura o meu braço com delicadeza.

GUSTAVO: Pra onde vai?

JULIANE: Preciso ir pra casa... Não estou me sentindo bem.

GUSTAVO: Eu te levo. Não pode ir sozinha.

Olho pra ele tentando entender como aquele homem grosseiro de poucos segundos atrás se tornou esse homem carinhoso agora. Penso em recusar a sua companhia, mas tenho medo que ele possa fazer caso eu me recuse a deixar que ele me leve em casa.

JULIANE: Tudo bem...

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