Capítulo 06

Comecei encaixotando tudo que era meu. Terminei com três malas totalmente cheias de roupa e uma de sapatos. Assim que termino, a Camila chega com o humor alegre de sempre.

– Se você tivesse dito que iria viajar, eu teria me programado para ir junto. – Ela analisa as malas. – Para onde vai que precisa de tanta roupa? – Olho para ela envergonhada. Porque como advogada, uma das primeiras coisas que sempre dizemos a nossos clientes é que não assine nada sem ler.

– Estou deixando a cobertura, Camila! Preciso sair daqui. Recebi uma ordem para desocupá-la.

– Como assim? Isso aqui também é seu.

– O Matheus me sacaneou, me fez assina um documento pensando que se tratava de documentos da empresa. Não li e assinei. – Falo abatida para ela. – Eu só fiz papel de trouxa com esse cara.

– Não fica assim, Mirella. Você não imaginava que não poderia confiar no próprio marido. Você já tem onde ficar?

– Vou voltar para casa de meus pais, até encontrar um lugar para mim.

– Você pode dividir o apartamento comigo, não é como a cobertura, mas tem bastante espaço e pode ser divertido para nós duas. – Ela sugere.

– Você tem certeza? – Ela apenas confirma com a cabeça e com um sorriso no rosto, vindo até onde estou e me abraçando. – Obrigada, Camila! Mas preciso que você me ajude em uma coisa antes. – Pego umas etiquetas e um piloto. Ela me olha sem entender. – Vamos colocar preço em cada móvel e eletrodoméstico existente nessa casa. Você precisa de algo no seu apartamento?

– Ele estar completamente mobiliado e muito bem equipado.

– Então venderei tudo que estiver aqui. Ele pode ficar com o imóvel, mas terá que equipá-lo totalmente. – Ela me olha com um sorriso no rosto.

Não precisava financeiramente fazer isso. Mas seria uma vingança lucrativa por ele ter me sacaneado. Colocamos preço em tudo e tirávamos fotos. Criamos um bazar com nossos conhecidos e familiares, anunciando tudo por valores simbólicos. Confesso que foi uma tarde muito divertida.

Quando o último objeto foi retirado, a cobertura estava totalmente vazia, ficando apenas as coisas que realmente não tinha como se desfazer. Fui até a área de serviço e peguei duas latas de tinta e dois pinceis que estavam ali. Nem sei porque o Matheus havia guardado essas coisas, mas agora iriam servir. Entreguei o pincel a Camila e ela me olhou sem entender nada.

– Agora vamos dar a boas-vindas ao novo casal, escrevendo na parede as qualidades deles. – Agora minha prima tinha um sorriso diabólico no rosto.

– Estou amando sua nova versão de menina má, Mirella. Acho que o Matheus deveria ter conhecido ela antes.

Cada parede daquela cobertura tinha uma qualidade pertencente a eles dois... escroto, vagabunda, idiota, pilantra, megera, traíra, falsa, desonesto, oportunista... entre outros. Eles poderiam até ficar com o imóvel, mas teriam que investir uma boa grana nele se quisesse permanecer aqui. Sem falar que o vovô também suspendeu o pagamento que ajudava na manutenção da cobertura. Então aquele escroto teria que retirar tudo do próprio bolso. Vamos ver até quando ele consegue manter a vida que tínhamos juntos, sem as muletas dele, nesse caso eu e o vovô.

Sair daquela cobertura satisfeita, com a alma lavada e com a sensação de dever cumprido. Sem falar que com uma boa grana na conta bancaria. Minha prima tinha se divertido horrores, tanto com as vendas dos objetos, quanto com as pinturas das paredes. Fomos para o apartamento dela e agora precisava apenas aguardar pelo emprego que o vovô havia me prometido. Enquanto aguardava começaria a trabalhar nos esboços das joias que eu criaria. O Matheus ia ver que foi um erro me subestimar. Não existe nada mais perigoso que uma mulher traída e passada para trás. O interessante foi que não demorou para eu receber notícias do Matheus.

“Que merda foi essa que você fez na cobertura? Cadê toda a mobília daqui, sua louca? ”

“Bem, a ordem que chegou era para desocupar a cobertura, foi o que fiz! Que eu saiba, o documento que assinei passava para você apenas o imóvel, não o que estava dentro dele. E achei super fofo as pinturas das paredes. ” – Recebi uma nova mensagem com vários emojis do dedo do meio.

“Pegue esses dedos e enfie no rabo da cadela no cio que você estar pegando agora, seu otário! Desejo felicidades ao casal! ” – E coloquei alguns emojis para ele.

Alguns dias haviam se passado, estava sendo divertido dividir o apartamento com minha prima. Cada uma tinha seu próprio quarto e ainda tínhamos um quarto de hóspede. Camila tinha um horário flexível na delegacia, e o fato de seu trabalho ser próxima a seu apartamento, facilitava ela vir para casa todos os dias fazer suas refeições. Então como ainda não estava trabalhando, me ocupava com esse tipo de serviço, sem falar que minha prima elogiava demais minha comida. Camila, ela um verdadeiro desastre na cozinha.

– Mirella, vamos sair mais tarde! Marquei com as minhas amigas no barzinho super badalado que abriu no centro. Quero te apresentar a elas, e pode ter certeza que nenhuma é fura olho como a Katiane. Então, já prepare seu vestido mais sexy, porque a noite é uma criança.

– Camila, não estou muito animada para barzinho. Você pode ir com suas amigas, não precisa ficar presa aqui por minha causa.

– Você percebeu que fiz uma afirmação e não uma pergunta? Então, não me venha com desculpa. Cadê aquela Mirella que vi na cobertura outro dia? Pois bem, vista ela e se prepare. – Ela me olha com um sorriso no rosto.

Durante todos esses dias o que estava me deixando triste não era o fato de não ter mais marido, ou de minha vida ter mudado completamente. Era o fato de não ter um emprego. Havia passado no vovô dias atrás e ele disse estar tudo certo para em breve eu começar a trabalhar, mas que eu teria que ter só mais um pouco de paciência, porque seu amigo estava abrindo a nova filial de sua loja. Porém, ainda não tinha data certa. Sempre fui uma pessoa ativa. Desde que me formei como advogada nunca deixei de trabalhar, a não ser nas férias, e ainda assim, durante esse período fazia cursos na área de designer de joias. Então esse tempo parado estava quase me enlouquecendo e meu humor havia mudado consideravelmente.

Próximo ao horário que a Camila chegava, tomei um banho e comecei a me arrumar. Quando a Camila entrou em meu quarto e olhou a minha roupa em cima da cama, ela fez uma cara terrível.

– Você não estar pensando em ir com isso, estar? – Ela perguntou.

– Qual o problema Camila? – Perguntei sem entender.

– O problema é que essa roupa apenas sinaliza duas coisas: “Sou casada, fique longe! ” e “Não estou a fim de dar, mantenha distância! ” – A cara que ela fazia no momento que falava as frases foi impagável. Eu dei uma verdadeira gargalhada.

– Na teoria realmente ainda sou casada e, na prática, não estou a fim de dar. – Digo para ela depois que consigo controlar o riso.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***