Capítulo 14

Mirella Martins

Nos dedicamos ao máximo para que as joias fossem confeccionadas o mais breve possível. Tínhamos algumas joias que eu não tinha visto em outras joalherias por aqui, mas o Sr. Afonso queria algumas peças realmente exclusivas apenas de nossa loja, algo que ninguém pudesse ter igual, e apenas uma peça de cada. Aquelas seriam as peças mais cara da loja. Ele não queria apenas conjuntos completos, com brinco e colar, ele queria pulseiras e anéis também, principalmente os anéis de compromissos que seria nosso carro chefe.

Apesar de aberta, a loja não havia tido uma festa de inauguração, e após as joias prontas seria o momento ideal para isso. Tive uma ideia para alavancar a loja, mas precisaria expor para o Sr. Afonso e não sei se ele concordaria com meu plano. Mas precisava tentar, era a oportunidade ideal para o início da minha vingança contra o Matheus. Fui até sua sala e bati e quando escutei a permissão para entrar, entrei.

– Sr. Afonso... – Então ele me interrompe.

– Você me acha velho? – Apenas nego com a cabeça. – Imaginei que não, então pare de me chamar de senhor, porque é assim que você me faz sentir. Me chame apenas de Afonso. Te dou liberdade para isso.

– Tudo bem, então, Afonso. – Ele tem um lindo sorriso no rosto. – Preciso contar uma coisa para você, porque tenho uma ideia para a festa de inauguração. Recentemente, um pouco mais de um ano para ser exata, abrir uma joalharia com meu ex-marido, aquele homem da boate. – Ele me olha surpreso, mas nada fala, me deixando continuar a história. – Porém, ele me passou a perna. O que ele não sabe é que tenho cadastrado dos clientes em minha nuvem. Então queria pedir permissão para enviar o convite da inauguração da loja para eles também. Acredito que quanto mais pessoas alcançarmos, melhor será. E eles já são potenciais compradores.

– Por qual motivo você quer fazer isso, Mirella? – Ele me pergunta e parece que consegue ler a verdade em mim, então sei que não posso mentir.

– Meu principal motivo é vingança, não vou ser hipócrita mentindo. Mas minha intenção também é fazer a loja crescer, afinal quanto mais vendermos maior será nossa comissão, estou certa?

– Sim, estar! Mas fico receoso sobre a vingança. Você ainda sente algo por ele e por isso quer se vingar? – Ele pergunta me analisando.

– Não sinto mais nada por aquele cretino. Minha vingança é apenas por ele passar a perna em mim e ter tomado todos os meus bens, inclusive me fazendo perder o emprego que eu tanto gostava e que batalhei tanto para conseguir, como advogada, numa empresa de renome. – Ele me olha surpresa.

– Você também é advogada, além de ser designer e ter tanto conhecimento na confecção das joias? O que você é, a mulher maravilha? – Ele me pergunta rindo e me fazendo rir também.

– Sempre amei estudar, então nas férias do trabalho comecei a fazer cursos de designer, já que a segunda coisa que mais amo é desenhar joias. Passei a me aprofundar no assunto.

– Percebo que você é muito dedicada ao que se propõe a fazer... inclusive na vingança. Desde que essa vingança não interfira na loja, farei vista grossa e não darei importância a isso, já que isso pode significar prováveis compradores para nossas joias. Passarei o convite para seu e-mail e você o distribui, pode ser? – Ele me pergunta e tenho o maior sorriso no rosto.

– Perfeito! Hoje mesmo enviarei todos os convites. Agora deixe-me terminar e averiguar como anda a confecção das joias para nosso lançamento. – Me levanto saindo dali.

A festa aconteceria numa casa de leilão muito conceituado e de excelente segurança, afinal as joias valiam pequenas fortunas. Apenas as pessoas convidadas pela loja, teria acesso à festa. Nesse dia seria leiloada algumas de nossas peças exclusivas. Então diante disso, não apenas duas peças minhas foram confeccionadas, mas quase o triplo. Fiquei feliz que o Afonso tivesse enxergado meu potencial e confiado no meu trabalho. Normalmente essas peças exclusivas a loja só criava em pequena escala, uma ou duas no máximo, ou por encomenda. Apenas anéis de compromisso eram feitos em escala maior, porque esses eram vendas garantidas. As peças exclusivas eram peças de alto valor aquisitivo e de beleza única. E o valor de cada pedra era determinado por um conjunto de fatores, entre eles, a intensidade da cor, a pureza da gema, lapidação, raridade na natureza e seu tamanho claro. Mas às vezes uma pedra menor, mas de cor pura e intensa, poderia valer mais do que uma grande pedra sem as mesmas características.

Eu tinha outro plano na manga, algo que o Matheus nem se quer sonhar que eu possuía, o contato de seus melhores fornecedores desse tipo de pedras. E já havia entrado em contato com todos, informando que poderia fazer uma oferta melhor pelas pedras do que o Matheus e que em breve talvez o Matheus não conseguisse honrar seus compromissos, já que suas peças mais exclusivas era eu que desenhava e não estava mais trabalhando com ele, mas que já tinha outro empregador e se eles me dessem a oportunidade, também daríamos preferência a eles.

Nesse meio tempo, numa das visitas que fiz ao vovô Sales, ele me perguntou se eu já havia entrado com o processo de separação. Segundo ele, gostaria de me deixar um presente em seu testamento, mas que não queria que o neto tivesse parte disso porque éramos casados. Porque ele tinha certeza que o neto faria questão se houvesse a possibilidade de partilha, mas se recusou a me dizer o que era. Então me perguntou se ele poderia falar com seu advogado para dar entrada nisso, simplesmente concordei. Apesar de ser advogada, não queria ter contato direto com o Matheus, preferiria pagar outra pessoa para isso, então aceitei a ajuda do vovô. Passei os documentos para ele, inclusive uma procuração autorizando que a empresa de advocacia me representasse.

Apesar de ter meu próprio escritório na Crystal, não gostava de ficar nele. Normalmente estava na produção com meu caderno e criando novas peças. Percebi que o Afonso vez ou outra ficava por lá também e pegava muitas vezes ele me olhando, mas em nenhum momento ele havia tentado se aproximar mais do que o necessário de mim. Porém, sendo sincera, se ele não confundisse as coisas, gostaria que ele tivesse tentado. Estava com saudades daquele deus grego na cama, na forma como ele me fez gozar com sua boca, estava necessitada de seu membro enorme e grosso em mim. Comecei a fantasiar com meu chefe.

– Você estar bem? – Me assusto quando ele pergunta enquanto estava divagando por assuntos inapropriados.

– Por que não estaria? – Volto meu olhar para o caderno, tentando disfarçar meu constrangimento.

– Bem, você estava com uma cara diferente. – Ele fala sorrindo.

– Diferente como? – Pergunto, mas não olho para ele. Então ele faz de conta que vai sair e se aproxima por trás de mim, quase colando nossos corpos.

– Cara de prazer, mas não prazer em desenhar, outro tipo de prazer. – Ele fala bem próximo ao meu ouvido.

Será que eu era um livro aberto para esse homem? Como ele conseguia fazer uma leitura tão perfeita de mim? Fico sem saber o que falar, porque se eu negar ele vai saber que estou mentido e afirmar não estar nos meus planos. Então simplesmente o encaro e saio dali. Ainda bem que a maioria dos funcionários estava em horário de almoço e não ali. Mas acredito que ele fez justamente isso por conta desse detalhe. Ele jamais constrangeria nós dois na frente dos outros funcionários, ou pelo menos preferia acreditar nisso.

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