Relação estabelecida

Depois que tomaram o café da manhã, Adriano dispensou a babá e se trancou no escritório, enquanto Júlia foi com Isabelle ver os seus peixes no aquário. As duas ficaram um tempo enquanto Júlia apresentava os seus peixinhos para Isabelle ainda apreensiva.

Júlia: Isabelle, eu não quero você tomando o lugar da mamãe e também não quero uma madrasta ruim. Você não vai ser má comigo, né?

Isabelle: Claro que não. Seremos amigas se você quiser, mas vamos com calma, tudo no seu tempo.

Júlia: Tá.

Elas deram ração para os peixes e em seguida saíram e foram para o gramado do jardim.

Júlia: Podemos brincar de bola?

Isabelle: Quer dizer, jogar futebol?

Júlia: Sim. Você sabe jogar?

Isabelle: Um pouco, mas agora acho que não vai ser bom, está muito quente. E se a gente fosse ver um filme?

Júlia: Tá, eu estava vendo uma série na Netflix e queria continuar.

Isabelle: Demorou, vamos lá.

As duas caminharam lado a lado conversando. Isabelle notou que Júlia era madura para a idade dela. A crise de ciúmes do pai era apenas um mecanismo de defesa e coisa de momento.

Adriano estava no escritório e viu a conversa das duas pelas câmeras e estava incomodado, pois a menina que de manhã não queria ver Isabelle estava agora grudada nela por livre e espontânea vontade.

Júlia: Isabelle, eu vou te chamar de Isa.

Isabelle: Ok. muitas pessoas me chamam assim. Eu vou te chamar de Juju. Pode ser?

Júlia: Claro, mas é que as pessoas costumam me chamar só de Ju.

Isabelle: É que a minha irmã se chama Juliana e eu a chamo de Juh, você vai ser a Juju.

Júlia: Tá bom.

Isabelle: O que vamos assistir? - Falou enquanto ligava a TV.

Júlia: Carinha de Anjo. Eu já estava assistindo antes de viajar.

Isabelle: Não assisti ainda. Como é? Você me atualiza?

Júlia: Tem uma menina igual a mim. Ela não tem mãe. Perdeu a mãe num acidente igual a minha.

Isabelle se juntou a Júlia na poltrona e a abraçou.

Isabelle: Juju, eu sinto muito pela sua perda. Prometo que vou te ouvir quando quiser falar sobre ela, ou se quiser falar sobre qualquer outra coisa eu vou estar aqui. Combinado?

Júlia: Tá. Agora me solta e coloca aí.

Júlia se ajeitou enquanto Isabelle colocava a novela.

Isabelle: Não esquece de me atualizar dos capítulos anteriores. Já está no 38.

Júlia: Pode colocar desde o início. Eu até me esqueci do que já vi.

Isabelle: Hum, eu vou colocar do início então. Vamos ver dois capítulos por dia.

Júlia: Vamos maratonar. Quero terminar de assistir logo.

Isabelle: Eu imagino que queira e até te entendo, mas não faz bem ficar o tempo todo nas telas. Acho importante fazer outras coisas também.

Júlia: É que logo as minhas aulas de ballet retornam, a natação já é a semana que vem e ainda tem o inglês que já estou muito bem graças as minhas tias, e a aula de piano.

Isabelle: Eu já fiz aulas de tudo isso também, sabia? Ainda fiz espanhol, italiano, francês e estava fazendo de alemão.

Júlia: Fala todas essas línguas.

Isabelle: Sim, eu falo. Sou poliglota.

Júlia: Uau, poli o quê?

Isabelle: Poliglota. É quando a gente fala várias línguas.

Júlia: Entendi. Então quando a gente for para os Estados Unidos pode falar só inglês.

Isabelle sorriu em desgraça. Será que um dia iriam juntas para os Estados Unidos?

Isabelle: Vamos assistir, daqui a pouco é hora de almoçar.

As duas começaram a assistir. No escritório, Adriano continuava com uma expressão séria. O que Isabelle fez com Júlia que em questão de minutos o ódio havia se transformado e as duas estavam inseparáveis.

Os dias passaram, a babá retornou. As marcas nos braços e rosto de Isabelle também desapareceram.

Ela continuava em contato com os amigos Augusto e Carol, e ela e Júlia estavam unha e cutícula, deixando Adriano incomodado e aliviado ao mesmo tempo.

O ano novo estava chegando e o cartório informou que a certidão de casamento já poderia ser retirada, após assinarem os papéis.

No penúltimo dia do ano ela foi junto com Adriano no cartório e oficializaram os papéis.

Nenhum dos seus familiares compareceu no cartório naquele dia. Apenas Júlia, Bento, Diana e Marcos, o assistente.

Após saírem do cartório, ela se conformou da sua sina e estava pronta para seguir com isso nos próximos dois anos, ela também sabia que a família já não se importava mais com ela, mas faria o casamento mesmo assim, pois já havia falado muito disso com Júlia. Pensou também que ultimamente não estava tão ruim viver na mansão, depois que estabeleceu uma relação boa com a "enteada".

Depois do ano novo a empresa de Adriano retornou a todo vapor. Ele não ficava muito tempo em casa e Isabelle pensou que fosse o momento perfeito para procurar um emprego para se manter. Ela não precisava se preocupar com moradia e alimentação, mas estava sem roupas e também logo iniciaria a sua sonhada faculdade.

Assim ela fez. Saiu para procurar emprego.

A mansão ficava muito longe de tudo, então foi muito difícil conseguir transporte para o centro.

Ela andou o dia todo e não conseguiu nada.

Os outros dias da semana foi igual. Ela saia cedo e ficava até a tarde procurando e não conseguiu.

Por fim na sexta feira, último dia útil, ela conseguiu um trabalho de meio período num bar. Não era o que queria, mas era melhor que nada. Ela começaria no mesmo instante pois moça que servia no salão havia acabado de ser despedida.

Ela nem teve muito tempo para aprender como funcionava, mas a sorte é que ela sempre teve um raciocínio rápido.

Iniciou o trabalho e logo já estava se saindo muito bem. Nos finais de semana ela deveria trabalhar no sábado o dia todo e folgava no domingo. Ela estava cansada. As vezes pensava que o que ganharia não compensava o gasto que estava tendo. O limite do cartão já estava esgotando. O bom é que ela não encontrou Adriano nos últimos dias, um problema a menos, mas passava pouco tempo com Júlia. Elas assistiam dois capítulos da novela da Netflix todos os dias, mas não tinham muito mais tempo. As vezes ela dormia no meio do primeiro capítulo.

Finalmente chegou o último dia de fazer a matrícula na universidade. Ela sempre soube que queria fazer direito então escolheu a melhor faculdade em que passou em segundo lugar. Pediu um táxi, mas não foi autorizado a entrada no condomínio e acabou sendo dispensado pelos seguranças do local. Ela estava quase chorando de raiva quando ouviu os passos de Adriano.

Adriano: Foi você quem pediu um táxi?

Isabelle: Sim. Eu precisava ir até a universidade fazer a matrícula. Mas não vai dar mais pra ir agora, pois o meu táxi foi dispensado. Não sei quando poderei ir e as matrículas encerram hoje.

Adriano: Por que não me disse nada antes? - Falou firme com a sua voz fria.

Isabelle: Preciso de permissão o para estudar? - Foi sarcástica.

Adriano: De permissão para estudar não, mas poderia ter pedido para o motorista te levar.

Isabelle: Eu não quero incomodar.

Adriano: Venha, eu te levo.

Isabelle ficou surpresa pela atitude do "marido".

Adriano: Qual faculdade?

Isabelle: USP

Adriano: .... Ela conseguiu USP? Não é nada mal. Pensou

Ele a levou e a deixou no portão como um marido protetor.

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