Após a transformação

Pov Christopher Walker

Os gritos de dor e morte ainda ecoavam na minha cabeça, meus ouvidos tampados como se eu estivesse em uma bolha. Toda a concentração que havia sobrado estava no ato simples de levar a xícara de café a boca.

Eu vinha liberado toda a selvageria durante a noite, na montanha. Assim como todos na mesa, mas o Alfa fazia questão de perseguir, torturar e assassinar nossos opositores enquanto estava na forma humana, na mesa do café.

Percebo um pingo vermelho de sangue no dorso da mão, que está me levando ao pânico.

- Christopher? Está conosco?

As risadas dos outros licantropos na mesa me despertaram.

- Desculpe\, Alfa. O que estávamos falando?

- Sua esposa. Alguma novidade?

- Ainda não\, mas o período fértil dela é em alguns dias\, creio que teremos mais sorte.

- Use a troca de lua – o Alfa disse como uma dica assertiva – amanhã é último dia da lua cheia.

- Sim\, Alfa.

Seth tossiu por duas vezes chamando a atenção para si com um sorriso confiante nos lábios. O olhar de Nora parou no meu, a conhecia o suficiente para saber que ela estava remoendo algo.

- Senhor\, gostaria de dizer que meu filho Sam será pai.

Ao redor da mesa, houve uma contida comemoração de palavras de felicitação.

- A virilidade dos adolescentes é invejável – nosso Alfa se limitou a isso – sabe o que fazer?

- Sim\, a lavarei para o interior de manhã – Nora respondeu pelo marido.

Não estava surpreso que os De Villes tivessem comprado a ideia de forma tão dedicada. Sam havia se casado uma semana antes de mim, depois do início das aulas, o que me deixava intrigado o suficiente para procurar Nora depois do café.

A olhei algumas vezes até que ela conseguisse se desvencilhar de Seth e calmamente a segui até um quarto no primeiro andar do hotel.

- Podemos conversar aqui?

- Ninguém entra aqui\, é o quarto mais barato\, transformei no meu ateliê.

- Agora você costura? – perguntei diante ao óbvio\, um manequim com as medidas dela\, usando um vestido não acabado.

- Uma mulher precisa de um hobby. Mas não está aqui pelos meus interesses pessoais.

- Como Sam engravidou a esposa estando na Academia o mês inteiro?

Me virei para ela, tentando parecer menos acusador e mais curioso.

- Não engravidou. Jamais deixaria meu filho passar por algo assim.

- Foi Seth?

- Pelo menos essa traição teve um propósito.

- Foi consentido?

Nora abriu a carteira de prata e tirou um cigarro, acendendo calmamente e deu uma longa tragada.

- Ela consentiu quando disse sim ao Alfa.

- Ela disse sim para o garoto que era apaixonada na escola não para o pai dele.

- Está formada agora e é adulta. Nem devia se interessar pelo meu filho\, ele é...

- Dois anos mais jovem que ela. Nossa diferença é mais que o dobro disso\, Nora.

Ela se sentou em uma poltrona, evitando olhar para mim.

- É diferente.

Eu não podia estender aquele assunto, não levaria a lugar algum.

- Está encarregada de levar esposas para o interior?

- Sim\, o Alfa acha que o ar puro e a calma do campo ajudam a ter bebês mais saudáveis.

- Também não quer que nos apeguemos ás mães.

- Sim\, tem isso.

- Então sabe onde as mulheres estão sendo colocadas?

- Sim\, mas não posso lhe dizer\, quando levar aquela mulher para lá\, você nunca mais a verá.

- Parece ansiosa por isso.

- Ela é uma pessoa horrível.

- Por que era uma prostituta?

- Ela dormiu com meu marido e agora está casada com você. Tenho motivos de sobra para detestá-la.

- Angelique não é minha esposa de verdade e mesmo se fosse. Achou que eu ficaria sozinho para o resto da vida? – dei alguns passos para perto dela\, forçando-a a me encarar – faz dezesseis anos que me prometeu deixar Seth.

- Eu engravidei – Nora respondeu entre dentes.

- Sam não é mais um bebê – esperei por alguns segundos uma resposta que não veio – mas nunca foi sua intenção se separar. Você procurava em mim\, a mesma coisa que Seth procurou em Angelique. A diferença é que ele não brincou com os sentimentos de ninguém\, pegou aquilo pelo que pagou.

- Você não tem esse direito.

Em outro momento, as lágrimas que apareciam nos cantos de seus olhos me fariam recuar arrependido, mas as coisas estavam diferentes naquele momento. Não gostei de ouvi-la julgar Angelique, como se meus instintos de proteção tivessem sido ativados.

- Sam está seguro na escola\, queria que soubesse disso.

- Espere\, Christopher – Nora se levantou de uma vez\, impedindo que eu saísse – tem uma coisa.

- Estou ouvindo.

- Precisa engravidá-la o quanto antes. O Alfa ordenou que prendessem Callahan\, ele está lá embaixo onde era a lavanderia\, foi feita uma espécie de prisão.

- O prazo dele venceu.

- Há dois dias. Não quero que aconteça o mesmo com você.

Naquela noite, entrei em casa pela porta da frente, surpreendendo Angelique que estava ajoelhada no chão com o ouvido encostado no rádio.

- O que está fazendo.

- Por Deus\, Christopher. Devia bater.

- É a minha casa. Você não me responder.

Ela gaguejou, balançou a cabeça e se concentrou.

- Estava tentando sintonizar uma rádio.

- Conseguiu?

- Não.

Meu olhar foi dela para o pequeno Goblin.

- Minha senhora estava querendo ouvir uma áudio novela\, mas estava com vergonha.