Capítulo 12

Sara

Conhecer a Ana Júlia foi muito bom, na verdade bem melhor do que eu esperava.

Eu gosto de crianças, na verdade sempre gostei, então esse não seria o problema. O ponto que me deixava insegura era como ela iria reagir à minha aproximação, já que o André me disse que não teve nenhuma namorada desde que a adotou.

E pra minha surpresa ela me aceitou tão bem. Me deu tanto carinho e nós brincamos muito, na verdade eu quase não fiquei com o meu doutor certinho, já que a Anajú solicitou minha presença e atenção em todas as brincadeiras, e não foram poucas.

Ela me mostrou o quarto dela, que o André mandou decorar todo no tema fundo do mar, e eu entendi que realmente a pequena ama Ariel e todo o encantado relacionado ao filme da Pequena Sereia.

Depois nós brincamos de princesas, chá imaginário, acompanhadas das dezenas de bonecas e pelúcias. Depois batatinha frita 1,2,3...esconde - esconde, pega - pega, e quando eu já estava exausta, resolvi dar um banho na pequena e acabei tendo que tomar um também, já que a sapeca fez a festa e me molhou inteira.

Ainda bem que eu sempre carrego uma muda de roupas na mochila, então depois do banho, vesti um shortinho de tecido leve e uma regata preta básica que eu amo.

- Eu estou só o pó. - digo, me sentando ao lado do André, que sorria feliz.

- Ela drenou suas energias, amor? - ele beijou minha testa. - Pensei que ia sobrar um pouquinho de energia pro seu namorado aqui, mas acho que na restou nada! - ele faz carinha d triste e eu fico meio sem jeito e sorrio.

Eu sei, parece besteira. O André é um homem lindo, têm sido incrível comigo e o que temos superou todas as expectativas que eu tinha sobre relacionamento. Mas ainda assim eu não consigo avançar, sabe, me entregar totalmente.

Quando você têm uma decepção, mesmo que não seja por um amor verdadeiro mas por uma paixão juvenil, as coisas ficam confusas e você se auto sabota, mesmo sem querer.

Eu gosto muito do André, acho até que o amo, mas ainda é cedo demais e eu nunca amei alguém de verdade,então não sei bem como lidar com toda essa intensidade de sentimentos que ele demonstra.

Eu sou tão decidida e determinada quando o assunto é profissional, ajudar uma amiga, dar um conselho, resolver um problema e até esconder e mascarar minhas dores. Mas com o André eu estou literalmente pisando em ovos!

Eu o quero, e desejo muito, mas não é só físico. O cheiro dele me acalma, o abraço dele me traz paz, a voz dele e os carinhos me fazem sentir segura e amada, mas eu tenho medo de não ser o suficiente pra ele e sair machucada dessa história.

- Amor...- ouço a voz do meu doutor, que acaricia meu braço e me encara atento. - O que está pensando? Hum?

- Não é nada demais. - sorrio.

- Eu não acredito nisso, mas vou respeitar seu tempo, e se quiser falar, eu estarei aqui pra você!

Respiro fundo e torço a boca. Como é difícil estar assim, sem saber como agir.

O telefone dele toca e ele pega em cima da mesinha da sala e atende ali, na minha frente.

Eu sei, parece algo comum, mas mesmo querendo evitar comparação, o Rogério sempre saía de perto de mim para atender o telefone.

Sara, o Rogério era um moleque e o André é um homem de verdade! Acorda pra vida mulher!

Me recrimino em pensamento.

- Claro Rubens...eu só vou me trocar...ok, ajude na triagem e prepare o centro cirúrgico....a equipe de anestesistas tem que estar de prontidão...até daqui a pouco!

Ele encerra a ligação e me olha com a cara meio estranha.

- Desculpa minha ruivinha, eu sei que disse que passaríamos o dia todo juntos, mas surgiu uma emergência e...

Não deixo ele terminar e o beijo intensamente, agarrando levemente em sua nuca e ele me puxa contra seu corpo, me mostrando o quanto apreciou minha atitude. Nos deixamos envolver pelo beijo, até nos faltar o ar, então nos separamos e sorrimos, ofegantes, e eu sinto meu coração acelerar.

- Uau! - ele diz, e coloca minha mão sobre seu peito, me fazendo sentir seus batimentos. - Eu nem preciso de teste cardíaco depois de um beijo desse.

Eu sorrio e o abraço, aspirando o perfume gostoso e que me transmite aquela sensação de lar.

- Posso te dar vários testes grátis, meu doutor. - eu me afasto e o encaro. - Mas agora você precisa ir. E não tem que se desculpar, porque eu entendo perfeitamente que essa é a sua profissão e que têm pessoas nesse momento que precisam de você pra continuar vivendo e poder voltar pras suas famílias.

Ele me olha com tanto carinho e acaricia meu rosto.

- Você é tão especial, minha menina. - sorri. - Eu sou um homem de sorte, de muita sorte!

Nós nos beijamos novamente e ele vai se trocar para ir ao hospital atender as vítimas de um acidente bem grave.

E eu? Bom, eu fico ali sentada e pensando que na verdade eu é que tenho sorte por ter conhecido um homem de verdade!

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