Capítulo 13

André

Eu saí de casa e, no caminho pro hospital, deixei a Sara na casa dela.

Anajú estava dormindo profundamente depois de tanto brincar com a minha ruivinha. Foi tão bom ver as duas interagindo e se dando tão bem que eu nem reclamei por ter perdido a minha namorada para a minha filha.

Minha namorada...eu quero tanto que a Sara me deixe entrar na vida dela e aceite os meus sentimentos. Eu sinto que ela tem medo, receios e eu entendo, é normal. Na verdade eu encontrei na Sara e nesse sentimento novo um bálsamo para as minhas dores e cicatrizes. Acho também que por isso eu estou tão empolgado e ansioso com tudo entre a gente.

É difícil se sentir pela metade, ferido, triste e melancólico. Sentir o mundo pesando em suas costas e ter que negar suas fraquezas em prol de algo maior, que no meu caso, eram os cuidados com a minha filha. E nesses cuidados com a minha Ana Júlia eu encontrei o conforto e força que precisava para vencer as crises de ansiedade e a depressão.

Mas foram dias, meses, anos difíceis. Longos anos onde eu lutei diariamente, por mim e pela minha filha, pra estar sempre bem pra ela.

E quando eu menos esperava, eu encontrei a minha ruivinha. Confesso que eu estou nas nuvens em sentir o carinho de uma mulher e gostar desse contato. Sem ser forçado, sem ser por puro desejo. Eu quero a Sara muito além do desejo físico. Mas confesso que ver a secada que ela me deu, assim que saí do meu quarto, com os cabelos molhados do pós banho e os botões da camisa ainda abertos, nossa o olhar dela percorrendo meu corpo foi de enlouquecer!

E a minha vontade quase atingiu níveis absurdos quando ela passou a língua nos lábios como se quisesse me provar ou sei lá o que estava passando em seus pensamentos naquele momento. Porque no meu pensamento eu só via ela deitada e eu dando à ela todo o carinho e reverência que aquele corpo pequeno e macio merecem, e algo me diz que ela nunca foi tratada como ela realmente deve ser. Mas eu respirei fundo, contive meus desejos mais libidinosos e estou aqui, dirigindo e totalmente animado só com o olhar dela sobre mim. E sabe quando foi que uma mulher conseguiu essa proeza? NUNCA!

Nenhuma mulher, nem a Rosy, conseguiram me fazer sentir tanto desejo só com um olhar, sem nem ao menos eu chegar perto, sem tocar.

Mas a Sara é diferente. Tudo entre nós parece novo.

O toque dela me causa arrepios, correntes de eletricidade que parecem me acender de dentro pra fora. O beijo dela me vicia, e eu quero doses maiores e mais profundas à cada dia. O cheiro, o abraço, o carinho, o simples afagar daquelas mãos pequenas nos meus cabelos, tudo isso me dá uma sensação de estar em paz, estar em casa, como se eu só encontrasse o abrigo que preciso ao lado dele, nos braços dela.

Estaciono meu carro e nem percebo que estou chorando, até sentir algo pingando do meu rosto.

- Sara...minha ruivinha...eu nem sei como, quando, mas eu estou amando você, pequena! - sussurro pra mim mesmo.

Respiro fundo, seco meu rosto, pego minha bolsa e saio em direção ao hospital.

Assim que entro a equipe já me aguarda. Isso aqui está uma loucura. Parentes das vítimas esperando por notícias, enfermeiros e médicos correndo de um lado pro outro, os assistentes sociais fazendo o máximo que podem.

- André, ainda bem que chegou, cara! - Rubens vêm aflito ao meu encontro. - Guilherme também acabou de chegar.

- Estou aqui, meu amigo. Bora pra luta!

Nós vamos em direção à sala do descanso médico pra nos preparar. Eu vou pro centro cirúrgico, Rubens vai fazer as suturas das crianças e Guilherme vai ajudar numa cirurgia cardíaca.

Mais um dia considerado "comum" na vida de um médico!

Nós três paramos no corredor, cada um vestido para suas funções. Formamos um círculo e damos as mãos, e ali fazemos uma oração. No centro cirúrgico somos guiados por Deus durante o procedimento, assim nós cremos. Então pedimos sabedoria, paciência, e principalmente direcionamento. São vidas que estão ali, e sem a direção e o cuidado de Deus, nada podemos fazer.

Depois de orar, fazemos a higiene das mãos,terminamos de nos preparar e nos separamos. Agora, é hora de salvar vidas!

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