Capítulo 19

Sair dos braços do meu doutor era uma tarefa muito, muito difícil de realizar, mas eu precisava.

- Eu preciso ir agora. - digo, aconchegada em seus braços, com a cabeça encostada em seu peito.

- Mas já? - ele reclama. - Eu queria mais um pouquinho de você, ruivinha.

- Eu também queria, meu doutor príncipe, mas amanhã é dia de simuladão para o vestibular e estamos estudando.

- Ei, casal, deixem o love pra outra hora porque nós precisamos estudar, e não é anatomia, ouviu Dr. André! - a voz da Bia, que gritava da sacada do meu quarto, fez nós dois sorrirmos.

- Pode deixar, cunhada! Já vou devolvê-la! - ele grita e ela sorri e entra no meu quarto novamente. - Essa menina madrugou?

- Na verdade elas dormiram aqui.

- Elas? - ele franze a testa. - A Duda também?

- Uhum. - confirmo. - Nosso trio é muito unido, doutor. Nas tretas e na vida, tamo junto!

Ele só meneia a cabeça e ri.

- E vocês três mataram aula? Porque nesse horário a senhorita deveria estar na escola, não?

- Sim, mas hoje as turmas do terceiro ano foram liberadas exatamente para poder tirar dúvidas e se preparar. Na verdade eu e as meninas já estamos com nosso grupo de estudos há alguns meses. Nós nos reunimos 3x por semana pra poder tirar dúvida, fazer simulado do ENEM, resumos das matérias. A gente estuda de tudo um pouco, mas foca nas dificuldades de cada uma e daí vai fluindo.

- Nossa, que organizadas e estudiosas...

- Hum, tá pensando o que meu filho?! Somos novinhas mas somos responsáveis tá! - Faço bico e ele me dá um selinho

- Sei que são. Mas eu acredito que a minha gata é a boa em cálculos, acertei? - ergue a sobrancelha.

- Pior que acertou! - sorri. - Sou boa em química e física também, mas biologia...argh! - Faço cara de nojo. - Eu me esforço, mas parece que não entra na minha mente. História então, só pela graça...

- Ai ai...- ele cheira meu pescoço e eu me encolho. - Amo esse seu jeitinho sensível. - passa a barba no meu ombro, exposto pelo vestido ser de alças finas.

- André! - digo, em tom de advertência. - Aqui não é lugar pra isso, sossega homem.

- O que foi que eu fiz. - faz cara de desentendido.

- Até parece inocente né?! Quem olha assim até acredita...

- Mas eu sou inocente, amor. - faz carinha de triste.

- Ah, tadinho do meu maior abandonado. - dou vários selinhos nele. - Mas nem adianta, senhor manhoso, porque eu amaria trocar os livros e as intermináveis horas de estudo por umas horinhas nesses seus braços largos, me aconchegando nesse seu corpinho cheiroso, mas infelizmente eu não nasci sabendo tudo e preciso estudar!

Ele me olha, estreitando os olhos, e me puxa de uma vez, colando o corpo no meu e me prendendo contra ele.

- Só mais um beijo e eu te deixo ir...

Dou um selinho nele, que me encara, sério.

- Isso foi um beijo, ruivinha?

- Ué, e não foi não? Eu pensei que fo...

Nem tive tempo de terminar a frase, porque aquela boca maravilhosa tomou a minha, me beijando com uma necessidade e urgência avassaladoras. Sua língua grossa procurando a minha e aquela pegada deliciosa que só o meu doutor tem, me deixaram de pernas bambas.

Aos poucos ele foi se afastando, mordendo meu lábio inferior e puxando de leve.

- Isso sim é um beijo de verdade minha ruiva. - diz, me afastando devagar. - Agora vai logo, antes que eu não consiga mais responder pelos meus atos, te jogue no ombro feito homem das cavernas e...ah, Sara! - ele diz, quase num rosnado.

Me arrepiei inteira só com a intensidade desse olhar...ui papai!!

Eu me viro e jogo um beijinho pra ele, que sorri e entra no carro, mas só vai embora depois que me vê entrando em casa e fechando a porta.

Encosto as costas na madeira fria e suspiro, de olhos fechados, tocando meus lábios e sorrindo feito boba.

- Soldada abatida com sucesso, Dudinha! - Bia diz, descendo as escadas, me fazendo olhar pra ela.

- Com toda certeza! Mais uma pro time das suspirantes! - Duda diz, sorrindo também.

- Meninas, é oficial! Eu estou amando! - digo, com um sorriso de orelha à orelha.

As duas se olham e dizem, juntas...

- Novidade! - e reviram os olhos.

Essas Palhaças!!

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