Nosso Coração

Nosso Coração

1

..."Eu já fui longe demais...

...Para mudar essa vida solitária...

...Eu quero saber o que é o amor...

...Eu quero que você me mostre...

...Eu quero sentir o que é o amor...

...E eu sei que você pode me mostrar..."...

(I Want To Know What Love Is, Mariah Carey)

Bianca Drummond

Ser diretora executiva de uma empresa não é fácil, eu tenho ótimos clientes, mas eles inventam cada coisa quando o assunto é confeitaria. 

Sou brasileira, cursei administração quando eu morava em São Paulo, desde sempre fiz bolos com minha mãe e quando surgiu uma oportunidade de abrir nossa tão sonhada loja, foi um sonho realizado, a cada dia o negócio crescia mais, as encomendas aumentavam gradativamente. Conversei bastante com minha mãe depois de uma cliente dar a dica de abrirmos uma loja em Nova Iorque, pensamos muito e calculamos as probabilidades de dar certo ou não, mas decidimos arriscar. Vim para Nova Iorque e ela ficou no Brasil, esse era seu desejo, e assim me mudei e construí a loja em Manhattan. Para a nossa sorte, tem sido um tremendo sucesso.

Desde então tenho algumas lojas espalhadas pelo mundo, o que sempre foi um sonho meu e da minha mãe. Nenhuma de nós cursou culinária, ela sempre disse que aprendeu tudo isso com a vida e trabalhando na casa de uma senhora que já foi boleira. Hoje, ela continua no Brasil, enquanto eu permaneço em Nova Iorque. Esse lugar me trouxe coisas maravilhosas, amigos incríveis, um noivo que infelizmente a vida tirou de mim: Nick reagiu a um assalto e foi morto sem piedade alguma, ele era um homem incrível e me amou incondicionalmente. Quando descobri que ele havia decidido doar seus órgãos, fiquei tão orgulhosa dele e me apaixonei mais ainda, se é que isso era possível. Preciso aceitar sua morte para seguir sozinha, mas depois de dois anos ainda dói.

Desde que eu o perdi, não vi mais sentido na minha vida, mas no último ano eu decidi que queria ser mãe, mas não queria ter nenhum relacionamento amoroso, foi então que eu recorri a inseminação artificial.

— Bi, hoje é o dia da inseminação? — Essa é minha melhor amiga doidinha que mora comigo e me ajuda na administração da minha empresa. Crescemos juntas e ela me acompanhou nessa loucura que é Nova Iorque.

— Finalmente, estou empolgada, me sinto quase realizada.

— Você sabe que isso não vai trazer o Nick de volta né? — Ela está visivelmente preocupada comigo. 

— Eu sei Ali, eu decidi fazer a inseminação, por mim mesma.

— Mas como você está se sentindo em relação a tudo isso? 

— Faz três anos que o Nick morreu e ainda dói muito. Eu queria que o Nick não tivesse reagido aquele assalto. Eu sei que está preocupa por conta do bebê que eu perdi, mas entenda que eu estou fazendo isso por que meu sonho é ser mãe.

— Eu sei minha amiga, só não acredito que você esteja emocionalmente preparada.

— Eu estou bem, minha terapeuta me liberou para fazer o procedimento, vai dar tudo certo.

— Me desculpe, eu só me preocupo demais com você!

— Está tudo bem, Alice. Nick sempre será uma parte minha, ele tem o meu coração para ele e o bebê só vai trazer mais cor para minha vida.

— Ok, vamos focar no importante. Em alguns meses teremos um bebê neste apartamento, o que significa que precisamos reformar o apto logo. — ela muda de assunto rapidinho, o que me deixa satisfeita.

— Não sabemos se vai dar certo logo de primeira.

— Pense positivo, hoje você vai voltar para casa já com uma sementinha na barriguinha.

— Tá bom, vamos ao consultório da doutora Sandra, estou atrasada. — digo, e ela concorda.

....

A minha médica atende no Bronx, um edifício com vários consultórios médicos, e o dela é incrível, decorado com uma arquitetura rústica e elegante ao mesmo tempo. Chegamos na recepção do prédio e me direciono a Anna, uma das funcionárias.

— Bom dia. Eu tenho uma consulta com a doutora Sandra.

— Bom dia, seus documentos por favor. — Entrego meu documento para a recepcionista e ela passa a digitar algo no computador.

— Nós estamos com um problema, a doutora Nassif, teve um problema pessoal e precisou se ausentar hoje e acabamos não conseguindo avisar todos os pacientes a tempo, mas a irmã dela, doutora Anelise, ela possui a mesma especialidade da doutora Sandra. Deseja fazer o procedimento com ela?

— Não sei. Ela está atendendo todos os pacientes da doutora Sandra? — pergunto meio em dúvida.

— Sim, ela está. E todos têm saído daqui felizes, geralmente é ela que substitui a doutora Sandra quando acontece algum imprevisto. A doutora Anelise tem a mesma competência que a doutora Sandra, sua especialidade é ginecologia e fertilização. É uma excelente médica.

— Se você está dizendo, vou confiar em você.

— Certo, pode ir até o consultório então, ela está na sala da doutora Sandra mesmo.

— Ok, obrigada — respondo e sigo para o elevador com uma Alice sem dar um pio há bastante tempo. — Por que você está tão quieta?

— Não é nada, Bi.

— Sei que tem algo errado, você nunca fica quieta assim…

— Nada de mais.

— Olha, se for pelo que disse mais cedo, não se preocupe. Nick e eu tivemos uma história linda e falar dele ainda dói, porque ele foi tirado de mim de uma maneira violenta, mas não me importo de falar dele.

— Eu me sinto mal por falar dele com você.

— Não sinta, Alice. Tenho certeza que Nick, onde quer que esteja, quer me ver feliz assim como você, minha mãe, tia Carina e outras pessoas.

— Eu sei, Bibi. Entendo você, o momento certo vai chegar e você nem vai perceber.

— Veremos, Alice. — Saímos do elevador, vou à mesa da secretária da doutora Sandra e digo: — Bom dia, Ella.

— Bom dia, Bianca, você vai se consultar com a doutora Anelise, certo?

— Sim.

— Vou avisar que você chegou, espere um minuto. — Ela vai até a sala com o meu prontuário.

— Bianca, para esse final de semana tem uma encomenda para um casamento? — Alice me pergunta.

— Tem, é a encomenda mais doida que já recebemos.

— Como assim?

— Os noivos querem um bolo que fique de cabeça para baixo, como se fosse um lustre.

— Minha nossa, e como você vai fazer isso?

— Não sei, eu disse que na semana do casamento eu iria até o salão e testaria. Fui ontem, testei com um protótipo e deu certo, mas é perigoso cair. Aí conversei com eles e entramos em um consenso: o protótipo que eu fiz ficou tão real que vai ser esse mesmo no lugar que eles querem e eu farei um verdadeiro para ficar na mesa.

— E eles concordaram fácil?

— Sim, ainda bem. Temos que começar as preparações amanhã.

— Hoje é quarta-feira — observa.

— Sim e você sabe que eu gosto de trabalhar assim.

— Bianca, a doutora Anelise está te esperando. — Ella avisa aparecendo no corredor.

— Obrigada. Espere por mim aqui, Ali, depois vamos direto para a loja — digo e vou até o consultório, bato à porta levemente e entro.

— Bom dia. Bianca Drummond, certo?

— Sim, bom dia.

— Você se consulta com minha irmã tem um tempo já.

— Sim, desde que me mudei para cá.

— Certo, podemos começar? Você tem alguma dúvida em relação ao procedimento? Creio que Sandra tenha lhe explicado tudo.

— Não tenho nenhuma dúvida — respondo empolgada, espero que eu consiga engravidar no primeiro procedimento.

— Ok, então pode se trocar naquela sala ali.

A consulta é mais demorada do que o costume, mas eu me sinto bem. É uma sensação nova, como se minha vida estivesse prestes a mudar, faz um tempo que não sinto nada assim.

— Terminamos, Bianca. Por favor, espere meia hora para poder se levantar.

— Por quê?

— Só para ter certeza de que nada vai dar errado, não se preocupe — diz, e eu concordo.

Os trinta minutos demoram a passar, mas quando finalmente sou liberada, meu interior grita de felicidade.

— Você precisa se cuidar, qualquer coisa é só ligar. Marcaremos um retorno para o próximo mês, ou antes, mas até lá minha irmã já terá voltado.

— Obrigada, doutora Anelise — respondo e saio da sala, deparando-me com uma confusão. Vou até Alice e pergunto o que está acontecendo.

— Parece que houve uma confusão entre os prontuários de duas pacientes, em relação a uma inseminação.

— Nossa, que falta de responsabilidade. Nunca aconteceu algo assim aqui.

— Erros acontecem em todo lugar, Bibi.

— Você tem razão, todo mundo erra.

Alice levanta e começamos a caminhar até o elevador, nossa conversa está tão natural que não percebo as pessoas na minha frente e esbarro em um homem, muito lindo por sinal.

— Me desculpa, estava distraída — falo olhando para ele, que sorri. Esse sorriso me deixa com a estranha sensação de já conhecê-lo.

— Não tem problema, moça bonita — diz me encarando de uma maneira que só uma pessoa conseguia fazer: Nick, o meu Nick.

— Bianca... — Saio do meu transe ao ouvir a voz da Ali.

— Hã… Vamos? — pergunto a ela, estou envergonhada pelo elogio que recebi.

— Vamos — diz rindo, e entramos no elevador.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!