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Nosso Coração

1

..."Eu já fui longe demais...

...Para mudar essa vida solitária...

...Eu quero saber o que é o amor...

...Eu quero que você me mostre...

...Eu quero sentir o que é o amor...

...E eu sei que você pode me mostrar..."...

(I Want To Know What Love Is, Mariah Carey)

Bianca Drummond

Ser diretora executiva de uma empresa não é fácil, eu tenho ótimos clientes, mas eles inventam cada coisa quando o assunto é confeitaria. 

Sou brasileira, cursei administração quando eu morava em São Paulo, desde sempre fiz bolos com minha mãe e quando surgiu uma oportunidade de abrir nossa tão sonhada loja, foi um sonho realizado, a cada dia o negócio crescia mais, as encomendas aumentavam gradativamente. Conversei bastante com minha mãe depois de uma cliente dar a dica de abrirmos uma loja em Nova Iorque, pensamos muito e calculamos as probabilidades de dar certo ou não, mas decidimos arriscar. Vim para Nova Iorque e ela ficou no Brasil, esse era seu desejo, e assim me mudei e construí a loja em Manhattan. Para a nossa sorte, tem sido um tremendo sucesso.

Desde então tenho algumas lojas espalhadas pelo mundo, o que sempre foi um sonho meu e da minha mãe. Nenhuma de nós cursou culinária, ela sempre disse que aprendeu tudo isso com a vida e trabalhando na casa de uma senhora que já foi boleira. Hoje, ela continua no Brasil, enquanto eu permaneço em Nova Iorque. Esse lugar me trouxe coisas maravilhosas, amigos incríveis, um noivo que infelizmente a vida tirou de mim: Nick reagiu a um assalto e foi morto sem piedade alguma, ele era um homem incrível e me amou incondicionalmente. Quando descobri que ele havia decidido doar seus órgãos, fiquei tão orgulhosa dele e me apaixonei mais ainda, se é que isso era possível. Preciso aceitar sua morte para seguir sozinha, mas depois de dois anos ainda dói.

Desde que eu o perdi, não vi mais sentido na minha vida, mas no último ano eu decidi que queria ser mãe, mas não queria ter nenhum relacionamento amoroso, foi então que eu recorri a inseminação artificial.

— Bi, hoje é o dia da inseminação? — Essa é minha melhor amiga doidinha que mora comigo e me ajuda na administração da minha empresa. Crescemos juntas e ela me acompanhou nessa loucura que é Nova Iorque.

— Finalmente, estou empolgada, me sinto quase realizada.

— Você sabe que isso não vai trazer o Nick de volta né? — Ela está visivelmente preocupada comigo. 

— Eu sei Ali, eu decidi fazer a inseminação, por mim mesma.

— Mas como você está se sentindo em relação a tudo isso? 

— Faz três anos que o Nick morreu e ainda dói muito. Eu queria que o Nick não tivesse reagido aquele assalto. Eu sei que está preocupa por conta do bebê que eu perdi, mas entenda que eu estou fazendo isso por que meu sonho é ser mãe.

— Eu sei minha amiga, só não acredito que você esteja emocionalmente preparada.

— Eu estou bem, minha terapeuta me liberou para fazer o procedimento, vai dar tudo certo.

— Me desculpe, eu só me preocupo demais com você!

— Está tudo bem, Alice. Nick sempre será uma parte minha, ele tem o meu coração para ele e o bebê só vai trazer mais cor para minha vida.

— Ok, vamos focar no importante. Em alguns meses teremos um bebê neste apartamento, o que significa que precisamos reformar o apto logo. — ela muda de assunto rapidinho, o que me deixa satisfeita.

— Não sabemos se vai dar certo logo de primeira.

— Pense positivo, hoje você vai voltar para casa já com uma sementinha na barriguinha.

— Tá bom, vamos ao consultório da doutora Sandra, estou atrasada. — digo, e ela concorda.

....

A minha médica atende no Bronx, um edifício com vários consultórios médicos, e o dela é incrível, decorado com uma arquitetura rústica e elegante ao mesmo tempo. Chegamos na recepção do prédio e me direciono a Anna, uma das funcionárias.

— Bom dia. Eu tenho uma consulta com a doutora Sandra.

— Bom dia, seus documentos por favor. — Entrego meu documento para a recepcionista e ela passa a digitar algo no computador.

— Nós estamos com um problema, a doutora Nassif, teve um problema pessoal e precisou se ausentar hoje e acabamos não conseguindo avisar todos os pacientes a tempo, mas a irmã dela, doutora Anelise, ela possui a mesma especialidade da doutora Sandra. Deseja fazer o procedimento com ela?

— Não sei. Ela está atendendo todos os pacientes da doutora Sandra? — pergunto meio em dúvida.

— Sim, ela está. E todos têm saído daqui felizes, geralmente é ela que substitui a doutora Sandra quando acontece algum imprevisto. A doutora Anelise tem a mesma competência que a doutora Sandra, sua especialidade é ginecologia e fertilização. É uma excelente médica.

— Se você está dizendo, vou confiar em você.

— Certo, pode ir até o consultório então, ela está na sala da doutora Sandra mesmo.

— Ok, obrigada — respondo e sigo para o elevador com uma Alice sem dar um pio há bastante tempo. — Por que você está tão quieta?

— Não é nada, Bi.

— Sei que tem algo errado, você nunca fica quieta assim…

— Nada de mais.

— Olha, se for pelo que disse mais cedo, não se preocupe. Nick e eu tivemos uma história linda e falar dele ainda dói, porque ele foi tirado de mim de uma maneira violenta, mas não me importo de falar dele.

— Eu me sinto mal por falar dele com você.

— Não sinta, Alice. Tenho certeza que Nick, onde quer que esteja, quer me ver feliz assim como você, minha mãe, tia Carina e outras pessoas.

— Eu sei, Bibi. Entendo você, o momento certo vai chegar e você nem vai perceber.

— Veremos, Alice. — Saímos do elevador, vou à mesa da secretária da doutora Sandra e digo: — Bom dia, Ella.

— Bom dia, Bianca, você vai se consultar com a doutora Anelise, certo?

— Sim.

— Vou avisar que você chegou, espere um minuto. — Ela vai até a sala com o meu prontuário.

— Bianca, para esse final de semana tem uma encomenda para um casamento? — Alice me pergunta.

— Tem, é a encomenda mais doida que já recebemos.

— Como assim?

— Os noivos querem um bolo que fique de cabeça para baixo, como se fosse um lustre.

— Minha nossa, e como você vai fazer isso?

— Não sei, eu disse que na semana do casamento eu iria até o salão e testaria. Fui ontem, testei com um protótipo e deu certo, mas é perigoso cair. Aí conversei com eles e entramos em um consenso: o protótipo que eu fiz ficou tão real que vai ser esse mesmo no lugar que eles querem e eu farei um verdadeiro para ficar na mesa.

— E eles concordaram fácil?

— Sim, ainda bem. Temos que começar as preparações amanhã.

— Hoje é quarta-feira — observa.

— Sim e você sabe que eu gosto de trabalhar assim.

— Bianca, a doutora Anelise está te esperando. — Ella avisa aparecendo no corredor.

— Obrigada. Espere por mim aqui, Ali, depois vamos direto para a loja — digo e vou até o consultório, bato à porta levemente e entro.

— Bom dia. Bianca Drummond, certo?

— Sim, bom dia.

— Você se consulta com minha irmã tem um tempo já.

— Sim, desde que me mudei para cá.

— Certo, podemos começar? Você tem alguma dúvida em relação ao procedimento? Creio que Sandra tenha lhe explicado tudo.

— Não tenho nenhuma dúvida — respondo empolgada, espero que eu consiga engravidar no primeiro procedimento.

— Ok, então pode se trocar naquela sala ali.

A consulta é mais demorada do que o costume, mas eu me sinto bem. É uma sensação nova, como se minha vida estivesse prestes a mudar, faz um tempo que não sinto nada assim.

— Terminamos, Bianca. Por favor, espere meia hora para poder se levantar.

— Por quê?

— Só para ter certeza de que nada vai dar errado, não se preocupe — diz, e eu concordo.

Os trinta minutos demoram a passar, mas quando finalmente sou liberada, meu interior grita de felicidade.

— Você precisa se cuidar, qualquer coisa é só ligar. Marcaremos um retorno para o próximo mês, ou antes, mas até lá minha irmã já terá voltado.

— Obrigada, doutora Anelise — respondo e saio da sala, deparando-me com uma confusão. Vou até Alice e pergunto o que está acontecendo.

— Parece que houve uma confusão entre os prontuários de duas pacientes, em relação a uma inseminação.

— Nossa, que falta de responsabilidade. Nunca aconteceu algo assim aqui.

— Erros acontecem em todo lugar, Bibi.

— Você tem razão, todo mundo erra.

Alice levanta e começamos a caminhar até o elevador, nossa conversa está tão natural que não percebo as pessoas na minha frente e esbarro em um homem, muito lindo por sinal.

— Me desculpa, estava distraída — falo olhando para ele, que sorri. Esse sorriso me deixa com a estranha sensação de já conhecê-lo.

— Não tem problema, moça bonita — diz me encarando de uma maneira que só uma pessoa conseguia fazer: Nick, o meu Nick.

— Bianca... — Saio do meu transe ao ouvir a voz da Ali.

— Hã… Vamos? — pergunto a ela, estou envergonhada pelo elogio que recebi.

— Vamos — diz rindo, e entramos no elevador.

2

Disso tenho certeza

Ela sorriu para mim no metrô

Ela estava com outro homem

Mas não perderei o sono com isso

Porque eu tenho um plano

You're Beautiful – James Blunt

Connor Lee

Há três anos ganhei uma nova chance de viver. Nasci com insuficiência cardíaca, mas até os meus vinte e quatro anos vivi normalmente. Não sou o tipo de homem que vive em baladas e afins, sou caseiro e muito família, atualmente trabalho na empresa dos meus pais no ramo de arquitetura. Talvez por ser tão focado no meu trabalho tive apenas uma namorada séria, ainda na faculdade, que veio se tornar minha noiva, porém, ela faleceu há quatro anos. Na noite em que soube da morte da Jasmine, passei muito mal: era como se meu coração estivesse me sufocando. Por algum tempo ignorei esse episódio, julguei ser algo emocional pelo choque da perda e do luto que se seguiu pelos próximos meses. Mas depois de um episódio de falta de ar, fui ao hospital e o médico da família disse que minha insuficiência cardíaca havia evoluído, minha situação se agravou de uma hora para a outra. Depois de uma semana internado, eu e meus pais recebemos a notícia de que havia um doador compatível comigo. O transplante mudou a minha vida completamente, ganhei uma nova chance de viver e eu vou fazer valer essa oportunidade. Sempre sonhei em ser pai, mas as mulheres com quem fiquei depois de Jasmine não queriam algo tão sério como um filho, então decidi contratar uma barriga de aluguel.

— Ainda dá tempo de desistir, meu amigo — avisa-me Gary. Embora sejamos melhores amigos, somos totalmente opostos.

— Eu já me decidi e não vou mudar de ideia.

Estamos sentados à mesa da cozinha na casa dele, decidi vir aqui antes de dar esse próximo passo na minha vida. Ele sempre esteve comigo, principalmente em momentos decisivos, como antes de eu pedir a Jasmine em casamento, nos meses de luto. E agora não poderia ser diferente.

— Cara, um bebê é muita responsabilidade... — ele diz enquanto me observa preocupado.

— É por isso que você vai ser o padrinho e vai me ajudar nessa tarefa — afirmo com um sorriso.

— Me deixa fora disso, não sou bom com crianças — rebate com firmeza. Eu rio antes de dar uma mordida na pizza que sobrou de ontem à noite.

— Você é sim, eu lembro de como cuidava da sua irmã — acuso brincando, mas com um fundo de verdade.

— Só para deixar claro que eu era obrigado. — defende-se, há uma careta em seu rosto. Rimos com as memórias da nossa adolescência até que ele retoma o assunto: — A Bianca não é uma boa escolha, ela é insuportável e de caráter duvidoso.

— Ela é assim mesmo, mas foi minha melhor opção. Quantas Biancas você conhece?

— Existem tantas Biancas na cidade. Eu, por exemplo, conheço uma. — Eu o encaro curioso, fazendo sinal para continuar. — É uma amiga da Alice.

— E quem é Alice? — pergunto, estranhando o nome.

— Uma amiga — responde evasivo, a expressão um pouco perdida.

— Conheço bem o seu tipo de amiga — brinco, esperando-o continuar. Ele toma um gole de café.

— Alice é diferente, ela não é alguém sem importância. — confessa um pouco hesitante, encarando a caneca em suas mãos.

— Sente algo a mais por ela?

— Sinto, só não sei o que é. — confessa.

— Isso, meu amigo, se chama amor. — Sorrio triunfante.

— Também não é assim, Connor...

— Sei. Por um acaso essa Bianca é a dona da doceria que minha mãe sempre contrata? — Ele confirma com um “uhum” enquanto mastiga o último pedaço de pizza. — E por que eu não a conheço?

— Alice é quem sempre acompanha as entregas quando Bianca está muito atarefada na confeitaria, mas ela já esteve na empresa uma vez.

— Eu não a vi. — digo conferindo o relógio. — Já está na minha hora, você vai comigo?

— Bem que eu queria, embora ache isso uma loucura, mas tenho um cliente agora. — Gary é advogado e gosta de encontrar seus possíveis clientes em restaurante, ele diz que essa maneira informal é o que faz com que ele consiga tantos clientes.

— Podemos nos encontrar depois?

— Com certeza, eu terminando com o cliente te ligo.

— Certo, eu já vou. Te vejo depois — digo a ele e fazemos um toque de mão antigo de quando ainda éramos adolescentes.

Saio de sua casa, entro no carro e dirijo para o consultório da doutora Sandra Nassif, a melhor obstetra e geneticista do país, junto com sua irmã, a doutora Anelise. Eu as escolhi porque elas são as melhores quando o assunto é fertilização e inseminação.

Assim que adentro o enorme edifício, não há ninguém na recepção, o que é estranho. Como eu sei qual é o andar do consultório, sigo para o elevador. Quando saio, tem uma agitação em frente à mesa da secretária e parece envolver a mulher que eu contratei para ser minha barriga de aluguel. Enquanto caminho até lá, uma baixinha bate de frente comigo, e quando digo baixinha é porque é baixinha mesmo. Olho para seu rosto e meu coração parece que vai sair do meu peito a qualquer custo, sinto uma necessidade enorme de abraçá-la e dizer que sinto a falta dela, mas obviamente não digo isso, afinal de contas ela me acharia um louco.

— Me desculpa, estava distraída. — Sorri envergonhada. Eu a conheço, só não sei de onde.

— Não tem problema, moça bonita — digo, e ela fica visivelmente envergonhada. Que merda, Connor, moça bonita, é sério? Você é patético.

— Bianca... — a mulher ao seu lado a chama. Então esse é o nome dela, interessante...

— Hã... Vamos? — a moça bonita diz à sua amiga.

— Vamos — a amiga responde rindo.

Nós nos olhamos uma última vez antes da porta do elevador fechar. Estranhamente, sinto outra vez aquele aperto no peito ao vê-la partir.

— O Connor chegou — ouço a doutora Anelise falar. Saio desse transe e vou até elas.

— Bom dia, aconteceu alguma coisa?

— É claro que aconteceu, essa médica irresponsável inseminou outra mulher em vez de mim. — Bianca, minha barriga de aluguel, diz.

Se tem uma coisa que odeio é gente querendo ser melhor que os outros. Esse é um dos defeitos da Bianca, eu só a escolhi pois a conheço desde a época da faculdade, era minha amiga e ela sempre quis algo a mais do que eu podia oferecer. Quando nós nos reencontramos e lhe contei da minha vontade de ser pai, ela se ofereceu para ser minha barriga de aluguel. Eu não deveria ter aceitado, bem que Gary disse que não daria certo isso com a Bianca.

— Diga alguma coisa, Connor — Anelise chama minha atenção, apreensiva.

— Isso é sério? Quem é essa mulher? — Não vou negar que estou abalado com a notícia.

— Podemos conversar na minha sala se quiser. — Anelise sempre é muito atenciosa comigo, eu a conheço tem quase uma vida, nossas famílias são amigas há gerações, tanto que minha irmã é casada com o filho dela. Concordo prontamente.

— Eu não acredito nisso... — Bianca reclama, acabando com a minha paciência.

— Bianca, sem chiliques, por favor. Agradeço por ter se oferecido para me ajudar, mas não podemos fazer mais nada. Obrigado de verdade, mas não vai haver mais inseminação, ao menos não em você.

— Você vai se arrepender disso, Connor! — diz e sai pisando duro como uma garotinha mimada.

— Podemos?

— Claro. — Sigo-a até a sala de Sandra e sentamos um de frente para o outro.

— Em primeiro lugar, quero dizer que sinto muito por isso, esse erro nunca tinha acontecido antes. Na carreira que eu escolhi não pode haver erros, Connor, eu sinto muito.

— Você a conhece? — Não quero gritar com ela, estou tão abalado e triste com a situação

— Sim, é uma mulher incrível. Ela estava aqui para fazer uma inseminação e com a troca dos prontuários acabei não percebendo o erro, ambas possuem o mesmo nome, mas o sobrenome é diferente, eu estou tão atordoada hoje que acabei não notando a troca.

— Minha mãe me contou o que aconteceu, eu sinto muito por isso, mas eu preciso saber quem é ela, Anelise. Ela está carregando meu filho. Como isso foi acontecer?

— Eu vou te dar todas as informações que precisa. Não sei como, mas a secretária deve ter trocado os prontuários, e eu acabei não percebendo esse erro.

— Me diga onde ela mora, vou agora mesmo até lá.

— É melhor esperar uns dois dias. Ela pode achar que você é um louco, se quiser peço para ela vir até aqui.

— Não precisa, eu mesmo resolvo essa situação.

— Não seja direto, ela vai te achar louco. E, por favor, espere dois dias, no mínimo. — Anelise insiste, entregando-me uma pasta, que provavelmente contém as informações necessárias. — Não é como se ela fosse fugir de uma hora pra outra. A vida dela é aqui.

— Então você a conhece? — pergunto desconfiado.

— Não, eu a conheci hoje, mas sei que ela é dona de uma doceria. Sossega, não tem motivos para que ela vá embora.

— Tudo bem, vou resolver umas coisas e falar com a minha mãe. Obrigado, Anelise.

— Eu sei que você só não surtou e brigou comigo por causa da sua irmã, mas eu vou entender se quiser me processar e me denunciar para o conselho de medicina.

— Não vou fazer isso com você. Vou convencer essa mulher a fazer o mesmo que eu, afinal é meu filho, ela não precisará ter contato algum com ele.

— Não é bem assim Connor, ela veio até aqui na intenção de ter um filho também, e se a inseminação tiver dado certo, duvido que ela lhe entregue o bebê.

— O que você sugere?

— Sugiro que conversem e tenham uma guarda compartilhada, como a maioria dos pais separados fazem.

— Isso não vai ser tão simples assim Anelise.

— Eu sei, mais uma vez eu sinto muito e espero que isso seja resolvido, qualquer coisa é só me ligar — diz. Despeço-me dela e saio de lá, minha cabeça está a mil por hora, não sei o que pensar. E se essa Bianca não quiser que eu tenha contato com o meu filho?

Assim que chego no restaurante, encontro Gary na mesa onde sempre ficamos. Vou até ele e me sento.

— Como vai o papai do ano? — comenta brincalhão.

— Mal… Se eu te contar o que aconteceu, você vai ficar chocado. — respondo com um suspiro, ainda sem acreditar no que aconteceu.

— Não deu certo?

— Deu certo, mas acontece que Anelise inseminou a mulher errada. Pelo que eu entendi, ela teve um problema com a minha irmã e o filho dela, a Sandra acabou não indo trabalhar para ajudar a resolver a situação e ela ficou toda atormentada com a história da minha irmã e cometeu esse erro.

— Isso é loucura, essa mulher pode processar a Anelise e ela pode perder a licença médica. — ele entra em modo advogado e explica a situação.

— Eu sei Gary, além de encontrar essa mulher, eu ainda tenho que convencer ela a não processar a Anelise porque senão isso vai virar uma bola de neve e se juntar com o problema da minha irmã.

— Cara você está ferrado…

— Eu sei Gary, não era isso que eu queria quando decidi que seria pai solo.

— Bom, eu posso ver se tem alguma maneira legal de te ajudar, isso se caso a tal Bianca quiser processar a Anelise. Afinal, quem é essa Bianca?

— Vou ficar agradecido meu amigo, Anelise me deu algumas informações sobre ela.

— E a história só se complica, o fato dela ter dado a você informações confidenciais sobre a paciência configura crime.

— Gary foca no que é importante. Deixa essas coisas legais para depois.

— Não consigo, é instinto de advogado, ela deveria ter marcado um encontro entre vocês e não ter te dado essas informações.

— Ok Gary, mas escuta o que eu vou te dizer, quantas docerias existem na cidade com o mesmo nome?

— Nenhuma, eu acho. Mas o que isso tem haver com a sua situação?

— Qual a possibilidade da tal Bianca que foi inseminada ser a dona da doceria que a sua namorada também é a dona?

— Alice não é minha namorada, mas eu diria que é praticamente impossível. É ela?

— Veja por aí mesmo e me confirme se é real a minha suspeita. — digo entregando as informações para ele. Enquanto ele lê, seus olhos se arregalaram. — É ela? — faço a mesma pergunta que ele me fez há alguns minutos.

— Sim, é ela. — ele diz sem acreditar

— Que porra!! — Me sinto inconformado com essa situação.

— É você está fudido Connor.

3

A vida inteira esperei uma resposta

É engraçado como tudo aconteceu

Quando parei de esperar.

Destino, NX Zero.

Bianca Drummond

Desde que Nick morreu, nunca me senti tão feliz como nesse final de semana. A entrega desse bolo de casamento meio inusitado foi perfeita, a decoração estava linda e o bolo ficou exatamente como os noivos desejavam. Mas como nem tudo é perfeito, na segunda-feira recebi uma visita um tanto inesperada na minha casa.

— Quem é você? — pergunto ao abrir a porta. Eu me lembrava desse homem, eu o vi no consultório da doutora Sandra, mas dessa vez ele está acompanhado

— Quem está aí, Bibi? — Alice diz aparecendo na porta. — Gary?

— Conhece eles? — questiono, virando-me para ela.

— Sim. A empresa dele sempre encomenda as coisas da confeitaria e eu às vezes eu levo até a empresa. — diz apontando para eles homem.

— Sei, mas o que estão fazendo aqui?

— Preciso falar com você. Bianca, não é? — o homem do consultório diz.

— Sim, mas acredito que não temos nada para falar. Não nos conhecemos. — retruco.

— O que eu tenho para lhe dizer é do seu total interesse.

— O que seria do meu interesse? Afinal de contas eu nem te conheço.

— Meu Deus, como você é difícil, garota. Eu hein... — fala, começando a se irritar.

— Não me chama de garota. Eu tenho nome, sabia? — digo irritada. Quem esse cara pensa que é para aparecer na minha casa assim?

— É garota, sim. Estou aqui tentando conversar com você e você fica dando chilique.

— Ah, mas você vai ver quem é a garota, seu insolente... — digo e entro em minha casa novamente.

— Não deveria ter falado isso... — ouço Alice dizer.

Pego um copo com água e volto para a porta, jogando a água no rosto do homem atrevido. Alice começa a rir descontroladamente, o amigo do homem também ri.

— Sua maluca! Qual é o seu problema? — Ele me parece bem irritado.

— Experimente me chamar de garota novamente, seu ridículo.

— Deveria controlar sua amiguinha, Alice. — fala irritado, tentando se secar

— Lembrou de mim, querido? — ela retruca, divertida.

— Claro, nós nos esbarramos algumas vezes na minha empresa, e você sempre foi grosseira comigo, Alice.

— É claro, você se acha o dono do mundo.

— Não, eu apenas não dou liberdade para algumas pessoas e certamente você sempre me pega nos dias ruins. — diz ácido.

— Ainda quero saber o que estão fazendo na minha casa. — interrompo a briguinha dos dois.

— Você é bem chatinha, hein. Coitado do meu filho se puxar esse seu gênio.

— Agora você ficou doido, acho que está precisando se refrescar novamente — ameacei, sem ter ideia do que ele está falando.

— Fica calma, Bianca. Entrem, vamos ver o que vocês têm para dizer. — Alice diz educadamente

— Nenhum de vocês vai entrar na minha casa. — reclamo.

— Bibi, se controla. Você lembra do Gary? Ele já foi na confeitaria várias vezes.

— Sei, eu lembro sim.

— Então sabe que eles não são tão estranhos assim — argumenta Alice.

— Ele sim, mas esse aí, não conheço. Nem sei o nome — falo apontando para o homem.

— Não seja por isso. Meu nome é Connor, e você está carregando um filho meu — diz tranquilamente.

— Como é que é? Você está louco. Como sabe que eu posso estar grávida? Eu nunca te vi, só naquele dia no consultório da doutora Sandra. É impossível eu estar grávida de você. Eu tenho consciência do doador que eu escolhi e com certeza não é você. — digo.

Seus olhos se transformam em uma mistura de raiva com decepção e, não sei por qual razão, isso machuca meu coração.

— Olha, aqui na porta não é lugar para essa conversa. Entrem e se sentem — Alice insiste, eles entram e se sentam. Eu me sento na poltrona na frente deles.

— Eu não sou nenhuma maluca, mas você me insultou na minha própria casa e isso eu não admito, posso ter passado dos limites e agido como uma menina mimada, mas isso que você está dizendo é loucura. O que te leva a pensar que eu estou grávida de um filho seu? Eu fiz um procedimento para ser mãe solo, mas você não é o doador que eu escolhi. — falo, da maneira mais educada possível. Aquele olhar dele me tocou de uma maneira estranha e me desarmou completamente.

— Sei que é estranho, mas houve um erro médico naquele dia. Você foi atendida pela Anelise, certo? — Connor começa a falar.

— Sim, a Sandra teve um problema naquele dia. Conheço bem o trabalho da Sandra, então me consultei com a doutora Anelise pois acredito que ambas possuem a mesma competência.

— Naquele dia, uma amiga faria uma inseminação artificial, mas você que fez no lugar dela.

— Como isso é possível? — O medo toma conta de mim, isso não pode ser verdade.

— Vocês têm o mesmo nome, as funcionárias fizeram uma confusão no prontuário e acabou acontecendo essa confusão…

— Isso só pode ser brincadeira... não tem como ser verdade isso. Isso não... — Eu estou desesperada, o meu desejo de ser mãe solo está indo pelo ralo, um momento especial que deveria ser apenas minha, está prestes a se tornar de outra pessoa.

— Eu sei que é loucura, mas você não tem que se preocupar, já pensei em tudo — Connor fala despreocupado

— Em tudo o quê?

— Você segue com a gravidez. Quando o bebê nascer, você me entrega e seguimos nossas vidas separados. Assim não precisará ter contato nenhum com o bebê. — ele explica de uma maneira tão natural que está me dando uma ânsia horrenda.

— De maneira nenhuma vou aceitar isso, eu quero ter um filho e esse foi o motivo da minha inseminação, não posso simplesmente entregá - lo a você como se isso não significasse nada para mim, isso é loucura. — quase grito, mas me arrependo em seguida porque não posso me estressar dessa maneira, caso contrário pode ser prejudicial para o bebê.

— E por qual motivo eu estaria louco? É meu filho, você não precisa, ou melhor, não tem direito algum sobre ele.

— Escuta, Connor, de maneira alguma eu vou aceitar isso. É o meu corpo e esse bebê é meu, está no meu ventre e você não irá tirá-lo de mim.

— Bianca, é o meu filho! Eu tenho o direito de fazer o que eu quiser! — grita nervoso.

— Você está na minha casa, abaixa o tom de voz! Está pensando que é quem?! Eu já disse e repito: você não vai tirar esse bebê de mim. — grito de volta.

Ninguém nunca ousou gritar comigo e não vai ser um estranho que vai fazer isso, porque é isso que Connor é, um estranho.

— Por favor, não gritem, para tudo tem uma solução, vocês podem ter a guarda compartilhada, agora não é hora de discutir isso. Se continuarem a brigar assim, ambos não serão uma boa influência para essa criança — Alice diz.

Ela é a pessoa mais sensata que conheço, não grita com ninguém e é um doce de pessoa, mas se alguém levantar a voz um pouquinho com ela, Alice se transforma completamente.

— É verdade, vocês deveriam se controlar. Acredito que uma criança tem que crescer em um lar harmonioso e com pais que se respeitam, independente se estão juntos ou não. Eu lhe disse que talvez dividir a guarda com a mãe seja a opção, Connor ela quer o bebê tanto quanto você, e a solução é vocês terem uma relação harmoniosa e dividirem a guarda do menor. — Gary concorda com Alice, nada me tira da cabeça que esses dois têm algum lance.

— Pois bem, vamos fazer assim: quando começar a sentir os sintomas de gravidez, você me liga e conversaremos melhor sobre o assunto. — Connor sugere.

— Só vou te ligar quando tiver a confirmação. Antes disso, não.

— Por que gosta de complicar as coisas? — diz em um tom irônico.

— Por que acha que tudo tem que ser do seu jeito? — provoco.

— Por favor, sem brigas — Alice pede.

— Estamos combinados então. Voltamos a nos ver em breve. Connor, vamos? — Gary diz.

— Vamos. Até qualquer dia, Bianca.

— Espero não te ver tão cedo, Connor.

— É recíproco, querida. — Seu tom de ironia me irrita e ele parece saber disso. — Adeus — diz assim que fecho a porta.

— O que foi isso, amiga? — digo me deitando no sofá onde Alice está sentada e colocando minha cabeça na sua perna.

— Eu não sei, Bibi. Agora o que nos resta é esperar para saber se a inseminação realmente funcionou e você está grávida do Connor, acho que seria legal você falar com aquela doutora para tirar todas as suas dúvidas e depois seguir com as nossas vidas.

— Ali a minha vida vai mudar completamente. Não quero ter outra pessoa na minha vida além do bebê.

— Você não quer que o Connor faça parte da sua vida?

— Eu realmente não quero isso, é loucura pensar que uma coisa que eu sonhei tanto, está se tornando um pesadelo. Eu penso no Nick, esse era o nosso sonho, agora vou ter que dividir isso com outra pessoa além de mim. Eu penso nele todos os dias da minha vida, desde a hora que levanto até quando vou dormir.

— Sei o quanto ama o Nick, mas está na hora de seguir com a sua vida. Você o ama isso é fato, mas não tem por que ficar desse jeito, você precisa viver e não sobreviver, como tem feito nos últimos anos.

— Eu sei, Ali. Mas o Nick é uma parte de mim, e eu o amo.

— Todos que te conhecem sabem disso, vocês se amavam muito, era lindo ver o amor que exalava de vocês. Infelizmente, a vida o tirou de você, mas não é preciso continuar vivendo assim, apenas se lembre dos momentos que tiveram juntos, dos momentos felizes.

— Vou tentar fazer isso. E quanto ao que eles disseram?

— Vamos esperar e ver no que vai dar, mas lembre-se da palavra Maktub: já estava escrito. É para acontecer — Ali diz acariciando meus cabelos.

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