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Curativos neste coração partido (tremendo de frio)

Curativos neste coração partido (para este coração) — Corazón Partío – Alejandro Sanz

Bianca Drummond

As semanas passaram em uma lentidão total, eu torcia para os sintomas da gravidez chegarem, eu quero ter um filho essa foi a razão de ter feito o procedimento, mas isso significaria que o bebê é do Connor também, eu preciso conversar com a doutora Anelise e saber como tudo isso aconteceu, mesmo ele tendo me falado a versão dele, eu preciso ouvir a dela. As minhas preces foram ouvidas: hoje levantei com um belo enjoo matinal como nunca senti na vida, foi muito nojento. Pensei em ligar para Connor muitas vezes, mas não sei o motivo. Desde que perdi o Nick, faço terapia com uma psicóloga e tem me ajudado muito, hoje tenho consulta e estou pensando se me abro com ela sobre a gravidez, quando senti que queria ter um bebê, não contei a ela dessa vontade, na verdade quem sabe disso é somente a Alice.

— Ei, que cara é essa? — Ali diz entrando na cozinha.

— Enjoo matinal, pior coisa que existe. — respondo tomando um gole do meu café.

— Bem, isso significa que...

— Isso não significa nada, Alice. É só um bendito enjoo.

— Nasci para te ver toda irritada assim em pleno café da manhã. — Ela ri.

— Vai tirar uma com a minha cara a essa hora da manhã? Tenha dó, hein, tenha dó... — retruco irritada.

— Meu Deus, não tinha reparado como você fica quando está irritada, é muito engraçado. — E ri outra vez.

— Já deu, não é?

— Amiga, você tem um autocontrole incrível e te ver sucumbindo aos hormônios é bem interessante — gargalha.

— Não vou ficar aqui ouvindo suas doideiras, eu vou trabalhar. — Levanto e vou para o meu quarto, mas não tenho nem tempo de tirar meu pijama, outro enjoo me atinge em cheio. Só consigo correr para o meu banheiro... e lá se vai meu café da manhã. — Até quando isso, hein? — pergunto, passando minhas mãos pelo meu rosto a fim de me acalmar, ainda preciso ir trabalhar.

A confeitaria está lotada logo pela manhã, são tantos pedidos, sem contar as encomendas para o final de semana e dois casamentos para organizar. Estou concentrada decorando alguns muffins quando um dos meus funcionários se aproxima.

— Bianca, você tem visita.

— Quem está aqui, Mario?

— Seus sogros. Estão no escritório. — O que será que a Beatrice e o James estão fazendo aqui?

— Obrigada, Mário. Pode terminar isso para mim?

— Claro, chefe... — concorda e sorri.

Ele é o meu funcionário mais antigo e um bom amigo também com seus inúmeros conselhos. Durante esses anos eu o conheci melhor, seus filhos e esposa são ótimas pessoas, sempre que posso faço uma visita e levo a sua filha mais nova para um passeio, já que é minha afilhada. Eu me afastei um pouco depois de tudo que aconteceu, mas sei que ela entende o que aconteceu comigo e é bem compreensiva. Entro em meu escritório, dou um abraço em ambos e me sento:

— Aconteceu algo? — pergunto preocupada.

— Não, querida. Sabe que nos preocupamos com você, tem um tempo que não vemos você. — Beatrice me tranquiliza.

— Eu estou bem, atolada de trabalho e sem tempo para nada — digo com um meio sorriso.

— Como tem andado essas últimas semanas? — James pergunta.

— Eu estou bem, gente, é sério. Com o tempo a dor diminui.

— Sabemos, meu bem. Tem falado com a sua mãe?

— Falei com ela essa semana, ela me disse que pretende me visitar em breve, no próximo mês talvez.

— Que bom, quando ela chegar diga para ela nos fazer uma visita — James me diz, e sorrio em resposta.

— Bianca, hoje nós conhecemos uma pessoa muito especial.

— Quem?

— O rapaz que recebeu o coração do nosso filho. — As palavras de Beatrice me atingem em cheio, não estou preparada para esse tipo de conversa.

— O quê? — Sinto meus olhos lacrimejarem.

— Eu sei que ainda é difícil para você, assim como é para mim e para o James, mas Bianca, você é jovem e tem que se permitir amar novamente.

— Eu amo tanto o Nick que não sou capaz de amar outra pessoa assim — confesso com a voz falha.

— Não é necessário deixar de amá-lo, meu bem, só tente viver novamente. E como eu disse, permita-se amar de novo.

— Beatrice, é muito difícil.

— Meu amor, mudanças são necessárias. Sabemos o quanto você amou nosso filho, mas não aguentamos mais te ver assim, triste e afundada no trabalho. — James, com todo esse carinho de pai, me encanta.

— James, eu realmente me atolei no trabalho, faz um tempo que não tiro uma folga, exceto nas segundas quando temos uma encomenda grande como casamentos... Há um tempo que eu não vejo minha afilhada, era tão bom sair com ela pelo Central Park e ir aos parques de diversões que vira e mexe chegam aqui na cidade... — digo me lembrando das coisas que eu fazia com frequência.

— Está vendo, meu bem? A dor te deixou assim sem poder curtir esses momentos com aquela pequenina, com certeza ela está sentindo muito a sua falta.

— Eu acho que sim, mas me digam mais sobre o rapaz que recebeu o coração do Nick. Ele mereceu esse privilégio?

— Ele é um bom homem, nos agradeceu até o último minuto que estivemos com ele, Connor foi um homem digno de receber o coração do Nick. — Quando Beatrice diz o nome do homem, meu coração quase salta do meu peito, não tem como ser o mesmo Connor, não mesmo. Estamos em Nova Iorque, o que mais tem é pessoas com esse nome.

— Fico feliz por isso, Beatrice. Ele ajudou muitas pessoas ao se tornar doador de órgãos.

— Sim, nosso filho foi um homem de se admirar. — James faz uma pausa antes de se despedir. — Querida, temos que ir, prometemos visitar o Chris hoje, sabe como aquele garotinho é. — Sorrio para eles, Chris é filho do sobrinho deles, que passou a ser criado por eles desde seus quinze anos, quando perdeu os pais, tanto que Chris os chama de avós.

— Conheço muito bem aquele menino sapeca, diga a ele que em breve vou visitá-lo, aproveitem e levem um bolinho para ele, podem pegar na vitrine.

— Diremos, meu bem — Beatrice responde. Despeço-me deles e, assim que saem, fico na minha sala divagando por um bom tempo.

…..

Estou na minha consulta com a minha psicóloga, ela me olhava atentamente esperando que eu diga algo, mas nada sai. É como se tivesse alguma coisa entalada na minha garganta.

— Bianca, estou preocupada. Nós estávamos evoluindo bem, porém estamos aqui faz um tempo e você não diz nada.

— Aconteceu uma coisa. — finalmente consigo falar.

— Imagino que sim, me conte mais, Bianca, só assim poderei ajudar.

— Eu... eu... eu...

— Se acalme, pense em momentos felizes e em coisas que te tragam paz.

— Eu... — Antes de continuar, respiro fundo e digo de uma vez: — Eu acho que estou grávida.

— Grávida? Como assim? Está se relacionando com alguém? Isso é maravilhoso, Bianca, sabemos o quanto sofreu pelo Nick, mas essa é uma boa notícia.

— Não, Isis, isso é bom, eu decidi que queria ser mãe e por isso realizei uma inseminação, mas houve uma confusão e o sêmen que foi utilizado na minha inseminação foi de outro homem, não do doador que eu escolhi.

— Como isso aconteceu? Seja mais clara.

— Eu fui realizar o procedimento com a minha ginecologista e houve uma confusão, troca de portuários e eu acabei sendo inseminada com o sêmen errado.

— Entendo. E como sabe que isso aconteceu?

— O pai do bebê foi no meu apartamento tem algumas semanas e me disse isso, não nego que torci para que fosse mentira, mas hoje pela manhã comecei a ter os primeiros sintomas. — Omito algumas partes, como o fato de eu ter jogado um copo de água na cara do Connor.

— É uma situação incomum, Bianca. Aconselho que você procure a médica e converse com ela e tente entender como isso foi possível. Fico feliz que tenha tomado a decisão assim, mas não sei se você está pronta para esse passo gigante, sabe que esse bebê não vai te fazer sentir menos a falta do Nick, não é? É uma vida que você está carregando, ele não pode servir para uma válvula de escape.

— Não me sinto assim, isso é o que eu sempre quis, ser mãe e eu me sinto melhor do que nos últimos anos, eu escolhi ter esse bebê agora, mas ele nunca será como uma válvula de escape para mim.

— Fico satisfeita de ouvir isso, me conte como está sendo essa situação para você? Já que não vai mais ser mãe solo.

— Não sei como me sentir com essa situação. E tem mais, os pais do Nick foram me ver hoje.

— E como se sentiu nesse encontro? Pelo que me contou estava evitando vê-los.

— Eu não sei, eles me falaram que conheceram quem recebeu o coração do Nick.

— Como se sentiu?

— Eu não sei, Isis, meus sentimentos estão uma bagunça…

Estou em casa, pensando em tudo que falei com Isis. Ela me disse que se talvez eu me distanciar de tudo isso, eu me sinta melhor. Porém, ficar longe de tudo não está nos meus planos tão cedo.

— O que aconteceu? Você está pensativa. Está melhor? — Alice pergunta. Ela está toda arrumada, enquanto eu estou de pijama no sofá.

— Estou bem, vai sair?

— Sim, com Gary. Deveria vir, Connor vai estar lá também.

— Não vou encontrar com aquele maluco, prefiro ficar em casa mesmo, é mais seguro.

— Por favor, vamos comigo? Faz tempo que não saímos juntas.

— Você já tem companhia, Alice.

— Na verdade, não tenho. Gary apareceu na confeitaria hoje e disse que ia na 1Oak, aí ele me chamou para ir e de quebra disse para você ir também já que Connor estará lá.

— E o que eu tenho a ver com isso?

— Não seja azeda, Bibi. Vamos lá, vai ser legal. Por favorzinho!

— Por que quer tanto que eu vá?

— Eu quero que se divirta um pouco, já faz tanto tempo. Só hoje vamos esquecer de tudo, essa história louca de gravidez, o luto, os problemas, hoje seremos apenas duas brasileiras se divertindo como se fosse a primeira vez em Nova Iorque. O que me diz?

— Tudo bem. Vamos lá. — Isis me disse que eu precisava de novos ares, talvez isso seja o início para minha melhora e quem sabe eu me permita viver novamente.

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