8

Algo no seu jeito de se mexer

Faz com que eu acredite não ser possível viver sem você

Isso me leva do começo ao fim

Quero que você fique! - Stay - Rihanna

Connor Lee

Quando levei Bianca para casa, fiquei me perguntando durante dias se ter ficado lá foi a coisa certa. Ela é só a mãe do meu filho, nunca nos envolvemos. Está certo que o fato de eu ter dormido na casa dela pode significar algo para as pessoas de fora, podem achar que temos algo, porém, o que sinto por ela é apenas gratidão e amizade. Não quero ter outro relacionamento com ninguém. Está uma noite fria e sem muita emoção, até que meu celular toca.

— Connor Lee falando. — É tão automático atender o telefone dessa maneira que me acostumei.

— Oi, Connor. É a Bianca. — Ok, estou surpreso com essa ligação.

— Bianca, a que devo a honra da sua ligação? — pergunto em um tom risonho, estou me divertindo com isso. Antes de eu sair de sua casa, eu disse que ela me ligaria primeiro. E vejam só, estou certo.

— Nós precisamos conversar. — Sua voz é séria.

— Sobre o quê? — Pelo visto a coisa é séria.

— Sobre uma certa inseminação.

— Você fez os testes de farmácia, não é? — falo com medo.

— Fiz. — É só o que ela diz.

— Qual foi o resultado? — eu estava ansioso

— Você pode vir até minha casa? Agora?

— Posso, chego aí em dez minutos.

Estou com medo da resposta dela, mas preciso, eu anseio por isso, por uma resposta. Saio às pressas do meu apartamento, estou com a cabeça a mil, pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo, só saio de modo automático e quando aperto a campainha, não imagino como cheguei aqui tão rápido. Bianca abre a porta, é a terceira vez que nos encontramos, e eu reparo melhor nela. Ela parece um anjo, seus cabelos são lindos, um loiro escuro com luzes, ela é linda demais. Do mesmo modo que eu a olho, também sou observado, com um certo tesão repreendido, eu preciso dizer:

— Você vai ficar me olhando desse jeito? Eu estou um pouco constrangido. — Ela sai do transe, me olha de cima a baixo de novo.

— Ora, não seja convencido, homem. Quem disse que eu estava olhando para você? — retruca meio irritada, acho graça nesse jeitinho dela.

— Se você diz. Então, posso entrar? — convido-me, não vim até aqui para ficar do lado de fora.

— Claro, entra, senta e fica à vontade. — Percebo a ironia em sua fala, mas se tem uma coisa que me dá prazer é irritá-la. Entro e me sento despreocupadamente, por dentro fervilhando de ansiedade.

— Boa noite, Alice. Como está? — Sua amiga aparece do nada.

— Boa noite, Connor. Estou bem, obrigada por perguntar. — agradece com um sorriso, virando-se para Bianca. — Estou de saída, baby. Tenho um encontro — cantarola empolgada, não me contenho e pergunto:

— Vai sair com Gary?

— Não, Connor. Minha vida não gira em torno do seu amigo. Beijinhos e eu não volto para casa hoje, Bibi — diz empolgada. Ela vai embora e Bianca caminha até o sofá, sentando-se de frente para mim como da primeira vez.

— Qual foi o resultado? — O medo toma conta de mim novamente.

— Positivo. — É a única palavra que sai dessa linda boquinha.

Ficamos em silêncio depois disso, sei que ela espera uma reação minha, mas nada sai. Estou feliz “pra burro”, porém não posso ser egoísta a esse ponto, sabendo que Bianca não compartilha do mesmo sentimento, quero dizer, ela quer esse filho, mas não comigo.

— Então? Não está feliz? Não era isso que queria?

— Eu estou feliz, porém não vou sair pulando como se os meus sentimentos fossem os únicos importantes nesse momento. Eu não quero que você se sinta obrigada a nada por conta do bebê, o que eu te disse da primeira vez ainda é válido.

— Você está certo, eu não queria mesmo ter um filho e conhecer o doador de espermatozóide, meu plano era de ser uma mãe solo e poder cuidar e amar essa criança só para mim, mas agora você entrou nessa equação e eu não posso obrigar você a esquecer essa criança assim como você não pode me pedir para entregar o bebê para você e esquecer que ele existe. Tudo ainda está confuso demais, esse bebê terá as suas características, nós sempre teremos um elo, e é por esse motivo que eu não posso te entregar essa criança. — ela despeja sobre mim.

— Foi um erro médico que acarretou em juntar nossas vidas, sei que passou por algo ruim, consigo ver isso em seus olhos. Eu jamais tiraria esse bebê de você, Bianca, você ainda parece não perceber, mas essa criança será a nossa redenção. — digo olhando em seus olhos, perdidos, seus pensamentos estão longe, ela me responde algum tempo depois.

— É, você tem razão quando diz que eu passei por algo ruim. Isso aconteceu e me abalou por todos esses anos, meu coração só se acalmou quando estranhamente esbarrei com você naquele dia no consultório da doutora Sandra. — diz olhando para o nada.

— Se quiser me contar, estou te ouvindo. — Seguro suas mãos.

— Acho que será bom falar, pode ser que as coisas mudem.

— Mudariam por quê? — pergunto desconfiando de que o coração que carrego em meu peito era de seu noivo, sei que ela também desconfia disso, mas só saberemos realmente se isso é verdade quando nos encontrarmos com Beatrice e James.

— Não sei ao certo. Você confiou em mim e contou sua história, hoje eu te contarei a minha, Connor.

— Estou ouvindo, Bianca.

— Eu estava noiva, há três anos. Era para eu ter me casado alguns dias atrás, até tudo desandar de vez. — Ela faz uma pausa e decido perguntar.

— O que aconteceu?

— Meu noivo foi assassinado. Ele estava no telefone comigo quando aconteceu, eu ouvi tudo, estávamos falando sobre a nossa lua de mel, ele ia me levar para conhecer a Suíça, os planos eram tantos... pude ouvi-lo abrir a porta do carro e os assaltantes apareceram, diziam repetidamente para ele dar as chaves do carro, o celular e todo o dinheiro ou ele iria morrer. — Ela para de falar, sinto nas palavras dela a dor, e, mais do que isso, sinto a dor no meu coração.

— Não precisa continuar, isso te faz mal.

— Eu preciso falar com alguém além da Alice, da minha mãe e da terapeuta. É bom, estranhamente bom. — Lágrimas caem dos seus olhos, mas ela não emite um som.

— Tudo bem. Se te faz bem falar, continue — digo segurando suas mãos.

— Obrigada... Nick tentou convencer os assaltantes de que esse não era um bom caminho, mas entenderam como resistência. Sem pensar duas vezes, atiraram em seu peito e por pouco seu coração não foi atingido. Ele morreu a caminho do hospital. Lá descobriram que ele era doador de órgãos, naquela mesma noite um homem recebeu o coração do meu amado, e outras pessoas também receberam os órgãos dele.

— Eu sinto muito pela sua perda, sei como se sente.

— Como você conseguiu superar? Você parece ter superado, pelas minhas contas perdemos as pessoas que amávamos ao mesmo tempo.

— Jasmine era minha noiva, eu a amei muito. Mas tem uma coisa que ninguém sabe, nem mesmo o Gary. Nós não iríamos mais casar, não existia mais relacionamento, ela estava grávida, mas eu não sabia.

— Não entendo...

— Namoramos desde a faculdade, antes disso crescemos juntos, eu a amei muito, mas o relacionamento acabou esfriando, conversamos e acabou que decidimos isso. Logo em seguida veio o acidente e depois descobri a gravidez, porém foi muito difícil sim, antes dela ser minha noiva, era minha amiga.

— Essa dor vai nos acompanhar para sempre, embora você e Jasmine já não possuíssem mais um relacionamento.

— Vai. É preciso aprender a conviver com a dor, Bianca, é a lei da vida. Como eu disse, Jasmine e eu estávamos separados, naquela surpresa que ela preparou para mim tinha uma carta pedindo para tentarmos de novo, pelo bebê.

— E se nada disso tivesse acontecido? Se o Nick não tivesse morrido e o mesmo com Jasmine, será que algum dia teríamos nos conhecido? — Sua pergunta me pegou de surpresa.

— Eu não sei, Bianca. Tudo tem uma razão para acontecer.

— Isso é verdade, esse assunto ainda me deixa muito mal.

— Imagino que sim.... — Eu não sei o que responder.

— Eu preciso me recompor, agora eu carrego alguém dentro de mim e pelo que eu sei os bebês podem sentir nossas emoções. — Ela sorri em meio às lágrimas, passa as costas da mão no rosto.

— Saiba que não é vergonhoso chorar ou se sentir mal.

— Eu estou assim faz três anos, Connor. Eu preciso me recuperar e me reerguer.

— Não é assim que funciona — pondero.

— Sei que não. Hoje quando olhei aqueles testes algo dentro de mim mudou.

— O luto não tem um tempo definido para acabar, sempre vai doer.

— Mas guardarei essa dor no fundo, sei que de algum modo ainda estou prendendo o Nick nesse plano, ele precisa descansar.

— Entendo...

— Preciso descansar, amanhã tenho uma reunião com alguns possíveis investidores e tudo que eu preciso é de uma boa noite de sono.

— Claro, eu já vou indo então. — Levanto-me e ela faz o mesmo.

— Connor... se não for pedir muito, pode ficar essa noite?

— Claro — concordo somente porque, talvez, só talvez, eu me sinta melhor na casa dela do que na minha.

— Bem, fique à vontade. Você já sabe onde fica o quarto de hóspedes, não se assuste se me ouvir gritar, às vezes tenho alguns pesadelos. — Sua voz é distante diante da revelação.

— Ok, boa noite, Bianca.

— Boa noite, Connor — diz e desapareceu pelo corredor.

Sento novamente no sofá e fico pensando em toda nossa conversa, Jasmine entrou nos meus pensamentos com força hoje, há tempos isso não acontecia. Eu a amei muito, nos últimos meses nossa química desapareceu, mas naquela noite em que a perdi foi doloroso demais porque ainda existia amor.

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