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Se a vida fosse fácil como a gente quer

se o futuro a gente pudesse prever...

Girassol – Priscilla Alcantara ft. Whindersson Nunes.

Connor Lee

Minha conversa com a Bianca foi bem explosiva, ela é maluca, mas, por alguma razão, eu gostei dela e eu sei que meu filho vai ser gerado muito bem. Ao decorrer da semana, trabalhei grudado no meu celular à espera de uma mísera ligação dela, pensei diversas vezes em aparecer na sua confeitaria, mas não quero que ela me julgue um perseguidor ou coisa do tipo. Confesso que na hora em que ela jogou aquele copo de água em cima do meu terno Armani, quis esganá-la ali mesmo, constatei que ela era doida de pedra. Embora nossa conversa em seu apartamento tenha evoluído, percebi que ela possui alguns traumas. Quando entrei em seu apartamento vi diversas fotos dela com um rapaz, imaginei que fosse seu namorado, mas em momento algum ela o mencionou o que me leva a pensar que talvez ele seja irmão dela, porque ela disse que fez uma inseminação para ser mãe solo.

— Com licença, Connor. O senhor Anderson e a senhora Anderson, estão aqui — Lilian anuncia. Ela é minha secretária desde que me tornei CEO, é extremamente competente e uma ótima amiga.

— Finalmente, Lilian. Peça para eles entrarem, por favor. — Ela concorda com um sorriso.

Não acredito que depois de tanto tempo consegui achar os pais do homem que doou seu coração para mim, esse encontro é muito importante. A porta se abre novamente e o casal entra, parecem jovens, e a forma que se olham é digna de um bom filme romântico. Indico as cadeiras à minha frente para que se sentem.

— Bom dia, senhor Anderson e senhora Anderson. Desejam um café, chá ou água?

— Dois cafés, por favor — o homem diz. Lilian, que ainda está na porta, concorda silenciosamente e sai fechando a porta.

— Eu não sei o que dizer, esperei tanto por este encontro... — Estou em êxtase.

— Se acalme, filho, e nos diga por que essa aflição toda — a senhora diz com um belo sorriso de mãe.

— Eu procurei tanto por vocês que não me preparei para este momento...

— Ainda não entendo — o senhor diz.

— Os senhores sabem quem eu sou. E se aceitaram me ver, sabem o porquê, não é?

— Primeiro, querido, me chame de Beatrice e ele, de James. Sim, sabemos quem é você, também ficamos felizes pelo convite.

— Filho, você recebeu o bem mais precioso do nosso filho amado e... — James começa a dizer, mas Lilian entra na sala para entregar o café. Ela sai e ele torna a dizer: — Beatrice e eu ficamos felizes por isso, não viemos antes por causa da dor que isso nos causa, Nick era nosso único filho.

— Eu sinto muito, o filho de vocês me deu uma nova chance de viver. Quando acordei da cirurgia, coloquei na minha cabeça que iria atrás de vocês, mas, ao conversar com meus pais, eles me pediram para esperar um pouco, vocês tinham acabado de perder um filho. Pedi para que viessem para eu poder agradecer e dizer que podem contar comigo sempre.

— Querido, você ainda tem muito que viver e não precisa se preocupar com dois velhotes no seu pé — a forma que Beatrice fala é engraçada, eu gosto disso.

— Não é incômodo nenhum, eu sinto que devo cuidar de vocês e isso não será nenhum martírio.

— Nos conte um pouco sobre você — James pede, mudando de assunto.

— Eu trabalho aqui na empresa dos meus pais desde que saí da faculdade, comecei de baixo e cheguei até aqui. Este lugar é importante demais para mim, sou solteiro e meu sonho é ser pai, tenho uma irmã, Valerie, não nós falamos muito porque seu marido não gosta, mas eu espero que ela saia desse casamento e possa ser feliz novamente. — digo, omitindo a parte que Bianca começou a fazer parte da minha vida.

Quando Valerie nasceu, eu fiquei tão feliz e ajudei muito meus pais a cuidarem dela, temos uma diferença de sete anos, eu sempre apoiei ela em todos os seus sonhos desde o momento que ela entregou na adolescência até o momento em que ela se afastou de nós por conta do marido.

— Sua irmã vai conseguir sair de casamento, ajude - a, este é o momento em que ela mais precisa de você. Agora se seu desejo é ser pai, tem que encontrar alguém que compartilhe da mesma vontade que a sua. — Beatrice me parece ser uma mulher que sabe muito da vida, e eu aprecio muito isso, mas não vou falar sobre Bianca agora, sinto que não é certo.

— Eu tenho pensado muito nisso, mas Valerie está tão distante é como se ela estivesse se esvaindo da minha vida como as areias do deserto que escapam pelas nossas mãos.

— Talvez seja o momento em que você tenha que procurar por ela.

— Vou fazer isso. Eu vou encontrar a pessoa certa e que compartilhe desse sonho comigo. — Dou um sorriso sincero.

— O amor não é perfeito, filho. Pelo contrário, é cheio de falhas e complementos, em um relacionamento você não pode amar sozinho, isso tem que acontecer de ambas as partes. — James diz, e eu concordo.

— Eu sei que provavelmente vocês não querem tocar no assunto, mas eu preciso saber. Como ele era e o que de fato aconteceu? — Uma expressão de dor toma a face dos dois.

— Imaginávamos que fosse querer saber mais sobre o Nick, e entendemos, vamos te contar o que pudermos. — Beatrice diz dando um meio sorriso.

— Obrigado, é importante para mim. Quero saber se fui digno de receber esse coração.

— Com o pouco tempo que passamos com você aqui, temos certeza que é digno. Nosso filho era um homem maravilhoso e muito trabalhador, tinha um negócio próspero, ajudava a noiva na empresa dela... Bianca é uma mulher excepcional e torço muito para que ela consiga seguir em frente e encontrar um novo amor — James diz com pesar, mas não posso deixar de notar quando menciona Bianca. Seria muita coincidência ser a mesma Bianca que conheci há poucas semanas?

— A empresa dele tratava de quê?

— Era do mesmo ramo que o seu.

— E quem cuida desse lugar agora?

— Nosso sobrinho, ele era o sócio do meu filho, eles cresceram juntos — Beatrice diz sorrindo.

— Eu cheguei a pensar que jamais voltaria a sorrir, mas conforme o tempo vai passando, nós nos acostumamos com a dor. — James retoma, seu sorriso transmite tristeza.

— Eu queria dizer que podem contar comigo para o que precisarem, ficarei muito feliz em ajudar.

— Nós agradecemos, filho, mas estamos bem, nossa única preocupação é em relação à noiva do Nick. — Beatrice diz com um ar de preocupação.

— Querida, não vamos incomodá-lo com esse assunto.

— Não, James, está tudo bem. Conte-me mais, Beatrice, quero poder ajudar em alguma coisa.

— Bianca é uma mulher excepcional, mas se entregou à dor, eu não a vejo mais um sorriso verdadeiro em seu rosto desde que Nick partiu. Era para eles terem se casado ontem, desde então ela vive apenas para o trabalho na confeitaria, nós sempre que podemos fazemos uma visita, mas nada mais é como antes. Ela se fechou para o mundo, inclusive para a família, porque é isso que ela é para nós, é família.

— Entendo. Perder alguém que se ama é sempre difícil, nós nos afundamos na segunda coisa que mais amamos para não enlouquecer.

— Já se apaixonou alguma vez, querido?

— Sim, uma vez. Minha noiva também faleceu, e o pior foi descobrir tempos depois que ela estava grávida.

— Algo me diz que logo encontrará esse amor que vai abalar você de uma maneira que não conseguirá explicar o que sente aí dentro. — As palavras de Beatrice me atingem de uma maneira estranha, ainda tenho esperanças de encontrar um belo amor e viver intensamente.

— Beatrice, não diga essas coisas — James a repreende.

— Não tem problema algum nisso, James, é bom ouvir isso. Talvez eu não esteja tão perdido assim — digo com um sorriso.

— A esperança tem que ser nossa maior aliada. Agora precisamos ir, meu filho, esperamos ver você em breve — James diz e me surpreende. De início achei que ele fosse um homem muito fechado, mas vejo que só é reservado à sua maneira.

— Eu gostaria muito que mantivéssemos contato. Quanto à noiva do seu filho, acredito que logo ela sairá dessa situação.

— Nos vemos algum dia, filho. — Beatrice sorri emocionada. — Posso lhe dar um abraço? — pergunta meio tímida

— Claro. — Saio da minha cadeira e, ao abraçar essa mulher baixinha, sinto meu coração reagir a ela.

Tenho certeza de que embora seja em meu peito que esse coração está, ele ainda reconhece pessoas importantes. Não sei o que Bianca é para esse coração, mas ele ficou da mesma maneira quando a vi. Nunca fui de frequentar igrejas, mas acredito em Deus e sei que ele faz maravilhas.

Estou decidido a entrar com a encontrar com a minha irmã e ir até a casa dela pode não ser uma boa ideia, então quando pedi para que Lilian ligasse para a casa dela e pedisse para que Valerie me encontra-se em seu restaurante preferido, fiquei surpresa por ela ter aceitado, estou tão nervoso que estou batendo meus dedos na mesa, quando a vejo entrando no restaurante posso ver o quanto ela está debilitada, ela continua linda, mas parece que o amor que tinha pela vida está se esvaindo do seu ser.

Assim que ela me localizou pude ver um pequeno sorriso se formar em seu rosto magro, ela caminhou até minha mesa, eu logo fiquem em pé e lhe dei um abraço tão apertado e senti ela se livrando de todo o peso do seu corpo, senti algumas lágrimas molharem meu terno.

— Vai ficar tudo bem agora, eu sei que não fiz bem o meu trabalho de irmão mais velho, mas eu estou aqui agora.

— Eu sei, me desculpa por não ter te ouvido. — sua voz ainda estava embargada pelas lágrimas.

Ela saiu dos meus braços e se sentou na cadeira em minha frente, olhando para ela agora posso ver o quão arrependida está por tudo que está acontecendo.

— Posso pedir o de sempre? Para nós dois? — ela sorriu como uma criança.

— Claro. — retribuo o seu sorriso.

Ela chamou o garçom e pediu Filé Parmegiano e o Rigatone ao Molho de Vodka, estamos no Carbone, o melhor restaurante de comida italiana de Nova Iorque.

— Fiquei muito feliz quando Lilian ligou e disse que você queria me ver.

— Eu errei ao me afastar de você, quando na verdade você precisava de mim mais do que nunca, mamãe e papai também sentem a sua falta.

— Evan não me deixa vê-los, diz que eles são más influências e que sempre quando visito eles, meu comportamento muda e eu fico rebelde. — suas palavras tocam o fundo do meu coração e dói em saber tudo isso.

— Ele… Bate em você Valerie? — pergunto e sinto uma raiva me dominar, pois lá no fundo eu sei a resposta.

— Connor, não vamos entrar nesse assunto, eu vim aqui para resolver nossa situação como irmãos, está bem?

— Essa sua resposta, já confirmou minhas suspeitas Valerie, e tenha certeza de que no momento em que eu encontrar com Evan, eu vou encher a cara dele porrada. — digo serenamente.

— Connor, não. Você não vai fazer isso. Anelise e Sandra conversaram com Evan e ele prometeu que vai mudar, e eu acredito nele. — Ela parecia realmente acreditar na mudança do Evan.

— Você está sendo ingênua Valérie, o Evan nunca vai mudar.

— Por favor, você me chamou aqui para resolver a nossa situação como irmãos, não para falar sobre o meu marido, então por favor, respeite a minha decisão de continuar com ele.

— Valerie…

— Eu te prometo que se ele me fizer algum mal outra vez, você será a primeira pessoa que eu vou chamar.

— Não posso fechar meus olhos para essas agressões outra vez Valerie.

— Eu jamais vou te culpar se algo acontecer, a decisão de perdoar o Evan é minha e tudo que acontecer após essa decisão é responsabilidade minha.

Me mantenho em silêncio após a sua fala, e ela leva isso como um consentimento meu e sorri aliviada, nossos pratos chegaram e comemos em silêncio, não sei o que falar, essa situação está fugindo do meu controle, não posso simplesmente aceitar o pedido da minha irmã porque no próximo surto do Evan, ele pode matá-la.

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