Disso tenho certeza
Ela sorriu para mim no metrô
Ela estava com outro homem
Mas não perderei o sono com isso
Porque eu tenho um plano
You're Beautiful – James Blunt
Connor Lee
Há três anos ganhei uma nova chance de viver. Nasci com insuficiência cardíaca, mas até os meus vinte e quatro anos vivi normalmente. Não sou o tipo de homem que vive em baladas e afins, sou caseiro e muito família, atualmente trabalho na empresa dos meus pais no ramo de arquitetura. Talvez por ser tão focado no meu trabalho tive apenas uma namorada séria, ainda na faculdade, que veio se tornar minha noiva, porém, ela faleceu há quatro anos. Na noite em que soube da morte da Jasmine, passei muito mal: era como se meu coração estivesse me sufocando. Por algum tempo ignorei esse episódio, julguei ser algo emocional pelo choque da perda e do luto que se seguiu pelos próximos meses. Mas depois de um episódio de falta de ar, fui ao hospital e o médico da família disse que minha insuficiência cardíaca havia evoluído, minha situação se agravou de uma hora para a outra. Depois de uma semana internado, eu e meus pais recebemos a notícia de que havia um doador compatível comigo. O transplante mudou a minha vida completamente, ganhei uma nova chance de viver e eu vou fazer valer essa oportunidade. Sempre sonhei em ser pai, mas as mulheres com quem fiquei depois de Jasmine não queriam algo tão sério como um filho, então decidi contratar uma barriga de aluguel.
— Ainda dá tempo de desistir, meu amigo — avisa-me Gary. Embora sejamos melhores amigos, somos totalmente opostos.
— Eu já me decidi e não vou mudar de ideia.
Estamos sentados à mesa da cozinha na casa dele, decidi vir aqui antes de dar esse próximo passo na minha vida. Ele sempre esteve comigo, principalmente em momentos decisivos, como antes de eu pedir a Jasmine em casamento, nos meses de luto. E agora não poderia ser diferente.
— Cara, um bebê é muita responsabilidade... — ele diz enquanto me observa preocupado.
— É por isso que você vai ser o padrinho e vai me ajudar nessa tarefa — afirmo com um sorriso.
— Me deixa fora disso, não sou bom com crianças — rebate com firmeza. Eu rio antes de dar uma mordida na pizza que sobrou de ontem à noite.
— Você é sim, eu lembro de como cuidava da sua irmã — acuso brincando, mas com um fundo de verdade.
— Só para deixar claro que eu era obrigado. — defende-se, há uma careta em seu rosto. Rimos com as memórias da nossa adolescência até que ele retoma o assunto: — A Bianca não é uma boa escolha, ela é insuportável e de caráter duvidoso.
— Ela é assim mesmo, mas foi minha melhor opção. Quantas Biancas você conhece?
— Existem tantas Biancas na cidade. Eu, por exemplo, conheço uma. — Eu o encaro curioso, fazendo sinal para continuar. — É uma amiga da Alice.
— E quem é Alice? — pergunto, estranhando o nome.
— Uma amiga — responde evasivo, a expressão um pouco perdida.
— Conheço bem o seu tipo de amiga — brinco, esperando-o continuar. Ele toma um gole de café.
— Alice é diferente, ela não é alguém sem importância. — confessa um pouco hesitante, encarando a caneca em suas mãos.
— Sente algo a mais por ela?
— Sinto, só não sei o que é. — confessa.
— Isso, meu amigo, se chama amor. — Sorrio triunfante.
— Também não é assim, Connor...
— Sei. Por um acaso essa Bianca é a dona da doceria que minha mãe sempre contrata? — Ele confirma com um “uhum” enquanto mastiga o último pedaço de pizza. — E por que eu não a conheço?
— Alice é quem sempre acompanha as entregas quando Bianca está muito atarefada na confeitaria, mas ela já esteve na empresa uma vez.
— Eu não a vi. — digo conferindo o relógio. — Já está na minha hora, você vai comigo?
— Bem que eu queria, embora ache isso uma loucura, mas tenho um cliente agora. — Gary é advogado e gosta de encontrar seus possíveis clientes em restaurante, ele diz que essa maneira informal é o que faz com que ele consiga tantos clientes.
— Podemos nos encontrar depois?
— Com certeza, eu terminando com o cliente te ligo.
— Certo, eu já vou. Te vejo depois — digo a ele e fazemos um toque de mão antigo de quando ainda éramos adolescentes.
Saio de sua casa, entro no carro e dirijo para o consultório da doutora Sandra Nassif, a melhor obstetra e geneticista do país, junto com sua irmã, a doutora Anelise. Eu as escolhi porque elas são as melhores quando o assunto é fertilização e inseminação.
Assim que adentro o enorme edifício, não há ninguém na recepção, o que é estranho. Como eu sei qual é o andar do consultório, sigo para o elevador. Quando saio, tem uma agitação em frente à mesa da secretária e parece envolver a mulher que eu contratei para ser minha barriga de aluguel. Enquanto caminho até lá, uma baixinha bate de frente comigo, e quando digo baixinha é porque é baixinha mesmo. Olho para seu rosto e meu coração parece que vai sair do meu peito a qualquer custo, sinto uma necessidade enorme de abraçá-la e dizer que sinto a falta dela, mas obviamente não digo isso, afinal de contas ela me acharia um louco.
— Me desculpa, estava distraída. — Sorri envergonhada. Eu a conheço, só não sei de onde.
— Não tem problema, moça bonita — digo, e ela fica visivelmente envergonhada. Que merda, Connor, moça bonita, é sério? Você é patético.
— Bianca... — a mulher ao seu lado a chama. Então esse é o nome dela, interessante...
— Hã... Vamos? — a moça bonita diz à sua amiga.
— Vamos — a amiga responde rindo.
Nós nos olhamos uma última vez antes da porta do elevador fechar. Estranhamente, sinto outra vez aquele aperto no peito ao vê-la partir.
— O Connor chegou — ouço a doutora Anelise falar. Saio desse transe e vou até elas.
— Bom dia, aconteceu alguma coisa?
— É claro que aconteceu, essa médica irresponsável inseminou outra mulher em vez de mim. — Bianca, minha barriga de aluguel, diz.
Se tem uma coisa que odeio é gente querendo ser melhor que os outros. Esse é um dos defeitos da Bianca, eu só a escolhi pois a conheço desde a época da faculdade, era minha amiga e ela sempre quis algo a mais do que eu podia oferecer. Quando nós nos reencontramos e lhe contei da minha vontade de ser pai, ela se ofereceu para ser minha barriga de aluguel. Eu não deveria ter aceitado, bem que Gary disse que não daria certo isso com a Bianca.
— Diga alguma coisa, Connor — Anelise chama minha atenção, apreensiva.
— Isso é sério? Quem é essa mulher? — Não vou negar que estou abalado com a notícia.
— Podemos conversar na minha sala se quiser. — Anelise sempre é muito atenciosa comigo, eu a conheço tem quase uma vida, nossas famílias são amigas há gerações, tanto que minha irmã é casada com o filho dela. Concordo prontamente.
— Eu não acredito nisso... — Bianca reclama, acabando com a minha paciência.
— Bianca, sem chiliques, por favor. Agradeço por ter se oferecido para me ajudar, mas não podemos fazer mais nada. Obrigado de verdade, mas não vai haver mais inseminação, ao menos não em você.
— Você vai se arrepender disso, Connor! — diz e sai pisando duro como uma garotinha mimada.
— Podemos?
— Claro. — Sigo-a até a sala de Sandra e sentamos um de frente para o outro.
— Em primeiro lugar, quero dizer que sinto muito por isso, esse erro nunca tinha acontecido antes. Na carreira que eu escolhi não pode haver erros, Connor, eu sinto muito.
— Você a conhece? — Não quero gritar com ela, estou tão abalado e triste com a situação
— Sim, é uma mulher incrível. Ela estava aqui para fazer uma inseminação e com a troca dos prontuários acabei não percebendo o erro, ambas possuem o mesmo nome, mas o sobrenome é diferente, eu estou tão atordoada hoje que acabei não notando a troca.
— Minha mãe me contou o que aconteceu, eu sinto muito por isso, mas eu preciso saber quem é ela, Anelise. Ela está carregando meu filho. Como isso foi acontecer?
— Eu vou te dar todas as informações que precisa. Não sei como, mas a secretária deve ter trocado os prontuários, e eu acabei não percebendo esse erro.
— Me diga onde ela mora, vou agora mesmo até lá.
— É melhor esperar uns dois dias. Ela pode achar que você é um louco, se quiser peço para ela vir até aqui.
— Não precisa, eu mesmo resolvo essa situação.
— Não seja direto, ela vai te achar louco. E, por favor, espere dois dias, no mínimo. — Anelise insiste, entregando-me uma pasta, que provavelmente contém as informações necessárias. — Não é como se ela fosse fugir de uma hora pra outra. A vida dela é aqui.
— Então você a conhece? — pergunto desconfiado.
— Não, eu a conheci hoje, mas sei que ela é dona de uma doceria. Sossega, não tem motivos para que ela vá embora.
— Tudo bem, vou resolver umas coisas e falar com a minha mãe. Obrigado, Anelise.
— Eu sei que você só não surtou e brigou comigo por causa da sua irmã, mas eu vou entender se quiser me processar e me denunciar para o conselho de medicina.
— Não vou fazer isso com você. Vou convencer essa mulher a fazer o mesmo que eu, afinal é meu filho, ela não precisará ter contato algum com ele.
— Não é bem assim Connor, ela veio até aqui na intenção de ter um filho também, e se a inseminação tiver dado certo, duvido que ela lhe entregue o bebê.
— O que você sugere?
— Sugiro que conversem e tenham uma guarda compartilhada, como a maioria dos pais separados fazem.
— Isso não vai ser tão simples assim Anelise.
— Eu sei, mais uma vez eu sinto muito e espero que isso seja resolvido, qualquer coisa é só me ligar — diz. Despeço-me dela e saio de lá, minha cabeça está a mil por hora, não sei o que pensar. E se essa Bianca não quiser que eu tenha contato com o meu filho?
…
Assim que chego no restaurante, encontro Gary na mesa onde sempre ficamos. Vou até ele e me sento.
— Como vai o papai do ano? — comenta brincalhão.
— Mal… Se eu te contar o que aconteceu, você vai ficar chocado. — respondo com um suspiro, ainda sem acreditar no que aconteceu.
— Não deu certo?
— Deu certo, mas acontece que Anelise inseminou a mulher errada. Pelo que eu entendi, ela teve um problema com a minha irmã e o filho dela, a Sandra acabou não indo trabalhar para ajudar a resolver a situação e ela ficou toda atormentada com a história da minha irmã e cometeu esse erro.
— Isso é loucura, essa mulher pode processar a Anelise e ela pode perder a licença médica. — ele entra em modo advogado e explica a situação.
— Eu sei Gary, além de encontrar essa mulher, eu ainda tenho que convencer ela a não processar a Anelise porque senão isso vai virar uma bola de neve e se juntar com o problema da minha irmã.
— Cara você está ferrado…
— Eu sei Gary, não era isso que eu queria quando decidi que seria pai solo.
— Bom, eu posso ver se tem alguma maneira legal de te ajudar, isso se caso a tal Bianca quiser processar a Anelise. Afinal, quem é essa Bianca?
— Vou ficar agradecido meu amigo, Anelise me deu algumas informações sobre ela.
— E a história só se complica, o fato dela ter dado a você informações confidenciais sobre a paciência configura crime.
— Gary foca no que é importante. Deixa essas coisas legais para depois.
— Não consigo, é instinto de advogado, ela deveria ter marcado um encontro entre vocês e não ter te dado essas informações.
— Ok Gary, mas escuta o que eu vou te dizer, quantas docerias existem na cidade com o mesmo nome?
— Nenhuma, eu acho. Mas o que isso tem haver com a sua situação?
— Qual a possibilidade da tal Bianca que foi inseminada ser a dona da doceria que a sua namorada também é a dona?
— Alice não é minha namorada, mas eu diria que é praticamente impossível. É ela?
— Veja por aí mesmo e me confirme se é real a minha suspeita. — digo entregando as informações para ele. Enquanto ele lê, seus olhos se arregalaram. — É ela? — faço a mesma pergunta que ele me fez há alguns minutos.
— Sim, é ela. — ele diz sem acreditar
— Que porra!! — Me sinto inconformado com essa situação.
— É você está fudido Connor.
…
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 34
Comments
Sineia Soares
Ele com o coração do namorado dela que coincidência 😍
2024-04-04
0
Virginia
Imagina que loucura ambos querendo ter filho solo e acontece uma situação como essa.
2023-03-27
1