Laila- O Vestido de Noiva

Eu não consegui dormir essa noite, essa história de casamento está acabando com minha sanidade, é tanta coisa para pensar e fazer que eu estou emagrecendo, meu cabelo está caindo e só faço chorar, acho que vou chegar no dia igual à noiva cadáver.

Eu quero que seja um momento especial e principalmente que seja uma cerimônia simples, porque o importante é estarmos juntos e felizes.

Mas a minha sogra veio para infernizar a minha vida. Estou pensando em como driblar os meus encontros com ela, ao menos até o casamento. Ela quer opinar em tudo, até no número de convidados.

Vou para a escola e dou as três primeiras aulas do período, as duas últimas estou com horário vago. Entro na sala dos professores para corrigir algumas provas e uma das professoras toma um café e fuma um cigarro. Eu não me sinto bem com a fumaça e começo a tossir. Ela acha que eu estou fazendo de propósito e sai com uma conversa atravessada que me deixa chateada, ela fala para um outro professor que está entrando sem saber o que está acontecendo:

__ A protegida do prefeito e da primeira-dama não gosta da fumaça.

Eu finjo que não entendo a indireta e olho para a mulher que está soltando fumaça igual a um dragão. O professor também não entendi e a deixa falando sozinha. Eu fico pensando se de alguma forma ela conseguiu me atingir, mas não dou confiança. Se ela queria estragar o meu dia perdeu seu tempo, porque eu não estou aqui com ajuda de ninguém, sou concursada e tenho capacidade para assumir o meu cargo.

A professora amarga não conseguiu tirar minha paz, mas em compensação uma ligação me tirou da órbita da terra:

__ Amor, você já terminou as aulas?

Calebe me ligando a essa hora, aguça minha curiosidade e eu respondo, igual a uma idiota, achando que ele queria me encontrar para um namoro mais apimentado. Se eu soubesse para o que seria, eu não teria atendido:

__ Oi amor, eu já terminei, estou arrumando minhas coisas para sair, você está precisando de mim?

Falo com a maldade na cabeça e já com a intimidade batendo palminhas.

__ Sim, é que a mamãe está aqui na cidade com meu pai, vieram para uma reunião do partido e está perguntando se você quer uma ajuda para olhar o vestido de noiva?

Foi o mesmo que me colocar em uma banheira de gelo. Respiro fundo e tento ser gentil:

__ Amor, você sabe que eu estou esperando as madrinhas chegarem, elas irão comigo para olharmos o vestido, eu não posso olhar isso agora.

Ouço uma voz austera ao fundo e isso sim me deixa muito chateada:

__ Não são as madrinhas que olham essas coisas, é a mãe da noiva e a do noivo, onde já se viu dar mais importância para as madrinhas. Na hora do sufoco madrinha alguma vem ajudar, quem ajuda é a mãe e a sogra...

Ela está falando igual uma vitrola quebrada e Calebe não percebe que estou ouvindo tudo.

__ Tudo bem, meu amor! Eu explico para minha mãe, ela vai entender.

__ Vou entender coisa nenhuma, Calebe! Será que esse casamento vai dar certo, essa moça tem mais consideração por suas amigas, do que por nós que seremos sua família...

Ela não para de falar, e já estou muito chateada, ela conseguiu trazer o desequilibro que a outra já havia tentado. Estou de TPM e qualquer coisa pode me fazer surtar, o que eu precisava agora era só de uma lapada para acalmar.

Eu não respondo e fico muda ao telefone para não ser grossa com ele, por causa de sua mãe.

__ Amor, você ainda está aí?

__ Sim, Calebe. Estou!

Penso em como resolver essa situação da melhor maneira, e por pressão eu acabo cedendo, se eu não aceitar ele vai ouvir tantas conversas em sua cabeça que não vai conseguir trabalhar o resto da semana.

__ Tudo bem, amor! Vou chamar minha mãe e mais a tarde vamos olhar algumas lojas.

Sinto um ar de alívio em sua fala, pelo visto, ela já estava azucrinando a cabeça dele.

Chegamos a loja de noivas e começamos a ver os vestidos, Pietra me olha estranho a cada vestido que eu experimento. Eu não entendo o significado do seu rosto, mas parece reprovar todos que eu escolho. A sogra não gosta de nenhum, sempre achando muito simples; muito apertado; muito curto. Não tinha mais onde ela colocar defeito, minha mãe por sua vez chorava a cada prova e dizia ter ficado lindo. Acho que se eu estivesse pelada, mesmo assim minha mãe acharia lindo.

Estou cansada de fazer trocas e vou para o provador, Pietra entra com um vestido em mãos e diz:

__ Minha tia quer que você vista este.

Olho para o vestido e dou uma risada sem graça. Parece ter saído de alguma história da Disney.

__ Pois devolva o vestido para a atendente, esse vestido eu não visto nem morta.

A sogra abre o provador e fala com uma certa discrição, porém sendo autoritária:

__ Até agora nós a vimos provar vestidos simples e cafonas, agora eu te peço que prove o vestido digno da nora de um futuro senador, e por favor, pense no quanto seu noivo se sentirá honrado ao estar ao lado da mulher mais linda que o nordeste já viu.

Eu olho para o vestido, olho para Pietra e depois para a sogra. Prendo meus lábios, torço meu rosto, quebro meu pescoço para o lado e já me sinto incorporando outra pessoa que eu não nunca imaginei ter coragem:

__ Sogrinha, uma coisa a senhora não sabe...

O casamento é meu, eu não ligo se o meu sogro for presidente da república ou primeiro ministro britânico. Eu não visto o vestido da malévola e muito menos aceito opinião a respeito do que vou vestir no meu casamento. Se a senhora faz tanta questão a respeito, vista na sua sobrinha e a case com o primeiro idiota de Brasília.

Saio da loja, arrumando minha roupa no corpo e puxando minha mãe pela mão. Deixo a velha moída de raiva, plantada dentro do provador. Ela se apruma como se não fosse com ela o acontecido. Dá um sorriso discreto para as funcionárias da loja e diz:

__ Ela está muito nervosa, não é fácil se casar com um Oliveira Ferraz.

Minha raiva aumenta, pois eu nunca olhei para Calebe como o filho do político, como ele nunca olhou para mim como a filha do coronel.

Sinto medo do nosso casamento estar por um fio...

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