Semanas depois
Havia retornado ao estágio, sobre morar sozinha... Eu já me sentia só há muito tempo, mudei apenas o ambiente.
Mas as insônias eram recorrentes. Por vezes eu acordava sufocada com a lembrança do Jhon me estrangulando. A verdade é que eu era o resultado de uma caixa de traumas reprimidos.
Depois de quase capotar o carro, eu decidi trabalhar de metrô, mesmo gastando o dobro do tempo. E mesmo tentando os meus rendimentos no estágio e faculdade estavam caindo.
Lua: Bia... acorda! - Lua olhava a amiga dormindo na aula, a quinta vez essa semana.
Beatrice: Só mais cinco minutos... - Ela resmungou. Em seguida despertou assustada. - Puta que pariu! - Toda sala olhou para ela e deu risada. O professor a encarou. - Essa materia é maravilhosa. - disse, arrancando uma gargalhada da turma. Lua foi a única que não deu risada. Sabia a barra que a amiga estava enfrentando. Mas Beatrice era cabeça dura, e mesmo que ela tentasse ajudar só conseguia ir até certo ponto, Beatrice tinha muitas resistências dentro de si mesma.
Quando o período encerrou guardou as coisas na bolsa.
Beatrice: Eu preciso ir.
Lua: Eu vou levar você hoje Bia... vamos jantar juntas?
Beatrice: Sim mamãe.
Seguiram para um restaurante de fast food que sempre costumavam ir. Pediram os seus lanches e sentaram nas mesas que ficavam na calçada.
Lua: Bia... Você está bem? - Ela disse séria depois de algum tempo de conversa.
Beatrice: Eu só... só estou com dificuldades de dormir.
Lua: Bia... devia voltar a fazer terapia.
Beatrice: Certamente.
Lua: Sabe que pode contar comigo não é?
Beatrice: Você fica tão careta se preocupando comigo.
Lua: Provavelmente terei cabelos brancos antes do tempo.
Beatrice: Esta ai... Mas fácil você ter cabelos brancos que tirar o cinto de castidade. - sorriu de forma deliberada.
Lua: Cretina. Sabe que eu...
Beatrice: Sonha com o seu amor platônico engravatado e chato.
Lua: Não Bia... Só quero ter certeza...
Beatrice: Piegas. - Dei risada.
Lua: Não da para falar com você. - Disse brava.
Terminamos de comer, Lua me deixa no apartamento e vai embora.
Antes que eu entrasse a porta mais a frente se abre.
Drake: Oi, boa noite... O meu nome é Drake. Eu cheguei hoje, e... estou sem energia. Só vão ligar pela manhã... Eu... eu, precisava só carregar um pouco o telefone. Se não for pedir demais. - Drake lembrava o meu professor de biologia de anos atrás a diferença estava nos olhos dele que eram castanhos.
Beatrice: Boa noite, Beatrice. - Eu me apresento. - Bem-vindo, é claro.
Drake: Ah muito obrigado! - Drake me entrega o celular e o carregador. pergunto se ele precisava de luzes de emergência ou algo a mais. Ele agradece. Entro em casa e deixo o telefone dele carregando e sigo para um banho. Quando carregou o suficiente ele mesmo bateu a porta e me agradeceu.
Fechei a porta e segui para o quarto. Revirei varias vezes na cama, sem conseguir dormir. No dia seguinte enquanto preparava o café eu marquei uma consulta com a psicóloga.
....♧....
Estava sentada no divã, falei sobre os problemas recorrentes da insônia. Andreah,me ouvia e tomava notas.
Beatrice: A verdade é que eu me sinto ainda diante daquela porta com um grito entalado na garganta. - Desabafei.
Psi.: E o que tem diante de você nessa porta Beatrice? Sempre travamos nessa parte. Você pode falar Beatrice. Se você quiser ter um futuro, precisa encerrar o passado. - Um silêncio se formou. Estava lutando contra mim mesma. Queria falar mas sentia um misto de medo, angústia e culpa.
Beatrice: Estava chuvoso, eu desci as escadas. Quando retornei da cozinha ouvi gemidos. Eu não deveria ter ido. Eu sei disso. Mas fui, e meu pai... - As lágrimas caíam quentes pelo rosto de Beatrice, cada vez que lembrava revivia a dor novamente. - Ele era meu herói... Dizia que meu pai era um príncipe. No entanto ele estava traindo a minha mãe com a governanta. - Beatrice soluçava, sentia novamente a visão da família que amava ser manchada e marcada. - Eu... eu mostrei para minha mãe. Sabe o que ela fez? virou as costas. Me deixou sem resposta para todo o questionamento surgiu.
Psi.: Lamento Beatrice, que tenha sido exposta a algo assim, você nunca elaborou o que aconteceu. Nunca conseguiu falar, por que nunca se sentiu ouvida. Isso fez com que seus comportamentos fossem como mecanismos de defesa para evitar novas dores. O maior problema da rejeição é que passamos a nos autosabotar e nos rejeitar também Beatrice. Se sente culpada pelo que viu?
Beatrice: Talvez se eu não tivesse visto nada daquilo tudo seria diferente. Ainda viveríamos com a ideia da família feliz.
Psi.: Mas é aí que esta Beatrice, você viu. E não foi culpa sua. Precisa encerrar isso Beatrice, esse foi um luto que nunca elaborou, você vive e revive a fase da negação. Sim, luto não fala apenas sobre morte de um ente, mas do que perdemos na vida. E você perdeu a confiança. Os seus relacionamentos são sempre distantes e cheios de desconfianças, por que existe a ferida, e o seu mecanismo de defesa é afastar as pessoas por que tem medo de se machucar.
Beatrice: Como eu faço isso?
Psi.: Precisa abrir mão de vivenciar essa dor. De se permitir ultrapassar a fase do luto, de parar de sentir culpa e principalmente perdoar.
Beatrice: Como posso conseguir perdoar quem me feriu tanto? Que não validou nenhuma das dores que sofri? Que não perceberam minha angústia?
Psi.: O perdão não é sobre as pessoas, é sobre você Beatrice. Quando escolhe perdoar, está fazendo bem para você mesmo. Talvez seu pai, sua mãe ou o John nunca vão mudar. E isso é sobre eles, mas e você?! Você não precisa se manter presa as mazelas deles. Você pode ser livre. Comece perdoando a você mesma. Se sentiu culpada por estar diante daquela porta. Disse querer gritar. Por que não faz isso agora?
Beatrice estava com o coração acelerado, nunca havia conseguido falar aquilo, era algo que reprimia no seu coração.
E ali, no consultório deu o grito que queria dar a anos atrás, grito que vinha do fundo da alma machucada, grito reprimido tantas e tantas vezes, e depois um alto e sonoro foda-se.
Andreah sorriu, havia finalmente avançado um passo, e esse passo faria diferença na vida da Beatrice.
Ela saiu daquele consultório mais leve do que havia entrado.
Naquela noite voltou para casa e conseguiu dormir, como a muito não dormia.
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Atualizado até capítulo 66
Comments
Rosiane Alves
Nossa!!! Todas essas loucuras da Beatrice foi ver o seu super herói ser um babaca com a sua mãe.
2024-05-04
5
Sanderly Mylene
chorei, me vi na cena 🥲
2024-03-10
2
Cida Gomes
Essa autora é escândalo!!! Ela estuda a fundo para desenvolver cada personagem.
2024-02-16
1