Meus medos

De madrugada eu recebo uma ligação da minha mãe, o pai passou mal e foi levado ao hospital, não foi nada sério, uma crise de ansiedade porque eu vou viajar de avião. Falo para ele que está tudo bem e que eu não estou com medo, mentindo de novo. Depois que ele conversa comigo ele se acalma e até dorme um sono. Minha mãe já me ligou agora cedo que ele está melhor. Diogo vai com as crianças e com Camila para o interior, eles ficarão lá até eu voltar.

Saio de casa numa correria, tive que pedir alguns ajustes para as costureiras de última hora, vistoriar as peças que serão usadas no desfile e quando chego na minha sala eu tenho a impressão de ter morrido, a quantidade de flores dá para uns dez funerais. Começo a abrir os cartões e as mensagens de felicitações e sucesso, não estou entendendo absolutamente nada até ver a minha frente o homem lindo e sério. Meu corpo sempre gela ao vê-lo e minhas pernas tremem.

Ele abre a janela e me mostra o imenso outdoor com a minha foto. Eu fico incrédula e Gabriel começa a me mostrar uma imensa quantidade de capas de revistas com as minhas fotos. Pareço outra pessoa, sinto um friozinho no estômago e todos da empresa vem me cumprimentar. Eu percebo que ele saiu sem falar nada, eu fico triste por não ter tido a oportunidade de lhe agradecer.

Depois de horas de bajulações e telefonemas eu tive um tempo livre e liguei para o meu pai e lhe contei a respeito, ele chorou abraçado com a minha mãe.

Depois olho no aplicativo do banco e deparo-me com uma pequena fortuna na minha conta. Para cada foto, cada revista e cada publicidade eu recebi um cachê, até mesmo internacional. Eu fiquei passada e demorei para cair a ficha de que, uma cartada certa muda a vida de uma pessoa.

Eu fecho minha sala que parece uma agência funerária e subo até o último andar, caminho pelo imenso corredor e vejo se ele ainda está na empresa. Pergunto a secretária e ela fala que vai me anunciar, eu peço que deixe, eu mesmo anúncio.

Bato na porta e em um minuto me manda entrar, ele está de costas para a porta e seu olhar distante no imenso painel com a minha foto.

Caminho lentamente em sua direção e percebo que esteve chorando. Dentro desse homem de ferro tem um coração de verdade. Eu o agradeço e o abraço forte. Minha vontade era de atacar seus lábios e fazer amor com ele em cima daquela mesa, e sentir todo seu corpo junto ao meu. Mas tenho que me controlar e ser apenas agradecida por tudo que ele me ajudou.

Mais tarde fizemos uma última reunião e acabamos de decidir a viagem, eu nunca viajei de avião e o medo me apavora, o pessoal está reclamando que todos gostariam de ir de primeira classe, a minha preocupação é se o avião cair, quem morre primeiro?

A melhor coisa é quando chego em casa e tenho duas crianças vindo ao meu encontro dizendo que sentiu minha falta. As encho de beijinhos e carinho. Acho lindo, João está me chamando de mãe. Meu coração sangra, de como uma pessoa pode abandonar um filho e nunca procurá-lo. A mãe dele era muito nova, tinha dezessete anos e disse que não seria uma boa mãe e que seria melhor ele ficar com o pai. Na verdade os dois eram novos e juntos, mesmo não sendo namorados poderiam cuidar da criança, experiência a gente pega com o tempo.

Conto a eles o sucesso das fotos e que agora eu posso pagar a Camila um valor justo para cuidar deles e que eles irão para natação, inglês e artes marciais. Eles fazem uma festa e me abraçando comemoram.

__ O que está acontecendo, você ganhou na sorte, minha irmã?

__ Você viu os outdoor espalhados pela cidade?

__ Vi, você está linda em cada um deles. Todo mundo está comentando, nos restaurantes, nas lojas por onde a gente passa.

__ Estou muito feliz, eles me pagaram muito bem pelas propagandas, Mônica já me informou que quando voltarmos da viagem eu farei outra sessão de fotos, agora com roupas da grife.

__ Nossa, agora você será uma mulher famosa.

__ Eu nunca desejei essas coisas, mas se vai me fazer melhorar de vida, eu topo.

Ficamos conversando e depois fui descansar. Miguel não sai dos meus pensamentos, tenho vontade de ligar para ele, mas não sei o que vou falar.

Umas três vezes eu peguei o telefone e disquei seu número, me segurei para não fazer uma besteira. O cheiro do seu abraço ainda está na minha pele. Olho para minha mão e a aliança está no meu dedo. A tento tirar e não consigo, o telefone toca e Gabriel me fala que não vai poder ir no primeiro voo e pede que eu troque com ele. Para mim não faz diferença, uma hora há mais e uma há menos é só uma questão de quem chega primeiro.

Com muita dificuldade eu chego no aeroporto, o trânsito está caótico e o aeroporto lotado de faixas e banners com a foto do Cristian, tudo indica que ele deve embarcar para algum lugar.