Ser pai

Eu sei que não fui um bom pai para os meus filhos, tentei ser, mas falhei como pai.

Meu nome é Luciano,sou casado com Suzana há trinta anos, a vida toda eu fui militar e vim de uma família tradicional. Minha criação não deu liberdade para filho fazerem o que quiserem da vida e para mal dos meus pecados, tivemos Débora, ela é uma versão minha, feminina.

Desde pequena ela me desafiava e eu acabava perdendo a razão e brigando com ela. Até a adolescência eu ainda conseguia dar-lhe um abraço e até mesmo pegá-la no colo, mas quando fez quinze anos eu perdi o pulso com ela de vez. Tudo começou quando ela conheceu esse rapaz, o Cristian. Perdeu o juízo e parecia louca atrás dele e ele dela.

Foi até engravidar e me enfrentar e dizer que seria casar ou morrer. Eu não via futuro nos dois, mas ela estava disposta a pagar para ver e eu me arrependo de tê-lo feito se casar, já que o mesmo não queria. Pressionei o casamento antes que a barriga aparecesse. Foi a pior coisa que um pai podia fazer a uma filha.

Daniela nunca me deu trabalho, o único namorado que arrumou, casaou. Ela é uma boa mãe, boa esposa e uma excelente profissional. Seu defeito é ser mimada por todos, gosta de ser o centro das atenções e todos lhe bajulando. Sou culpado por isso também, eu sempre a denguei, por ela ser miudinha, frágil e muito dócil.

Diogo é diferente, sempre foi independente e protetor das irmãs. Ele se parece com Suzana, é a cópia da mãe. Na doçura e compreensão, no jeito de agir com as pessoas. Carismático e seu sorriso é confortante.

Já ouviu aquele ditado que diz: O filho mais problemático é o que mais você ama. Assim sou eu com Débora, mas não sei me expressar com ela. Sempre acabamos batendo de frente e muitas vezes cheguei até as vias de fato.

Mas eu não estou gostando de ver seu sofrimento, ela está lutando como uma leoa para cuidar da sua filha sem precisar do pai e até mesmo de mim. A vejo depressiva e às vezes chorando. Tenho vontade de pegar aquele moleque e lhe dar uma surra, para aprender a não fazer minha filha sofrer.

Estou no sofá lendo o jornal e vejo sua foto estampada.

Não é possível que não sinta vergonha do papel que está se pondo. Minha filha não merece isso. Fecho o jornal rapidamente quando a vejo entrando com as sandálias nas mãos e um cheiro forte de bebida. Sinto seu beijo quente de que sinto saudades e por muitas vezes sonhei em receber.

Ela senta-se a minha frente e conversa como a muitos anos não fazia. Eu rio do seu jeito explosivo e da sua cara de sapeca.

Quando foi que essa luz apagou dos seus olhos? Quando foi que esse sorriso se transformou em lágrimas, medo e solidão?

É aí que me sinto um péssimo pai, eu deixei que um frouxo qualquer plantasse isso na vida da minha filha. Espero um dia voltar a ver minha filha como era antes. Cheia de vida e vontade de conquistar o mundo.

Pergunto-me onde foram parar seus sonhos e sua vontade de conhecer o mundo. A vejo sentada numa máquina de costura trabalhando o dia inteiro e por muitas vezes a noite inteira. Sei das injustiças que as pessoas têm feito com ela pelo simples fato dela ser mãe solteira e divorciada. Essa dor eu e Suzana carregamos no peito.

Depois do almoço os netos estão brincando e Daniela chega com Jessé, Manoela não quer ir embora e começa a choradeira. Débora vai até a sobrinha e a pega no colo. Fala alguma coisa em seu ouvido e ela se acalma. Daniela joga uma indireta para atingir a irmã, parece não estar satisfeita com o carinho entre sua filha e a tia:

__ Eu fui no casamento do Cristian, ele estava perfeito e a noiva é linda.

Débora não responde, mas percebo seu constrangimento.

__ Tinha muita gente bonita e tudo muito elegante. Muitos jornalistas e redes de tevês.

__ Chega, Daniela! Não queremos saber a respeito e isso não é problema nosso.

Eu falo dando um basta no assunto que está cada vez mais, machucando sua irmã.

__ Jessé, você poderia dar uma olhada na garganta da Helena novamente, ela está febril e reclamando para engolir.

Débora fala para o cunhado que a acompanha até o quarto. Eles não demoram lá dentro e Jessé volta sem graça e com o rosto vermelho, ele as chamam para ir embora e não demoram mais nenhum minuto.

Vou até o quarto e vejo Débora com o rosto vermelho e está nervosa e até espumando.

__ O que aconteceu? Helena não está bem?

__ Ela está bem, é a garganta de novo, vou comprar o remédio.

__ Débora, o que aconteceu?

__ Eu... Vou falar uma coisa para o senhor, estou chegando a conclusão de homens não prestam e da próxima vez, que esse Jessé vier tirar casquinha em mim, eu vou dar na cara dele.

__ Do que você está falando?

__ Seu genro querido, passou a mão no meu seio e disse que eu estou carente e se eu precisar ele mata a minha necessidade.

__ E o que você fez?

__ Eu dei um tapa na cara dele.

Meu sangue ferve, minha vontade é descarregar uma arma na cara do safado, mas seria duas filhas desgraçadas dentro de casa e minha família destruída.

__ Eu não quero que o senhor faça nada, está cada vez mais difícil para eu ficar aqui. Eu acho melhor eu ir embora para bem longe e recomeçar minha vida.

__ Você não pode fazer isso, tem a Helena, seus estudos e quem cuidaria dela enquanto você trabalha?

__ Eu a deixo com o senhor e a mamãe, confio em vocês para cuidarem dela. Assim que eu me estabilizar eu a busco.

__ Se você não conseguir? Ela vai ser criada longe de você?

__ Me dá um tempo, eu vou fazer uma tentativa e sempre que possível eu venho visitar vocês. Eu vou lutar para tudo dar certo.

__ Quando você pretende ir?

__ Na próxima semana, vou entregar alguns serviços que estão começados e devo ir no sábado.

__ Mas você nunca viajou sozinha, fomos a capital duas vezes quando você era criança, como vai sobreviver naquela montanha de pedras?

__ Eu tenho uma economia guardada, não é muito, mas dá para me manter sozinha até arrumar um emprego.

Eu saio do quarto com um nó na garganta, Suzana me abraça e chora copiosamente. Ela ouviu nossa conversa. Eu não sou um homem que chora, mas ao sentir a tristeza da minha amada esposa as lágrimas rolaram de dor.

Fomos para o nosso quarto e tomamos um banho e ficamos conversando no chuveiro, sempre tivemos esse diálogo no chuveiro, é o lugar mais tranquilo para um casal colocar as ideias em ordem. Chegamos a conclusão de que devemos apoiá-la na sua decisão e vamos cuidar e proteger Helena enquanto a vida lhe dá outra oportunidade.

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Comments

Eliane🌻

Eliane🌻

Que ela encontre alguém que valorize ela😍😘❤🌹

2023-12-31

4

Rozana Silva

Rozana Silva

tomara que ela encontre alguém que a ama de verdade

2023-09-15

4

nimorango

nimorango

converso com meu marido também no chuveiro

2023-06-24

1

Ver todos
Capítulos
1 Uma mulher de fibra
2 Demissão
3 Espera em vão
4 Obsessão
5 Casa dos pais
6 Saindo do quarto
7 Ser pai
8 Começando do zero
9 Realidade a toda prova
10 Não acredito no amor
11 Motivos para sorrir
12 Domingo de sol
13 Reunião
14 Miguel Montalvão
15 Desencontros
16 Seleção de moda
17 Aniversário do Raul
18 O sucesso bate a porta
19 Meus medos
20 Amor nas alturas
21 Contando o passado
22 Perdendo os medos
23 Entrega total
24 Definindo o relacionamento
25 O Desfile
26 Cristian e sua declaração
27 O jogo começou
28 Sentimentos
29 Decisão
30 Convencendo uma adolescente
31 Sentimentos confusos
32 Revoltas
33 Feliz aniversário
34 Comemoração em grande estilo
35 A viagem
36 Assumindo meus sentimentos
37 Amantes
38 Os dias sozinho
39 Surpresa para Helena
40 Amor correspondido
41 Momentos
42 Primeiro Round
43 Momentos de angústia
44 A quero de volta
45 Surpresa inesperada
46 Suzana, relatos de mãe
47 Diogo e suas conquistas
48 Segundo Round
49 Encontro Marcado
50 Buscando forças e sabedoria
51 Helena, momento especial
52 A importância dos filhos - Cristian
53 Certezas
54 Helena é um perigo
55 Pai de coração
56 Falsas acusações
57 Decepção e muito choro
58 Carinho e proteção
59 A vida com dois pais
60 Um grande show
61 Certezas
62 O dia do nosso casamento
63 Surpresas e emoções
64 O sentido da vida
Capítulos

Atualizado até capítulo 64

1
Uma mulher de fibra
2
Demissão
3
Espera em vão
4
Obsessão
5
Casa dos pais
6
Saindo do quarto
7
Ser pai
8
Começando do zero
9
Realidade a toda prova
10
Não acredito no amor
11
Motivos para sorrir
12
Domingo de sol
13
Reunião
14
Miguel Montalvão
15
Desencontros
16
Seleção de moda
17
Aniversário do Raul
18
O sucesso bate a porta
19
Meus medos
20
Amor nas alturas
21
Contando o passado
22
Perdendo os medos
23
Entrega total
24
Definindo o relacionamento
25
O Desfile
26
Cristian e sua declaração
27
O jogo começou
28
Sentimentos
29
Decisão
30
Convencendo uma adolescente
31
Sentimentos confusos
32
Revoltas
33
Feliz aniversário
34
Comemoração em grande estilo
35
A viagem
36
Assumindo meus sentimentos
37
Amantes
38
Os dias sozinho
39
Surpresa para Helena
40
Amor correspondido
41
Momentos
42
Primeiro Round
43
Momentos de angústia
44
A quero de volta
45
Surpresa inesperada
46
Suzana, relatos de mãe
47
Diogo e suas conquistas
48
Segundo Round
49
Encontro Marcado
50
Buscando forças e sabedoria
51
Helena, momento especial
52
A importância dos filhos - Cristian
53
Certezas
54
Helena é um perigo
55
Pai de coração
56
Falsas acusações
57
Decepção e muito choro
58
Carinho e proteção
59
A vida com dois pais
60
Um grande show
61
Certezas
62
O dia do nosso casamento
63
Surpresas e emoções
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O sentido da vida

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