Levanto cedo e deixo Helena na escola, é uma rotina que faço com alegria, pois estar perto da minha filha é o motivo de eu estar viva. É por ela que eu vivo e suporto todas as coisas, meu desejo é dar o melhor a ela e que meu amor seja o bastante para protegê-la e para que um dia ela compreenda que tudo que estou fazendo é para seu bem.
Passo na casa dos meus pais e aproveito que meu pai saiu para ir a feira e converso com minha mãe, a respeito de que ela fique com Helena para mim por algum tempo, eu vou precisar me ausentar por alguns meses até conseguir me estabilizar na capital e depois eu volto para buscá-la. A princípio ela não sabia se seria uma boa ideia, por causa do temperamento do meu pai. Mas esse problema eu vou ter que encarar.
Ele chega da feira e eu penso mil formas de abordar o assunto:
__ Fala de uma vez, Débora! O que você quer falar, que precisa tanto rodeio?
Respiro fundo e sentada a mesa a sua frente, enquanto ele toma uma xícara de café, eu o olho um pouco arredia mas não tenho outro jeito para resolver:
__ Eu não estou conseguindo emprego aqui na cidade e terei que ir para a capital.
__ Era só o que me faltava, se não tem condições de se manter aqui com uma criança, como você pensa em se manter com ela num lugar grande, estranho e sozinhas?
__ Eu vou primeiro, me estabeleço e volto para buscá-la.
__ Pois eu acho que você deveria procurar seu marido, pedir a ele para pagar ao menos a pensão dela, isso já iria te ajudar nas despesas e você não precisaria ir embora da cidade.
__ Eu não quero nada dele, ele foi bem claro que não estava pronto para ser pai e que não nos queria.
__ Mas ele é o pai, o nome dele está na certidão de nascimento dela. Agora fugir da responsabilidade é muito fácil. Ainda mais com uma mulher boba igual a você.
__ O senhor pensa como quiser, eu não quero nada dele, porque o que eu queria ele foi incapaz de nos dar. Dinheiro a gente trabalha e ganha, amor não tem preço.
__ Isso é romance, Débora. Põe na sua cabeça que isso só dá certo nos livros, fotos e novelas. Na vida real o que manda é a lei e a justiça. Você está se privando da vida desde sua adolescência por causa desse homem. Já vai para dez anos que você parou de viver para correr atrás de um sentimento que está apenas dentro de você. Use a razão e esquece esse orgulho. Até quando você vai sofrer e enfrentar todo mundo por causa desse amor?
Eu sei que meu pai tem razão, desde que eu conheci o Cristian eu não fiz outra coisa a não ser correr atrás dele. Eu começo a chorar pois eu não tenho escolha. No fundo estou sempre esperando ele voltar, ou aparecer com um pedido de desculpas.
__ Não adianta chorar, minha filha. Você precisa amadurecer e pensar em sua filha. Você está querendo se aventurar com uma criança ao seu lado e isso só vai trazer sofrimento para vocês duas e para nós que somos seus pais.
Estou muito confusa, não sei o que fazer ou pensar, preciso de um norte e não vejo saída.
__ Arrume suas coisas e volte para casa, seu quarto está do mesmo jeito que você deixou. Saia daquela casa, sei que você ficou ali até agora esperando que ele voltasse, mas você viu, ele não voltou. E tire da cabeça essa ideia de se aventurar. Deixe de ser orgulhosa e levanta essa cabeça.
Ele fala de pé ao meu lado e com a mão em meu ombro. Em anos foi o primeiro gesto de carinho dele comigo. Eu queria um abraço dele, mas quando levantei minha cabeça ele já havia saído.
Minha mãe senta-se ao meu lado e passa a mão em minha cabeça e eu choro copiosamente:
__ Não fica assim, minha filha. Seu pai tem razão, volta para casa, lugar de onde você nunca deveria ter saído.
__ Mãe, eu já vou fazer vinte e oito anos, tenho uma filha que depende de mim. Como eu posso voltar para casa como uma derrotada?
__ Não diga isso, você sustentou sozinha essa vida durante anos, você não é uma derrotada. Apenas está em uma fase difícil. Volta que eu vou te ajudar com a Helena.
Foi difícil mudar de ideia, mas acabei me convencendo de que era o melhor a fazer. Eu senti medo de enfrentar o mundo lá fora, tive receio de não conseguir. Me ostracizei novamente, vendi tudo que eu tinha e voltei para casa dos meus pais. Com o dinheiro dos móveis eu paguei as despesas e comprei duas máquinas de costura, uma reta e uma para acabamento. As coloquei em um quartinho nos fundos da casa e comecei a pegar pequenos concertos e roupas para fazer.
Diogo sempre me ajudando, ele trabalha numa loja de tecidos e me indica como costureira. Eu acabei me acomodando e fiquei quieta dentro de casa.
Meu pai às vezes bebi e fala coisas que me ofende, mas eu entro para meu quarto com minha filha e ficamos quietas e só saímos no outro dia.
O senhor Renan ainda me persegue na rua com suas propostas obscenas, eu a cada dia sinto mais nojo e asco daquele homem. Eu sempre falo para minha mãe e para o meu irmão a respeito dos seus assédios. Mas ele é um homem poderoso na cidade e pode me prejudicar mais ainda se eu entrar com um processo contra ele.
Passaram se alguns meses e eu tentando viver um dia por vez. Ficando até de madrugada na máquina de costura para entregar as encomendas. Muitas vezes o meu pai ou minha mãe me trazem alguma coisa para comer, pois não me levanto da máquina para nada.
Vida social, festas, barzinho não fazem parte da minha vida. Eu trabalho, ajudo em casa e cuido da minha filha.
É tão comum essa rotina na minha vida que às vezes não sei o dia da semana, trabalho sábado e domingo sem me dar conta de que preciso descansar.
E assim minha vida está passando e a única coisa que me dou conta é de que minha filha está crescendo protegida e comigo.
Uma cliente pede que eu faça um vestido sobre medida, ela é prima do Cristian, a família dele nunca foi próxima da gente, seus pais nunca nos procurou e hoje nem moram mais na cidade, mudaram para a capital.
Mas essa é a única que ficou sendo minha amiga depois que ele foi embora. Ela pede para que eu capriche num vestido de festa, e que trouxe com antecedência do evento para que eu faça com calma.
Não pergunto que evento seria, pois não é da minha conta, já que ela é casada com o prefeito da cidade.
Faço o vestido e deixo em ponto de prova e ela vem experimentar. Ela traz uma amiga para ver o vestido e se está a altura do evento.
__ Com certeza, está lindo. Vai chamar mais atenção do que a noiva.
A amiga fala e ela fecha a cara para que a moça pare de falar. Eu continuo a marcar os ajustes e a vejo dando sinal para a amiga ficar calada.
__ O que está acontecendo, de quem é o casamento? ...
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Atualizado até capítulo 64
Comments
Ana Lucia Soares
Leis ,se cara famoso🙄tem dinheiro,tempos ja era ta pagando ao menos pensão,ainda mais q consta none dele na certidão 🤦♀️
2023-11-27
5
Gi
Concordo com ele.
2023-11-02
0
nimorango
do Cristian aposto
2023-06-24
2