Sei que tomei uma decisão difícil, mas não posso mais ficar aqui esperando algo que nunca mais vou ter. Ou vou agora em busca de uma vida melhor ou não terei coragem novamente.
Vou para o quarto de costura e me desdobro no serviço, agora tenho que terminar o mais rápido possível o que está começado.
Diogo chega tristonho, já deve saber o que decidi. Ele se senta a minha frente com a cadeira virada com o encosto para frente. Ele apoia seu queixo nos braços cruzados sobre o encosto e seus olhos estão rasos d'água.
__ Você tem certeza do que está fazendo?
__ Tenho! Se eu ficar aqui as coisas não terminarão bem, a mãe deve ter te contado o que Jessé fez comigo , como vou lidar com pessoas desse tipo?
__ Eu não tiro suas razões e se não fosse o João eu iria com você.
__ Eu vou e depois que eu me estabilizar eu te falo e você vai também.
Eu me levanto da máquina e ele vem em minha direção em um abraço caloroso, choramos juntos.
Os dias da semana passam rápido, todos os dias eu estou explicando para Helena a respeito da minha ida para capital. Ela chorou muito a princípio mas já está mais conformada, meu pai não conversa, nem ao menos chega perto de mim. Está triste e fica mais no quarto. Minha mãe chora muito, eles nunca pensaram que um dia os filhos iriam embora e que todos ficariam sempre em volta deles.
Hoje eu entendo que não fui uma boa filha, pensava que cuidar de algumas pequenas coisas seria o suficiente para demonstrar afeto. Agora estou percebendo que eu poderia tê-los ouvido mais, ter ficado mais junto deles e ter sido mais amiga.
Estou arrumando a mala e vejo meu pai entrando no quarto, ele para na porta e parece estar petrificado:
__ Já arrumou suas coisas?
__ Sim, eu vou levar poucas coisas.
Ele me olha tristonho e depois de um silêncio profundo ele se aproxima e me puxa para um abraço. Eu choro em seu peito como uma criança e suas lágrimas molham meus cabelos. Depois de algum tempo ele pega firme em meus braços e olha dentro dos meus olhos:
__ Você está indo para um lugar desconhecido, eu tenho alguns amigos na capital e você pode procurá-los se precisar de alguma coisa. Tenha cuidado, fique longe de problemas e se em um mês você não arrumar nada, pode voltar para casa. Comida e abrigo na nossa casa nunca faltou.
__ Eu sei, pai. Cuida da minha filha e não deixa a família do pai se aproximar. Eles nunca a procuraram, mas todo cuidado é pouco.
__ Ninguém mexe com a minha neta, pode deixar comigo.
Ele sorri e me abraça novamente, penso onde estava esse pai que eu não conhecia?
Diogo me leva até a rodoviária, eu entro no ônibus com o coração partido, todos meus sonhos e planos ficando para trás, rumo ao incerto e preparando para enfrentar a vida sozinha, são três horas de viagem até a capital, tempo suficiente para planejar novos sonhos e expectativas. O motorista do ônibus coloca o som baixinho e para minha tristeza toca a música do infeliz que me fez ficar cega por anos. O choro é inevitável e a tristeza só aumenta.
O ônibus para na imensa rodoviária e meu coração acelera. Estou cansada, com fome e sem rumo. Já está anoitecendo e quanto mais eu ando pelas ruas mais a minha bagagem pesa. Olho alguns hotéis e são muito caros, não consigo sobreviver uma semana nesse lugar se eu ficar no hotel. Volto para a rodoviária e coloco minha mala no guarda-volumes. Eu passo a noite sentada nas poltronas duras o embarque e desembarque. Quando está amanhecendo vou ao banheiro e lavo meu rosto e dou um jeito no cabelo. Saio a procura de um lugar para ficar. Procuro em um bairro próximo ao centro, algum quarto para alugar.
Difícil encontrar, então lembro-me dos jornais que meu pai lê e busco por emprego e um lugar para ficar. Dia longo e mais uma noite difícil, volto para a rodoviária, pago um banho no banheiro da rodoviária e visto minha calça jeans e uma camiseta branca. Ligo para casa e minha mãe atende com ar de quem esperava aflita a essa ligação.
Volto para a cadeira dura do saguão de desembarque, pego o jornal e olho os classificados. Vejo uma vaga de emprego em uma casa noturna. Não posso me dar ao luxo de escolher.
Quando amanhece eu ligo para o número indicado e marco um horário para a entrevista na parte da manhã.
Sou recebida na recepção por um jovem muito simpático, mas o lugar me assusta um pouco. Tem uma pole dance e umas mulheres ensaiando umas acrobacias. Se meu pai me visse nesse lugar morreria.
__ Sou Ramon, filho do dono. Ele está te esperando.
O sigo por um corredor até uma pequena sala chamada de escritório. Um senhor me recebe com gentileza e parece ser muito direto quando fala:
__ Você deve ser Débora, a moça que me ligou mais cedo.
__ Sim, sou eu.
__ você já trabalhou em um bar, antes?
__ Não senhor, mas aprendo rápido.
__ Você não é daqui?
__ Não senhor, sou do interior e cheguei há dois dias.
__ Já tem lugar para ficar?
__ Não senhor.
__ Tem um quarto nos fundos, pode ficar lá até arrumar coisa melhor. O trabalho será de quinta a domingo , começando às dezenove horas. Ramon vai te ensinar o serviço, tome cuidado com os clientes, não quero confusão e nem reclamação.
__ E que horas termina o serviço?
__ Quando o último cliente sair. E pode me chamar de Raul.
Vou a rodoviária e pego minha mala no guarda-volumes, volto para a casa noturna e Ramon começa a me ensinar a preparar as bebidas. Eu anoto tudo e ele me dá algumas dicas de comportamento.
__ Aqui não é uma casa de prostituição, as pessoas vêm aqui para dançar, beberem e conhecer outras pessoas. Cuidado com os assédios e qualquer coisa é só me chamar.
Estou assustada, mas não tenho escolha. É isso ou voltar para casa.
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Atualizado até capítulo 64
Comments
Elise Farias
Que Deus te ajude, Débora, a dá a volta por cima
2025-01-01
0
Luciana Silva Dias
Nossa acho esses dois maravilhosos
2024-09-01
0
Hilda F.P Marchesin
Desde pequena, minha mãe era zelador de prédios, fazia faxina , tudo que podia para ganhar dinheiro Honesto e os filhos não passarem fome.
Ela Sempre me ensinou que Todas as Pessoas são Iguais, Independentemente de Gênero, Cor de Pele, Religião, Situação financeira.
Me ensinou que Todos temos problemas na vida e a " NUNCA " julgar uma Pessoa, porque só Deus nos conhece profunda mente de dentro pra fora.
Me ensinou que se Alguém precisar de ajuda e eu posso ajudar, pra mim ajudar sem esperar Retorno da Pessoa.
Mas, se por acaso Não puder ajudar, para me afastar e entregar nas mãos de Deus.
Assim levo minha vida, às vezes fico muito triste porque vejo injustiças e não posso fazer Nada.
Aí só peço a Deus que olhe e amparar quem está passando por fases difíceis na vida.
15/03/2024 20:59 PM
Sexta - Feira.
2024-03-16
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