Pegar sua vida e mover para outro lugar é a coisa mais corajosa que uma pessoa pode fazer, principalmente se for sozinha e deixar seus sonhos e tudo que você ama para trás.
Eu saí da minha cidade, estou vivendo um martírio de saudades de casa, da minha filha e dos meus pais, os meus sobrinhos e dos meus irmãos. Sei que a luta está só começando mas não vou desistir. Agora apareceu um curso de design de moda, eu voltei a estudar na segunda, terça e quarta a noite. São os dias que não trabalho na casa noturna. Raul permitiu que eu ficasse no quarto dos fundos até eu terminar o curso. Ele tem sido uma pessoa muito especial e tem me ajudado bastante. É tipo aqueles anjos em forma de gente que aparecem em nossas vidas uma vez apenas para nunca mais ser esquecido.
Ele não me cobra o quarto, e tem um coração enorme. Ramon é igual ao pai, um amor de pessoa, conversa muito comigo e quando estou triste ele aparece com aquele sorriso lindo, me abraça e diz que tudo ficará bem.
Ele está apaixonado pela Márcia mas a diferença de idade entre eles e o fato dela ter filhos está dificultando a relação dos dois. Ele insiste e ela nega, foge dele e pede para ele não confundir as coisas. Faz pena, pois são lindos juntos.
Com isso, passaram-se oito meses. Agora estou marcando de ir em casa no próximo final de semana que será feriado.
É o aniversário de dez anos da Helena, conto para Raul que eu tenho uma filha e que meu sonho é trazê-la para morar comigo, ele se senta, se empolga e me conta a respeito da sua filha que tem a mesma idade que a minha. Ele se comove com a minha história e permite que eu folgue. Dou lhe um beijo no rosto de felicidade, saio para o bar toda empolgada e dou de cara com o homem misterioso no corredor. Ele está indo para o escritório do Raul e me fuzila com os olhos e impede minha passagem:
__ Está feliz, ganhou um aumento?
__ Não é da sua conta, senhor!
Passo por ele esbarrando em seu braço. Meu corpo treme só de tocá-lo, seu perfume embriagante me deixa sem fôlego e ele me encara girando o corpo para me ver passar.
Durante toda a noite ele ficou sentado a minha frente a mesma mesa. Até chegar uma outra mulher diferente e os dois se atracarem ao ponto de um quase engolir o outro. Eu finjo não ver e nem me importar, mas não sei porque isso me incomoda muito. Eles saem e faço uma ideia de como vão terminar essa noite.
Pego o primeiro ônibus da madrugada para chegar bem cedo e aproveitar o dia com a minha filha. Levo para ela presentes, coisas que ela precisa e um pouco de dinheiro para ajudar nas despesas de casa.
Pergunto onde está meu pai, pois ainda não o vi, e era para ele estar na sala lendo o jornal:
__ Seu pai está trabalhando a noite, daqui a pouco ele chega.
__ Como assim, trabalhando a noite?
__ Ele está como recepcionista de um hotel no centro da cidade, ele diz que precisa de uma ocupação para não enlouquecer.
__ Eu não posso acreditar, e o coração dele? Ele precisa dormir direito.
Está difícil comprar os remédios?
__ Não é isso, ele agora paga consulta para o acompanhamento da sua saúde, ele não aceita que Jessé ao menos venha aqui em casa depois do que ele fez com você.
__ E Daniela, como ela reagiu ao saber.
__ Disse que você estava mentindo e ficou a favor do marido, ela também não tem vindo aqui. Quando traz Manoela, a deixa no portão e buzina para ela ir embora.
É inacreditável o que estou ouvindo, e como Daniela pôde abandonar nossos pais justo agora em que eles mais precisam dela.
Diogo fala a respeito de pagarmos um plano de saúde para os dois e para isso terá que arrumar outro emprego. Eu não tenho mais condições de trabalhar além do que já trabalho, mas assim que eu terminar meu curso, vou procurar mais alguma coisa para fazer.
Ouço o portão abrindo e o Jeito de caminhar no corredor que dá para a porta cozinha. Meus olhos enchem d'água e um aperto no peito. Deixo meu orgulho de mulher madura e faço como uma menina, corro e pulo em seus braços de pai. Mesmo turrão ele me abraça e beijando meu rosto diz:
__ Que saudades, minha filha!
__ Eu também, senti muitas saudades.
Caminhamos até a mesa, eu lhe sirvo o café e o jornal ao lado, ele não abre e se concentra em ficar me olhando.
__ O que você tem feito na capital?
Eu não vou ter segredos com eles, são minha família e apesar de estar sendo difícil é a minha realidade.
Ele quase engasga com o café quando falo que trabalho como bar tender em uma casa noturna. Explico que não é um puteiro, somente um lugar onde as pessoas vão para beber e conhecer outras pessoas. Conto-lhe a respeito de Raul, Ramon e Márcia, e como eles têm me ajudado. Falo da indústria jeans e do curso de design de moda. Depois de me ouvir ele seriamente me pergunta:
__ Você está ficando com alguém?
__ Não, pai! Eu não quero saber de mais ninguém na minha vida. Se depender de mim eu viro freira.
__ Uma freira bar tender.
Diogo fala e ri de mim e todos acabam rindo. O dia passou tranquilo, fiz o bolo de aniversário da Helena e ela chamou os coleguinhas. Uma data tão especial e o pai não deu sinal de vida. Ela me perguntou novamente a respeito dele e se ele iria aparecer hoje de surpresa. Com o coração partido respondi que seria pouco provável.
Estou arrumando as coisas do aniversário enquanto todos foram descansar. Estou guardando o resto do bolo na geladeira e vejo o jornal sem abrir em cima do armário. Achei estranho, pois o pai lê o jornal todos os dias. O pego para ver a manchete e a notícia de capa mostra a foto do casal vinte festejando o chá revelação do primeiro filho do casal.
Fico extasiada com a notícia e sou surpreendida com meu pai entrando na cozinha para pegar um copo d'água:
__ Eu já tinha visto o jornal na recepção do hotel, todos estão falando a respeito e eu não queria que você soubesse por mim.
__ Não tem problema, ele prosseguiu com a vida dele e pelo visto já está preparado para ser pai.
__ Você precisa esquecer esse homem, ele não merece que você sofra ou que fique sozinha o resto da vida por causa de uma decepção. Nem todo mundo é igual e você pode conhecer uma pessoa que te dê valor.
__ Vou conhecer onde? Num bar, numa escola de moda ou na hora do almoço na fábrica? Eu não tenho vida social, todo homem que aparece na minha frente só quer sexo e não tem sentimentos. Eu não vou ser um objeto de prazer para ninguém. Eu não acredito mais em conto de fadas e nem em príncipe encantado.
Vou para o quarto e choro muito, toda dor em meu peito e essa solidão infinita. Acho que nunca mais vou ser feliz, a felicidade não é para mim.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 64
Comments
Edileuza França
esse ex dela é um verme
2024-07-02
2
Eliane🌻
Esse ex dela quero que veja ela bem feliz e realizada e com um homem que a ame de verdade. E que ele sofra muito com a indiferente dela, sentir na pele o que fez com ela.
2023-12-31
4
Eliane🌻
Sinto que o amor está no ar kkkk
2023-12-31
1