Motivos para sorrir

Passo o domingo curtindo as três crianças, João está lindo e falante, Manoela parece mais minha filha que de Daniela e Helena está cada dia mais parecida com o pai, em tudo até no jeito de tratar as pessoas. Eu acho que só emprestei a barriga e o meu castigo para não esquecê-lo é ela ser idêntica a ele.

Vou ao quarto de costura e minhas coisas estão no mesmo lugar, minha mãe diz que meu pai não deixa ninguém mexer em nada, e quando ele está muito triste, deita na caminha onde eu colocava Helena perto de mim para costurar, depois de um sono tranquilo ele tranca a porta e volta para casa.

Eu fui muito rebelde na adolescência e não vi o quanto meu pai é carente e se sente culpado pelas consequências da minha vida. Ele está no sofá com minha mãe vendo um programa de televisão, eu me sento ao seu lado e sinto seu braço forte passando pelos meus ombros e me puxando para seu peito, não foi preciso dizer nenhuma palavra, eu me aconchego em seu peito e acabo dormindo um sono profundo de descanso.

Acordo na minha cama, não sei como eles me trouxeram para cá. Olho o relógio e já está na hora de ir embora. Meu pai e Diogo me levam na rodoviária. De dentro do ônibus aceno minha mão para eles e o vejo chorando. Meu coração fica apertado e penso que será sempre assim, todas as vezes que eu vier em casa.

Chego na capital e vou para meu quartinho, um pequeno mundo que ainda me dá esperança para dias melhores. Ouço uma batida na porta e Ramon veio saber se foi tudo bem na viagem. Vou com ele para o bar e enquanto lavamos os copos e limpamos o balcão eu o conto a respeito de como foi tudo. Ele me convida para almoçar em sua casa e eu fico sem graça, pois não conheço sua mãe.

__ Você está convidada, Jéssica vai amar te conhecer.

Raul fala entrando na conversa, eu fico sem graça mas acabo aceitando.

Troco de roupa e vou com eles até uma linda casa parecendo de novela.

Uma mulher linda e sorridente vem ao meu encontro como se me conhecesse há anos.

Me sinto completamente à vontade com ela e com sua filha Rita. Passo um dia atípico com uma família linda e especial.

A rotina da semana começa na terça em diante. Márcia me conta como foi o final de semana na casa noturna e diz que o meu fã perguntou por mim, eu não quis saber de detalhes, apesar de ter ficado curiosa a respeito.

__ Ele foi sábado e domingo, sentou-se no mesmo lugar de sempre, só que não ficou com ninguém. Bebeu, perguntou se você não trabalharia e foi embora.

__ É problema dele, estou com nojo desse tipo de homem e pelo que ele faz com as mulheres deve ter nojo delas também.

__ Para com isso, amiga! Dê uma oportunidade para você, conversa com ele e vê quais são suas intenções.

__ Você fala isso para mim e não dá uma chance para o Ramon.

__ Ele é muito novo, pode ficar com a mulher que quiser e eu não posso perder meu emprego, tenho dois filhos para criar.

Ela justifica e eu sei bem o peso que tem um filho para criar, quem dirá dois.

Na quinta-feira depois de um dia exaustivo na fábrica, chego no meu quartinho e me arrumo para mais uma noite de trabalho. O movimento começa lento e por ser meio de semana. Estamos quase fechando e vejo o misterioso entrando e vindo direto em minha direção, ele cumprimenta o Ramon que está saindo de trás do balcão para dar uma volta pela casa, Márcia não veio trabalhar por estar com uma das crianças passando mal.

Fico de pé a sua frente e pergunto se quer uma bebida e ele pede uma cerveja. Achei estranho, só bebi bebidas caras e fortes.

Quando lhe entrego a garrafa e o copo ele segura firme minha mão passando uma eletricidade pelo meu corpo.

__ Como foi seu fim de semana?

__ Foi ótimo, obrigada!

Falo retirando minha mão de debaixo da sua.

__ Você é arredia, acho que não gosta de mim.

__ Eu não tenho o porquê de não gostar, eu só não tenho interesse em me envolver com ninguém.

__ Eu também não tenho interesse de me envolver com ninguém, apenas conversar.

__ Eu vejo suas conversas com as mulheres que frequentam aqui.

__ Elas são distrações, não significam nada.

__ Eu não gosto da maneira como você trata as mulheres. Elas não são objetos, que usa e joga fora.

__ Eu não as uso, elas que me usam. Eu não vou atrás delas, elas que vêm até a mim.

Ele tem razão, todas as vezes são elas que chegam a sua mesa, ele apenas as trata como querem ser tratadas.

__ Você quer sair comigo, um dia desses? Sem compromisso, conversarmos um pouco.

__ Eu não tenho tempo, trabalho a semana toda e estudo. Não perca seu tempo comigo, estou fechada para amizades.

Viro-me para atender outros clientes e quando olho novamente ele já havia saído.

Ele é lindo e muito atraente, mas como tenho dedo podre não posso arriscar me envolver com ninguém.

Os meses passam e o tal homem não voltou mais no bar, termino o curso de design de moda e coloco meu currículo em várias agências de moda e confecções. Até que sou surpreendida por um telefonema onde estão fazendo seleção de profissionais na área, eu fico muito entusiasmada, conto para Jéssica e Raul que me dão todo apoio.

Falto ao trabalho na indústria e faço a entrevista, mostro os croquis que fiz e sou direcionada para o RH imediatamente.

Chego na casa noturna e Raul está me esperando no bar, Ramon e Márcia estão atendendo até eu chegar. Faço uma cara de vítima e Raul me abraça tentando me consolar. Enfio o rosto em seu peito e dou uma gargalhada e falo baixinho:

__ Eu passei!

Todos comemoram e Raul me xinga por eu tê-lo enganado.

__ Eu sabia que você conseguiria, só não gostei de ser enganado.

Raul fala me abraçando e saindo rápido para contar a Jéssica. Antes que eu vá para trás do balcão ouço uma voz atrás de mim e meu corpo arrepia.

__ Você está feliz, deveria ficar assim sempre, seu sorriso é lindo.

__ Obrigada! Vai beber alguma coisa?

__ Não, hoje eu vim conversar com Raul.

Ele fala tristonho e sai, senti pena por ele estar abatido e parece estar com algum problema.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***