Tem alguém aí?

Meus pais raramente estão em casa, eu vivo sendo acompanhada por babás a vida inteira, é isso eu já estou acostumada.

Respiro frustrada escutando minha mãe avisar que ela e meu pai vão novamente viajar sem planejar e às pressas, minha avó teve um AVC e precisou ser internada.

Mil pensamentos passa na minha cabeça, novamente vou ter que ficar com a babá, uma senhorinha de 70 anos muito irritante que me lembra a mãe do meu pai, mas eu já tenho 16 anos, poxa, eles poderiam me dá o voto de confiança e me deixar sozinha sem cuidados ou supervisão daquela velha chata e caquética.

Escuto um latido e observo o bob entra que nem um furacão em casa, sempre feliz e abanando o rabinho.

Michele? Tá me ouvindo? - diz minha mãe estalando os dedos na frente do meu rosto, assim me trazendo de volta a realidade.

Sim, Cristiane, estou te ouvindo, digo revirando os olhos. Ouço ela resmungar irritada e um murmúrio sobre: eu sou sua mãe, me respeite ou alguma coisa assim, não me importei para prestar atenção.

A dona graça vem às 19? Escuto a voz do meu pai se aproximando da cozinha.

Eu não posso ficar sozinha dessa vez? Já estou grandinha, posso me cuidar. Digo eu tentando argumentar.

Não, não pode, você ainda é uma criança. Diz Cristiane virando o corpo na minha direção.

Criança? Eu já tenho 16 anos. Digo saindo da cozinha batendo os pés.

Mas ainda age como tal, vê? Fazendo birra.

Volto estressada com tudo, ao escutar tais palavras direcionadas a mim.

E quando a senhora Cristiane me deixará crescer?

Querida, por que não damos esse voto de confiança a ela? Amanhã estaremos de volta, e a Michele já está bem grandinha, não acha?

Depois de alguns minutos deitada no sofá ouvindo meus pais discutirem se devem ou não me deixar sozinha, vejo minha mãe passar por mim com a cara fechada, sem nem me olhar. Meu pai vinha logo atrás, mas antes de sair deixou algumas regras:

Regra 1: Nada de festas.

Regra 2: Tranque bem as portas e janelas.

Regra 3: Nada de namorados ou amigos enquanto estivermos fora.

Fiz que sim com a cabeça e ele se foi, me deixando sozinha nessa casa enorme com o bob.

Aproveitei o dia normalmente, não fui à escola, ao invés disso tirei o dia para curtir com as minhas amigas. Caminhei bastante e me diverti horrores, nunca imaginei que ficaria tão bem sozinha.

Voltei para casa em volta de 20:30, não vi o bob, mas não me preocupei, ele não é um cachorro barulhento, com toda certeza deve está dormindo em algum lugar.

Tomei banho, jantei, deitei no sofá para assistir qualquer besteira até o sono vim.

Ainda nem sinal do bob, deve está dormindo embaixo da minha cama, ele tem essa mania.

Umas 23:00 acordei de um cochilo e vi que ainda estava no sofá, me levantei, tranquei todas as portas e fui me arrastando pro quarto, nem acendi a luz e me deitei na cama, coloquei a mão debaixo da cama e ela foi prontamente lambida, como o bob sempre faz, me dando a confirmação que ele está ali.

01:00 ouvi um som de pingar, como se eu não estivesse fechado direito a torneira da pia sabe? Não me importei, novamente coloquei a mão para fora da cama, novamente uma lambida o bob continuava ali, então estava segura.

03:00 da manhã novamente acordei com a sensação de está sendo vigiada, me convenci estar com medo por está sozinha, mas o meu cachorro estava ali, estava tudo trancado, eu mesma verifiquei.

É assim que se passou a noite só conseguiu dormir de fato às 4 da manhã.

Acordei exausta, a porta do meu quarto estava aberta, verifiquei a cama, o bob não estava mais embaixo dela, deduzi que ele tinha saído.

Decidir levantar para procurar a bendita goteira, o som vinha do banheiro do quarto, levantei e ao abrir a porta um grito atravessou a minha garganta, e as lágrimas rolaram aos montes, a cena era meu cachorro morto esfaqueado pendurado no teto do banheiro com algum tipo de corda que não dava para distinguir ao certo a cor devido às mancham enquanto o sangue dele caia aos pingos no chão e uma mensagem escrita com sangue no espelho.

“Humanos também sabem lamber”.

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