A quaresma é um período de 40 dias da semana santa até a pascoa, a temida época onde coisas sobrenaturais acontecem, dizia a minha avó: é a única época que os portões que guardam tudo que é de ruim, tenebroso e assustador é aberto, o mal caminha sobre a terra e os espíritos ao nosso lado.
Quem mora em sítio sabe o quanto assustador é essa época, os mais velhos contam histórias e lendas sobre o que ocorrem nessa época, desde lobisomens até demônios que insistem em aparecer nas regiões, não sei se for ser mais deserto, por serem casas distantes, por ser mais escuro que na cidade, ou só para que eles tenham o controle sobre os filhos mesmo, enfim eu cresci na roça, onde eu morava na infância sempre foi muito silencioso, escuro, as casas, mas próximas ficava a quilômetros de distância, lembro bem que quando eu tinha 7 anos, em uma quarta-feira de quaresma chamamos algumas crianças da vizinhança entediadas para brincar de se esconder.
A tia de um dos meus amigos alertou para não brincarmos no escuro, era quaresma e o mal se espreita na escuridão. Claro que não demos ouvidos, oras eramos crianças e só queríamos brincar, e saímos as 18:00 para iniciar a brincadeira.
Iniciamos a brincadeira comigo contando e meus amigos se escondendo estava escuro já, no sítio a noite chega mais cedo, acho que por conta das inúmeras árvores, iniciei a contagem até o número 20 enquanto ouvia os meus companheiros correr para se camuflar em meio as vegetações.
Comecei a procurar os outros, enquanto caminhava escutava barulhos se passos nas folhas secas, ia assobiando tentando espantar o medo dos ruídos da natureza, a noite qualquer barulho assusta, tentei fazer o mínimo barulho possível para pegar meus amigos de surpresa. Lembro que depois de muito custo conseguir achar dos meus amigos, a falta de iluminação complicava o meu trabalho, mas ajudava muito na brincadeira, quando deu umas 20:00 horas eu já tinha me afastado muito da estrada tentando achar o último participante da brincadeira, quando os outros que eu já tinha encontrado esperavam esperançosos para que ele vencesse e salvasse os outros.
Depois de alguns minutos achei o Felipe em cima de uma árvore todo encolhido para não ser visto, sai desesperado no meio do mato para bater e acabar com aquela rodada, ele tentava correr mais que eu e falar a famosa frase: “um, dois, três, salve todos”. Enquanto corria para a direção dos meninos que nos aguardava escutei um assobio e o grito assustador do meu amigo atrás de mim, virei minha cabeça para perguntar o que aconteceu, e o que vi me assombra até hoje.
Eu vi atrás do Felipe uma senhora idosa, que com certeza não morava aos arredores, ela era baixinha, deveria ter seus 1,60 cabelos longos brancos, todo desgrenhados, o rosto dela parecia ter sido queimado por toda extensão, aquele rosto enrugado com a expressão de dor, ela caminhava pelas folhas secas, mas não emitia barulhos de passos, mas sim de ossos quebrando, por mais que tivesse escuro conseguíamos ver claramente os olhos sem vida dela.
Lembro de gritar para os meus amigos correrem, e eu corri como se minha vida dependesse disso, e dependia, lembro de chegar em casa ofegante, assustado, e nem me lembrar dos meus amigos. Contei o que aconteceu a minha mãe, e ela me pedi para rezar, depois disso nunca mais brinquei de se esconde a noite, muito menos na quaresma.
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Atualizado até capítulo 74
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