"Que dizem as testemunhas? É válido?"
"É válido!", gritaram todos os presentes que serviram como testemunhas.
Abraham só conseguia fechar os olhos naquele momento. Esfregou o rosto com as mãos, esperando que a sua decisão não decepcionasse ninguém, especialmente os seus pais.
Enquanto isso, Bia, a sua irmã, derramava lágrimas. Não de alegria, mas ao recordar o comportamento humilhante do sogro desde a sua chegada, o que lhe apertava o coração.
"Parabéns, mano", disse Bia, num tom de voz carregado, enquanto abraçava o irmão com força.
"Porque é que parece que não estás feliz por mim?", brincou Abraham, dando-lhe palmadinhas nas costas.
Ele compreendia os seus sentimentos, especialmente depois de testemunhar pessoalmente as humilhações. Tinha a certeza de que ela estava magoada com a situação.
Quando se separaram, Bia olhou fixamente para o irmão, segurando-lhe as mãos com delicadeza.
"Lembras-te da nossa infância, mano? Estávamos sempre juntos, enfrentávamos tudo lado a lado com força, mas agora... vais ter de enfrentar tudo sozinho. E eu vou ter de assistir a tudo...", disse Bia, sem conseguir terminar a frase.
"Eu vou ser forte", afirmou Abraham com um sorriso.
"Ele humilhou-te, mano!"
"Não é como se não estivéssemos habituados a isso, pois não?", respondeu Abraham, erguendo as sobrancelhas.
Bia assentiu. Era verdade que, no passado, os seus pais tinham falecido precocemente. O seu pai, que tinha voltado a casar, tinha-se tornado num alvo de desprezo na escola, e Bia e Abraham também tinham sofrido com isso.
Contudo, os dois irmãos nunca contaram nada aos pais, como se a humilhação fosse algo que apenas viam, ouviam e ignoravam.
"Se não conseguires aguentar, liga-me! Eu vou ajudar-te, aconteça o que acontecer", disse Bia com sinceridade, recebendo um aceno de cabeça de Abraham.
Antes que ele pudesse responder, um homem de meia-idade aproximou-se, fazendo com que os irmãos se virassem para ele.
"Vamos, meu filho. A tua esposa já vem a caminho", disse o Sr. Akmal, aproximando-se deles.
Abraham começou a ficar nervoso, mas tentou manter a calma e a compostura ao lado do sogro. Os seus olhos estavam fixos na escada, aguardando a mulher que se tornara sua esposa há poucos minutos.
À medida que esperava, ouvia um crescente burburinho vindo do andar de cima. Pareciam ser pessoas a discutir, o que fez com que Abraham erguesse a cabeça instintivamente.
"Não quero, pai! Não quero!", gritou uma mulher, tentando soltar-se de alguém que a puxava.
"Cala-te, Aufa! Olha para ti! Estragaste o teu vestido de noiva!", repreendeu uma mulher mais velha, que parecia ser a mãe da noiva.
"Foi mesmo para estragar! Não me vou casar com um homem pobre. Deve ser feio, rústico e desajeitado!", vociferou Aufa, deixando Abraham em silêncio.
Os seus insultos foram ouvidos por todos os presentes. Algumas pessoas sentiram pena de Abraham, que mantinha uma expressão impassível. No entanto, o Sr. Akmal não foi uma delas.
O homem de meia-idade subiu as escadas com determinação, indo ao encontro da filha, que continuava a proferir insultos.
"Pai..."
"Anda, Aufa. O teu marido está à tua espera!", disse o Sr. Akmal, segurando-a pelo braço e puxando-a consigo.
Abraham focou o olhar na figura feminina de aspeto desleixado. O casamento, geralmente associado a um vestido impecável, apresentava um cenário completamente diferente.
O lindo vestido que a sua esposa usava estava cortado e rasgado em vários pontos. Os rasgos eram irregulares e a maquilhagem estava borrada.
"Mano...", sussurrou Bia, segurando a mão do irmão e colocando-se atrás dele.
Abraham virou-se para ela, sorriu e acenou com a cabeça, indicando que estava bem.
"Olha para o teu marido, Aufa!", ordenou o Sr. Akmal à filha, que mantinha a cabeça baixa.
"Não quero, pai. Já consigo imaginar a sua cara!", gracejou Aufa num tom arrogante.
Abraham limitou-se a observar enquanto o sogro sussurrava algo ao ouvido da filha. A mulher de aspeto desgrenhado levantou lentamente a cabeça.
"Aufa, este é o Abraham, o teu marido", apresentou o Sr. Akmal.
Abraham ficou paralisado. Os seus olhos cruzaram-se com um par de olhos castanhos cativantes. Embora a maquilhagem estivesse borrada, não conseguia esconder a beleza da mulher com quem tinha casado há poucos minutos.
"Filho, esta é a Aufa Falisha, a tua esposa", disse o Sr. Akmal a Abraham.
Após a apresentação, Aufa desviou o olhar, endireitou-se e olhou para o lado.
"Vamos, Aufa! Cumprimenta o teu marido!"
"Mas, pai..."
"Lembras-te do que conversámos?", interrompeu o Sr. Akmal.
Aufa estendeu a mão a contragosto. Abraham, hesitante, estendeu a sua mão, que Aufa levou até ao seu rosto num gesto rápido.
"Aufa!"
"Já o cumprimentei, pai! É a mesma coisa!", exclamou Aufa, afastando-se para perto do pai.
...****************...
O evento prosseguiu até ao seu término. Durante todo esse tempo, Abraham foi tratado com frieza e desdém. Os seus ouvidos pareciam estar a arder com os comentários cruéis da família de Aufa.
"Tens a certeza de que queres casar com este homem, Aufa?"
"Vens de uma família de prestígio, Aufa. E este teu marido... é um reles plebeu a tentar ser o teu príncipe!"
As palavras dolorosas martelavam os ouvidos de Abraham, mas ele não reagiu. Mantinha a calma e a expressão impassível, acompanhando a esposa para onde quer que ela fosse.
"Vou à casa de banho. Não me sigas! Fica aqui!", ordenou Aufa num tom ameaçador.
Ela afastou-se, deixando Abraham sozinho. O homem respirou fundo até que o seu sogro se aproximou.
"Não leves a peito as palavras da Aufa, Abraham. A minha filha é diferente dos seus irmãos."
"Diferente como, Sr. Akmal?", perguntou Abraham calmamente.
O Sr. Akmal olhou para o genro com atenção. Respirou fundo e começou a descrever a sua segunda filha.
"Fui pai e mãe da Aufa, e acabei por mimá-la demasiado. Ela é muito gastadora, mimada e tem más companhias", explicou o Sr. Akmal, deixando Abraham pensativo. "Vais precisar de muita paciência com ela, meu filho!"
"Tenho a certeza de que a consegues mudar. A Aufa ainda pode ser controlada, mesmo que seja com ameaças. Por isso, sê firme e não tenhas receio de a colocar no seu lugar!", disse o Sr. Akmal, deixando Abraham em silêncio.
"Acredito que consegues domar a Aufa, Abraham. Confio em ti!"
"Se assim for, gostaria de lhe pedir um favor."
"Claro. Diz-me o que queres", respondeu o Sr. Akmal, olhando para o genro com expetativa.
"Gostaria de levar a Aufa comigo esta noite. Quero levá-la para minha casa, se não se importar."
O Sr. Akmal sorriu e pousou a mão no ombro de Abraham, concordando.
"Ela é tua esposa agora e tens todo o direito de a levar para onde quiseres."
~Continua
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Atualizado até capítulo 131
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