Do choro ao desespero.

Minhas pernas estão bambas e meu coração disparado. Minha vontade é tomar o telefone e saber onde ela está.

Senhor Balik me olha assustado e faço sinal para que ele continue a conversa:

__ Filha, onde você está?

__ Muito longe, mas estou bem. Só liguei para dizer que eu o amo e que não se preocupe comigo.

__ Me diga onde você está?

__ Eu não posso e eu não quero voltar.

__ Não faça isso com seu pai, eu preciso de você.

__ Eu sei, vou ligar sempre que eu puder. Eu não tenho condições de ligar todos os dias mas quando eu tiver outra oportunidade eu ligo.

Num impulso eu tomo o celular de sua mão que está tremendo e falo:

__ Laura! Laura!

O telefone fica mudo e ouço sua respiração e o telefone desliga.

Seu pai está chorando como uma criança e eu estou nervoso e quebro a vasilha que estava com os biscoitos a lançando contra a parede.

Passo minhas mãos pelos cabelos e não ouço mais nada, somente um zumbido na minha cabeça que dói e sinto meu corpo ir ao chão.

Acordo no hospital e minha mãe está ao meu lado. Marcelo me examina, ele está sério e não fala comigo.

__ Como ele está?

Minha mãe pergunta chorando e com medo da resposta.

__ Ele tem que evitar situações extremas, as sequelas da pancada ainda estão recentes e ele pode agravar seu quadro com nervoso e estresse excessivo.

Senhor Balik entra no quarto trazendo um chá para minha mãe que está muito triste e preocupada.

__ Alonso está melhor?

Ele ficou muito nervoso com o telefonema da Laura e quando vi ele já estava desmaiado.

Marcelo olha incrédulo e pergunta:

__ Laura ligou para ele? Onde ela está?

__ Calma, rapaz! Ela ligou para mim e não disse onde está. Alonso tomou o telefone da minha mão e ela desligou.

As feições de preocupação com Laura se estendem pelo quarto. Até que Bia e Patrick entram no quarto e fecho meus olhos para não vê-los.

Minha mãe se encarrega em despachá-los , diz que não posso ficar nervoso e que o médico pediu repouso. Todos saem do quarto e Marcelo se aproxima de mim:

__ Você tem que se cuidar e deixar Laura em paz, ela está magoada e ferida. Se você ficar insistindo ela vai cada vez para mais longe e não vamos encontrá-la nunca.

As lágrimas correm pelo meu rosto e sinto uma tristeza imensa.

Infelizmente ele tem razão e não posso mudar o que fiz e não tenho nem mais uma oportunidade de demostrar a ela que eu me arrependo.

Com o passar dos dias a dor e a saudade vão diminuindo e vou tentando levar a vida o mais normal possível. Minha mãe tem sido minha amiga e confidente mas meu coração novamente está fechando para os sentimentos.

Quase não converso com as pessoas e trato somente o essencial, me fechei para o contato com as pessoas e às vezes procuro em outros braços o que não tenho em minha cama.

Bia se faz presente a todo momento e acabei me deixando seduzir pelo seu charme. Ela é sensual e está sempre disponível. Eu não sou fiel e ela não se importa.

É só um instinto fisiológico sem amor e sem carinho, algo que me faça esquecer.

Mas o sabor de outras bocas não substitui, o cheiro de outros corpos não são iguais e o gosto de outras intimidades não me fazem delirar.

Poucas noites passo na minha cama, porque o cheiro da sua essência me enlouquece e perco o juízo, durmo aos prantos e me torturo com minhas lembranças.

Ela não ligou mais e não temos mais notícias. Quando quero esquecer de mim eu vou para o boticário e me tranco por muito tempo, é como voltar ao sono profundo e fugir desse mundo onde a desilusão me afoga e a tristeza me mata.

Não estou conseguindo ouvir mais ninguém nem mesmo minha mãe.

Mas hoje recebi uma visita no laboratório:

__ Podemos conversar?

É Marcelo tentando me trazer de volta para a vida.

__ Acho que não temos mais nada para falarmos.

__ Eu quero que você me escute, apenas isso.

Ele respira fundo e eu continuo no serviço de perfumista. Sua voz soa como se fosse minha consciência:

__ Eu a vi pela primeira vez cuidando de você, ela estava assustada e linda! Eu pensei que era apenas mais uma de suas tantas oportunistas. Mas com o tempo ela foi demonstrando o quanto ela gostava de você. Eu até pedi que ela tomasse cuidado porque você não era uma pessoa piedosa, mas não fiz isso para te prejudicar mas para poupá-la do sofrimento que foi inevitável.

Ela já estava te amando e eu a amando loucamente. Como desejei ser eu naquela cama e poder sentir seu cheiro e seus toques de carinho. Como eu quis que ela me olhasse da maneira como ela te olhava.

Ela custou a confiar em mim como amigo e confiou que seu amor era o suficiente para te transformar num príncipe.

Eu o olho espantado com a palavra príncipe, as lágrimas teimam em sair e o pranto é o meu consolo.

__ Era assim que ela te chamava enquanto você dormia:

"__ Acorda meu príncipe!"

__ Ela desejou tão forte que você despertou e quando ela achou que havia vencido seus medos e seus limites você despertou o velho homem sem coração.

__ Onde você quer chegar com essa conversa?

__ Quero dizer para você acordar de novo e parar de ser como antes.

__ Eu não consigo! Estou me sentindo frio e o que eu senti por ela acabou.

__ Amor verdadeiro não acaba nem com a morte.

__ Se você a ama, porque está me falando essas coisas?

__ Ela não me ama! E pelo pouco que a conheço ela nunca vai te esquecer.

Fico olhando ele se levantar e caminhar até a saída, o tubo que eu fazia a alquimia se quebrou em minha mão e essência se espalhou pelo meu corpo e eu chorei, chorei muito até perder as forças e cair sobre minhas pernas em desalento.

Agora sei o que o amor faz com um homem e sei que não adianta lutar contra porque nos torna o mais fraco e infelizes dos seres.

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