Em meio ao surto

Está tudo escuro, chove muito e eu estou nervoso, flashes vem em minha mente, vejo Bia rindo e debochando de mim, ela está no colo de um homem... Preciso de ajuda!!!... O carro corre, vejo uma curva e uma carreta... Alguém me ajuda???... Está escuro meu corpo dói!!! Socorro!!! Socorro!!! Sinto muito medo! Medo da morte! Medo do escuro! Muitos flashes e o pneu canta no asfalto molhado, aperto o freio e ele não funciona, o carro capota diversas vezes... Onde estou?...

Uma mulher vestida de noiva aparece em meio ao nada, ela é linda como um anjo, vem em minha direção, ela traz uma luz que me aquece e sinto sua mão puxar minha alma para o corpo. A dor é imensa como se eu estivesse nascendo. Não consigo abrir os olhos e minha voz não sai, está escuro... muito escuro! Estou com medo. Socorro!!!

__ Dona Madalena! Dona Madalena! ... Me ajuda ele está tendo uma convulsão.

Eu estava deitada na poltrona ao lado da cama onde Alonso passa sua vida de debilitado. De repente ouço mexidas bruscas na cama e para ele não cair me abraço ao seu corpo forte e viril, ele se debate e não sei de onde tiro forças para segurá-lo. Estou no meu limite e começo a pedir que alguém me ajude.

Dona Madalena e o enfermeiro entram apressadamente no quarto e me ajudam a segurá-lo, um remédio lhe é aplicado e seus braços que me machucam vão aliviando lentamente até se soltarem do meu corpo frágil agora todo machucado.

Passo minhas mãos por seus cabelos e ele vai acalmando, beijo seu rosto e falo palavras de paz e calma para a sua aflição:

__ Não fica assim, meu príncipe! Você está acordando de uma longa jornada, eu estou aqui! Descansa, nada vai te acontecer de ruim, eu não vou deixar ninguém lhe fazer mal.

Estou banhada em prantos e vejo sua mãe buscando forças para suportar tanta dor.

Ela me abraça por trás e me tira de cima dele que está novamente adormecido:

__ Laura, minha filha! Venha ele vai dormir agora. Deixa-nos cuidar de você. Olha seus braços, estão doendo?

__ A dor dos braços não é nada comparada a dor que sinto em meu peito. Eu não quero vê-lo sofrendo desse jeito.

Os meus braços estão roxos com as marcas de suas mãos, meus lábios estão cortados com uma cabeçada que levei e minha alma está em pedaços ao vê-lo desse jeito.

A noite toda passei acordada ao seu lado, ele não teve mais nenhuma reação, acho que ainda está sobre efeitos do remédio. Dona Madalena já ligou para o doutor Marcelo, ele deve vir pela manhã.

Antes que o sol entre pela janela eu faço minha higiene e fico de prontidão esperando o médico. Não consigo ao menos tomar um café, estou muito nervosa com o que aconteceu, eu preciso saber se isso será constante ou vai ser só agora nos primeiros dias.

Doutor Marcelo entra no quarto com a calma que lhe é peculiar, temos nossas desavenças por ele ficar se jogando para cima de mim, mas agora eu preciso da sua ajuda.

__ O que aconteceu, Laura? O que foi com seus braços, e o seu rosto?

Nem percebi que estou tão machucada, estou numa aflição muito grande que nem me dou conta de que estou sendo abraçada por ele.

__ Calma! Não precisa chorar, só me explica o que aconteceu?

__ Ele acordou durante a noite, não era acordar realmente, era mais uma crise de nervos, seus olhos não abriram e seus braços, pernas e a cabeça se debatiam fortemente e eu me debrucei em cima dele para que ele não caísse da cama.

__ Mas alguém não te ajudou? Alonso é muito grande e você é muito delicada.

__ Eu gritei e pedi ajuda, mas até chegarem eu já o estava segurando.

__ Tudo bem! Agora se acalme e senta aqui.

Ele me guia até a cadeira ao lado da cama.

__ Vou examiná-lo e depois vou cuidar dos seus machucados.

Ele está sendo gentil, mas, mesmo assim, ainda tenho ressalvas a seu respeito.

Ele olha seus sentidos e movimentos, vê as reações e estímulos, estou sem entender suas expressões. Dona Madalena observa ao meu lado e não falamos uma só palavra.

__ Pois bem! Ele está saindo do coma, não podemos descrever quanto tempo pode durar e se as convulsões vão se repetir. Vou dar um sedativo leve para amenizar e um remédio para dor, ele pode vir a sentir muita dor de cabeça e no corpo.

Não criem muitas expectativas no momento, ele pode não se lembrar de nada ou apenas de algumas coisas. Fiquem tranquilas pois isso faz parte do processo de recuperação.

Pode acontecer dele acordar e ter sido apenas uma noite de sono, ele pode voltar a ser o que sempre foi.

Quando ele nos fala as últimas palavras eu sinto muito medo, pois não nos conhecemos e não podemos imaginar qual será sua reação ao me ver.

__ Venha, Laura! Vamos fazer umas compressas para aliviar esses braços.

Ele passa um pano quente e depois pomadas, sua mão pesada faz doer um pouco, ele cuida dos hematomas do rosto e pela primeira vez ele parece sentir empatia pelo que estou passando:

__ Está difícil agora, mas posso te garantir que pode ser bem pior quando ele acordar.

__ Por quê o senhor diz isso?

__ Sou amigo de Alonso desde criança, ele tem uma pedra no lugar do coração. Seu pai não ensinou a ele o que é amor, somente a ser impiedoso e implacável com todos. A única pessoa que ele ama e cuida é a sua mãe.

__ Eu não consigo vê-lo com esses olhos. Ele parece um príncipe dormindo e eu não o amo, apenas sinto muita pena por ele ser tão jovem e estar nesse estado e sua mãe sofre muito o vendo desse jeito.

__ Desculpa as outras vezes que nos encontramos, eu fui indelicado pois pensei que você era só mais uma aproveitadora cassando fortuna.

__ Eu não sei quais tipos de mulheres vocês se relacionam, mas, com certeza, eu não sou igual e não tenho interesse em nada que não seja meu.

Falo cobrindo meus braços com um xale de dona Madalena.

__ Não quis te ofender, só estou sendo sincero e também o sou quando digo que além de linda você é muito especial.

__ Em sinal de paz, quero te pedir um favor.

__ O que você quiser.

__ Não conte para ninguém que ele está acordando.

__ Você está se referindo a Bia?

__ A ela e ao Patrick, eu não confio neles.

__ Pode deixar, ninguém vai saber, não por mim.

Voltamos para o quarto e Alonso parece dormir sereno novamente.

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