Distância

Quatro dias se passam e na enorme mansão não nos encontramos, ele não me procurou e eu não tive coragem para encará-lo.

Mas não posso viver na incerteza e trancada num quarto esperando ele me procurar.

Tomo um banho e vou até seu quarto pela manhã, abro a porta e me deparo com a mulher nua em sua cama, sinto um arrepio ruim percorrer meu corpo e uma náusea forte me deixa tonta.

Minha respiração ofegante e o vejo saindo do banheiro com uma camisa e uma calça preta, abotoando o botão do punho. Ele está lindo e totalmente diferente do que era a dias atrás.

Seus cabelos que antes eram soltos aos ombros agora penteados para trás, lhe dando um charme especial com a barba por fazer em um cavanhaque elegante. Meu corpo tem vibrações ruins quando ele me olha com seus grandes olhos azuis quase pretos de ódio:

__ O que você faz aqui? Pensei que já tivesse ido embora.

Um nó fecha minha garganta e minhas pernas tremem, a mulher se levanta da cama sem nenhum pudor e o beija na minha frente e com sarcasmo sorrir e coloca um roupão.

Ela caminha até o banheiro e ele me olha como uma fera sem alma:

__ Eu já sei de tudo, você se casou comigo para salvar as empresas de seu pai e não passa de uma interesseira atrás de fortuna.

__ Não é nada disso, eu posso te explicar.

__ Não perca seu tempo, Bia e Patrick já me contaram tudo, você e Marcelo são amantes e armaram para que eu morresse e você tivesse um filho meu para ter direito a herança.

__ Você está louco! Marcelo é seu amigo.

__ Numa noite eu os vi abraçados e sempre vi como ele te olha e você não recusa seus carinhos.

__ Não é verdade! Você sabe de tudo que aconteceu entre nós, sabe que foi o único homem da minha vida.

__ Você pode ter armado para mim. Eu não quero te ver nunca mais e vou pedir a anulação desse contrato.

Estou sem chão e as lágrimas de humilhação rolam pelo meu rosto e me sinto um lixo.

__ Eu sei que você pegou uma alta quantia em dinheiro com minha mãe para pagar o tratamento de saúde do seu pai, eu vou executar a dívida e vou lhe tomar a empresa da cidade, eu não tenho dinheiro para jogar fora.

__ Não faça isso, a dívida é minha e eu vou pagar. Me dê um tempo, eu vou conseguir o dinheiro.

__ Você tem um ano para quitar essa dívida ou ficará na sarjeta com aquele velho turco e sua irmã ordinária.

Sinto asco de todas as suas palavras e não sinto que ele é o meu príncipe que tanto amei.

Ele deu ouvidos a quem não merecia e voltou a ser aquele homem sem alma e sem coração.

Saio do quarto onde vivemos uma linda história de amor e agora é só um lugar sombrio.

Entro no meu quarto e pego minha mala e o segurança tem ordens para me deixar bem longe da propriedade.

Dona Madalena vem ao meu encontro e me entrega uma pequena bolsa com alguns pertences e fala baixinho em meu ouvido:

__ É para você começar sua vida longe daqui. Eu te amo como a uma filha não se esqueça de mim e perdoe meu filho, um dia ele irá se arrepender da tolice que está fazendo.

Choramos abraçadas uma a outra e coloco a nécessaire dentro da bolsa de mão. O segurança pega minha mala e vejo Alonso de pé na porta do quarto me olhando sem expressão. Parecendo outra pessoa e não sinto comoção da sua parte.

Todo o trajeto até a estação eu faço chorando, não sei para onde ir o que fazer. O segurança me vendo naquele estado sem rumo vai até o guichê e compra uma passagem para a última cidade onde o trem faz o retorno, me despeço dele com um abraço pois sempre o tratei com respeito. Ele pede que eu tenha cuidado e não confie em ninguém pois eu corro muito perigo.

__ Chavier, nunca diga para onde fui, se perguntarem por mim apenas diga que eu morri.

Entro no trem de passageiros e faço uma longa viagem de tristeza e dor. Não tenho mais lágrimas para chorar e nem forças para suportar tanta dor.

Quatro dias de viagem e chego ao meu destino, quero esquecer as lembranças desse último ano, que só foi dor e sofrimento. Preciso começar uma nova etapa e não sei por onde.

Procuro um cômodo no subúrbio, estou sozinha e não preciso de muito, mas não encontro nada apropriado para começar a vida. Depois de muito tempo caminhando encontro uma marquise e me abrigo por duas noites ao relento. Sinto frio e medo, a solidão é minha companhia e a tristeza é o combustível para querer recomeçar.

Acordo suja e cansada, com apenas uma bolsa e uma mala de mão, sinto fome e não tenho dinheiro para comer. Sento numa praça e vejo crianças brincando, encontro um papel no chão com anúncio de vagas de emprego em uma indústria de biscoitos.

Lavo meu rosto no banheiro público, procuro o endereço e me ofereço para a vaga. A mulher me olha com com empatia e me dá uma oportunidade:

__ Você tem onde ficar?

Ela pergunta percebendo que não sou da cidade.

__ Não senhora, cheguei há pouco e ainda não consegui um lugar.

Conto a ela o suficiente para saber que não sou uma má pessoa e que preciso trabalhar e de um lugar para ficar até me estabilizar.

__ Minha irmã tem uma pensão no final da rua, diga a ela que eu te mandei até lá e que é para ela te arrumar um quarto, depois eu passo para acertar o primeiro mês.

__ Obrigada! Eu não sei como agradecer.

__ Trabalhando, seja eficiente no trabalho e me ajude com as inúmeras encomendas. Não faça corpo mole e fique longe de confusão.

Não entendo bem o que ela quis dizer mas darei o meu melhor.

Fui para a pensão, um lugar simples e muito limpo, a mulher me tratou muito bem e me ajudou a chegar no quarto, me mostro tudo que tem e as normas do lugar. Não tem luxo mas tem o suficiente para recomeçar.

Tomo um banho e deito em uma cama pequena sem muito conforto depois de uma semana longe de um lar.

Choro amargamente a dor da humilhação, mas respiro fundo e sinto que não gostaria de ter conhecido o Alonso de agora e que não quero mais vê-lo na minha frente e que farei de tudo para esquecê-lo.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***