Caminhando pelas ruas do Cachamorra em Campo Grande, uma garota punk bufava pelas calçadas, seu rosto vermelho denunciava uma possível irritação profunda. O caminhar pesado e decidido destacava sua presença imponente. Seus longos cabelos loiros ondulados estavam presos em um coque desajeitado, revelando a lateral raspada da cabeça. A atmosfera ao redor tornava-se tensa, as pessoas se afastavam com receio de possíveis confrontos, evitando olhares diretos. A garota, com a postura de um diabo da Tasmânia, avança na direção de uma senhora baixinha e magrinha, que permanece encostada na entrada de uma antiga casa.
- oh querida quando for assim pode me pedir ajuda
Disse a senhorinha de forma gentil enquanto pegava algumas sacolas das mãos da garota, que suspirou, finalmente aliviada ao colocar as 15 bolsas de compras no chão da calçada.
- que isso dona Eliza, estou aqui para ajudar a senhora.
Disse a punk ofegante, que logo botou as mãos nos joelhos e respirou fundo, enquanto fechava os olhos sentiu as mãos arderem por causa do peso.
- ah querida entra um pouquinho, tá tão calor e você toda de preto, entra deixa eu te dar uma garrafinha de água.
A senhorinha que usava um longo vestido floral deu tapinhas nas costas da garota e a puxou para dentro da casa junto com as compras. A casa era aquela típica casa de vó, com quadros de paisagens, sofá com lençol em cima e um delicioso cheiro de alfazema com coisa guardada.
- você é muito boazinha Lively, devo agradecer aos seus pais por criar uma menininha tão linda
Por um momento a senhorinha parou e sorriu de forma desajeitada, assim dando um tapinha na própria testa
- aí desculpe esqueci que você é trans, é um menininho muito lindinho
Lively deu uma leve risada e cruzou os braços enquanto sentava à mesa
- que isso dona Eliza relaxa, pode me chamar de menina mesmo, não ligo muito para isso
A senhorinha sorriu e começou a guardar as compras, Lively também ajudava
- aí sim! Aí desculpe são tantos nomes e rótulos hoje em dia que essa cabecinha velha esquece de tudo
Dona Eliza, com seu sorriso acolhedor, pegou uma garrafa de água na geladeira e, em seguida, foi até a despensa buscar biscoitos. A luz suave da cozinha destacava a atmosfera acolhedora da casa, e o aroma dos biscoitos recém-tirados da embalagem se espalhava pelo ambiente, criando uma sensação de conforto.
- ah fala assim não, a senhora não possui uma cabeça velha, é inteligente e está linda, com certeza lá no forró você atrai vários olhares.
Elas riram, a senhora deu mais alguns biscoitos para Lively, que aceitou com um sorriso agradecido, e sentou ao seu lado em uma das cadeiras confortáveis da cozinha.
- eu atraia vários olhares lá na década de 80, hoje em dia vocês falam que nós somos punque né, mas na época éramos chamados de rebeldes, aí época boa, meu cabelo era todinho raspado, usava uns brinco dessa tamanho, aí época boa.
A garota arqueou a sobrancelha e deu uma leve risada, pois dona Eliza parecia uma vovó de contos de fadas com aqueles óculos redondos e cabelos brancos cacheados.
- a senhora era rebelde? Sabia disso não.
A senhora sorriu e levantou, caminhou lentamente até seu quarto e após alguns minutos voltou com uma enorme caixa, assim, a colocou em cima da mesa, a abrindo.
- aqui ó, minha época de mocinha, esse coturno era do meu pai, ele era militar então fiz questão de pegar justamente as dele haha, ah e essa era a minha Jaqueta, fiz ela todinha de cabo a rabo ah e olha só, minha calça, coisinha mais linda.
Ela tirava tudo da caixa, até que lá no fundo achou algumas fotos.
- oh querida aqui, minhas fotos.
Lively sorriu ao ver as imagens, dona Eliza junto com outros punks da época, ela fazendo caretas em meio prefeituras, erguendo a bandeira comunista, pichando muros, bebendo, fumando e beijando uma garota, mas o que mais impressionou Lively foi uma foto da senhora dando um selinho da Rita Leah
- Meu deus!? Você pegou a Rita Leah? Com todo respeito dona Eliza, mas a senhora é muito foda!
A senhora deu uma risadinha e logo a garota viu varias fotos da dona Eliza com uma mulher
- Era sua namorada?
A velinha segurou a foto e a botou no peito, sentindo o calor daquelas lembranças tão doces
- ah sim, Marieta o nome dela, ela era o cão, mais atentada que eu haha danada ela, mas depois de uns 5 anos juntas, quase no fim da ditadura, ela foi pega...aí Deus como sofri, sinto falta dela até hoje, não conheci nenhuma mulher nem mesmo um homem bom que nem ela.
Eliza guardou a foto novamente, parou por alguns segundos, olhando aquela caixa cheia de lembranças tão boas, sorriu com os olhos e com o coração quentinho empurrou as roupas para a garota.
- aqui meu bem, um presente por você ser tão boazinha comigo
Lively arregalou os olhos, completamente surpresa e feliz, ela pegou as roupas com os olhos brilhantes como o sol e sorriu como uma criança no parquinho
- que isso dona Eliza, não posso aceitar, são suas lembranças!
A senhorinha riu, sentindo que deixar aquelas lembranças guardadas em uma caixa velha era como deixar um tesouro enterrado na lua, algo inútil que sumiria com o tempo
- não querida, são seus, para aproveitar seus tempos de moça tanto quanto eu, por favor aceite o meu presente. Já estou velha e não possuo filhos, se devo passar essa lembrança para alguém, essa pessoa é você
A garota num pulo abraçou a senhora com força, muito grata por receber um presente tão especial e significativo, após o abraço, a senhora lhe deu mais alguns biscoitos e se despediu dela, assim, lively saiu da casa como uma criança que acabou de sair de uma loja de brinquedos.
No mesmo bairro, porém em uma mansão de luxo, uma garota de feições delicadas tocava suavemente um piano no centro da sala. Seus olhos estavam fechados, entregues à melodia que fluía de seus dedos. O ambiente era marcado pela serenidade, os móveis finos, e as cortinas que balançavam suavemente com a brisa.
No entanto, toda essa calmaria foi abruptamente interrompida quando o som doce do piano foi quebrado pelo impacto de suas mãos socando as teclas. O delicado toque transformou-se em uma expressão visceral de emoções intensas, ecoando no ambiente luxuoso. O apartamento, por um momento, testemunhou a colisão entre a beleza e a brutalidade das emoções humanas.
- aaaah eu não aguento mais! Poxa Letícia eu quero patinar, não suporto esse piano.
A menina exclamava, sua voz doce como a melodia de um anjo, não intimidava ninguém, era como o miado de um filhote de gato bravo. A doméstica, percebendo a agitação da garota, aproximou-se com suavidade, tocando gentilmente em seus ombros. O contraste entre a voz angelical e a aparência inofensiva da menina proporcionava uma experiência peculiar aos que a ouviam.
- eu acho que você foi super bem Shayene, treine só mais dez minutinhos e te liberarei para patinar, eu prometo.
A menina suspira com frustração e apoia o rosto nas mãos
- é Shai, ninguém me chama de Shayene desde os meus 10 anos. Obviamente, além dos meus pais...eles nem devem saber que eu e Lively estamos na faculdade, eles nunca sabem de nada, eles nem sabem que eu odeio tocar piano e ainda sim pagam essa merda!
Ela soca as teclas mais uma vez, sentindo a frustração fluírem pás teclas como raios atingindo uma árvore
- Seus pais trabalham duro para dar esse luxo para vocês, devem ser agradecidas.
Leticia diz num tom calmo, Shai respira fundo e vira o rosto para a mulher
- meus pais possuem esse luxo pois são mais um produto do capitalismo, se trabalhar duro fosse baseado no esforço e carga horária, você seria milionária Letícia, é doméstica dessa casa desde que me lembro por gente, mas não, lembro que foi um esforço para meus pais te darem vale transporte, sendo que eles tem condições de comprarem uma loja inteira da Guchhi
Letícia ia se pronunciar, mas desistiu, bufou e se afastou da garota, indo em direção da cozinha
- não é para sair do condomínio e leve a Frida para patinar com você.
Disse Leticia sem olhar para trás, sabendo que não valeria a pena discutir com ela, a menina sorriu alegremente, levantou do banco e pegou em sua bengala, assim, se direcionando até seu quarto, onde sua Golden Retrivier a esperava ansiosamente.
- ah Frida, meus pais realmente acham que sou a filha da rainha Elisabeth, sim eu gosto desse luxo que eles me dão, amo os presentes e obviamente amo as viagens, mas tipo assim, eu estudo sobre sociologia e tal sabe? Tipo eu sei que o que eles fazem é errado e mesmo amando os luxos, eu não devo ser submissa aos reis
A Golden Retriver latiu, como se estivesse confirmando e sentou no chão, ao lado da garota, que vestia um par de tênis que ao bater os pés no chão rodas saiam deles.
- vem garota, vamos passear um pouco.
Não muito longe dali, Em uma ruazinha residencial de Nilópolis, havia uma casa acima de um barzinho e lá dois irmãos corriam pela casa, rindo e gritando.
- Ara! Já falei pra não lamber a massa de bolo que azeda!
Uma mulher de meia idade, com longos cabelos crespos presos em um coque, de pele preta, gorducha e de caídos olhos castanhos, corria com uma colher de pau, atrás de dois garotos. O primeiro era alto e forte, com o corpo definido e longos dreads pretos com pontas descoloridas amarrados em um rabo de cavalo, ele possuía grandes olhos pretos, assim como o garoto ao lado, que era mais baixo e possuía um corpo que não era magro, mas que também não era gordo e nem definido, ele era um pouco mais claro que os dois e possuía médios cabelos crespos assim como a mulher.
- Corre Yuri, corre!
Gritou o mais alto enquanto corria em direção do quarto, assim que os dois chegaram bateram a porta com tudo
- queeeeebra!
Exclamou a mulher, os rapazes riam e o menor sacudia as mãos, animado, sentindo a energia frenética e alegre do ato correndo por suas veias
- Yan, conseguiu pegar a tigela?
O mais alto sorriu e mostrou ao menor a tigela com sobras de massa de bolo
- hahaha a vovó tá braba
Yan riu enquanto entregava uma colher para Yuri, que comia a massa de bolo com prazer
- só não exagera se não vai ficar com dor de barriga
O mais alto sentou no chão de concreto é observou o irmão comendo.
- aí maninho, tô orgulhoso de você, a vovó gritou pra caralho e você nem tremeu!
Yuri sorriu animado e sacudiu as mãos
- valeu a pena pelo bolo! Açúcar da energia pro cérebro poder jogar
O rapaz disse animado e Yan riu devido a inocência e animação vindo da voz do rapaz
- é tô vendo que você está focado no jogo lá e no meu aplicativo de DJ também, tô ansioso para ele ficar pronto haha
- espero que vocês fiquem cheios de lombriga quando se entupirem de massa crua!
Gritou a mulher do outro lado da porta, o que fez os garotos rirem.
Lively estava na calçada do condomínio, Shai patinando, Yuri e Yan comiam bolo quando os celulares dos 4 vibraram, era uma mensagem de Iwa
Ei presuntos, reunião aqui em casa durante o almoço tenho um bang bizarro para contar pra vocês, mas já avisando: não gritem, ela se assusta fácil
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Atualizado até capítulo 30
Comments
Luna006
a lively parece fofa
2023-09-19
1
Ana pontel
MNNN, adorei esse cappp!!!! pela descrição da Lively com ctz tem mto estilo 👀 kaksksk adorei o cabelo!!! e ela é tão gente boa 🥺💕 ela e a dona Eliza são tão-------💖🛐 enfim. mas aí gente q senhorinha foda viu pqp 🥺 💕 💕 e a shai tadinha, ela é aquele clássico q os pais dão coisas materiais, mas nunca estão presentes na vida dela..🥲AH e o Yuri e o Yan??? KAKAKAKAKSKKS eles roubando a massa de bolo, n vou julgar pq é o tipo de coisa que eu faria AKKAKAKSKSKS tô doida pra esses 4 conhecerem a ghottic 👀👀👀
2023-09-08
2
Natalia Alves
amando cada capitulo
2023-09-07
1