Barreira

A floresta, normalmente viva com o murmúrio da natureza, mergulhou em um silêncio incomum, como se cada árvore e criatura estivesse observando com atenção cada passo de Ghottic. O ar ficou pesado e denso, impregnado com uma energia carregada de tensão e antecipação, enquanto a escuridão da noite envolvia tudo ao seu redor.

À luz pálida da lua, os contornos das árvores se misturavam, criando sombras dançantes que pareciam se mover à medida que Ghottic avançava. O silêncio noturno era interrompido apenas pelo ocasional farfalhar das folhas ou pelo uivo distante de uma coruja, criando uma atmosfera ainda mais sinistra.

O brilho fraco das estrelas no céu noturno lançava uma luz espectral sobre a floresta, iluminando apenas o suficiente para revelar os contornos vagos do terreno irregular. Cada passo de Ghottic parecia ecoar pela densa vegetação, amplificado pela quietude opressiva da noite.

Dentro do domo de magia, Isaac permanecia inconsciente, envolto em um sono profundo e perturbador. Sua mente parecia distante, perdida em um mundo de sonhos turbulentos e sombrios, enquanto seu corpo jazia imóvel e vulnerável aos caprichos da bruxa.

- Ufa... só mais alguns passos...

Suspirou Ghottic, seus pés encontrando resistência na densidade do solo. O esforço físico combinado com a atmosfera silenciosa criava uma sensação de solidão que pairava no ar, acompanhando cada movimento dela naquele mundo escuro.

O silêncio predominante incomodava Ghottic, que sentia uma forte vontade de quebrar aquele vazio sonoro. A floresta, antes um coral de sons, tornara-se um eco quieto e perturbador. A bruxa considerou falar, mesmo que fosse consigo mesma, apenas para dissipar a opressão daquele silêncio que parecia penetrar cada parte da sua existência.

As árvores guardavam seus segredos naquela noite, e o mundo ao redor permanecia envolto em uma quietude que sussurrava mistérios e expectativas não ditas. O peso do silêncio, entrelaçado com a magia que Ghottic manipulava, transformava cada passo em uma jornada solitária através de uma floresta que observava com olhos silenciosos cada escolha da bruxa.

— Ufa! Finalmente...ilê¹

Ghottic respirou fundo, seus olhos fixados na majestosa árvore que suavemente balançava suas folhas douradas sob a brisa delicada da floresta. Cada folha dançava em harmonia com o vento, criando um espetáculo hipnotizante de luz e sombra sob o luar.O brilho prateado da lua derramava-se sobre as folhas da árvore, criando um jogo de luz e sombras que pintava padrões intrincados no chão coberto de musgo. O suave farfalhar das folhas era como uma melodia suave, ecoando pela floresta e enchendo o ar com uma sensação de tranquilidade.

- Ahm... salgueiro? Poderia ran mi lowo?

Murmurou a bruxa, suas palavras pareciam uma prece sussurrada à natureza ao seu redor. Os olhos de Ghottic se voltaram para o rapaz ao seu lado, uma figura suja e machucada que despertava nela uma dualidade de emoções, entre o nojo e a curiosidade.

As folhas do salgueiro-chorão, como bailarinas respondendo a uma melodia mágica, começaram a mover-se delicadamente em direção ao domo que envolvia o corpo do rapaz. Um manto de folhas envolveu suavemente o humano, transformando o domo em uma cama de vegetação que parecia brotar em resposta ao chamado da bruxa.

- Ẹ ṣe é o!

Expressou Ghottic, sua gratidão fluindo em palavras de agradecimento ao salgueiro. Observou as folhas da árvore erguerem o rapaz, conduzindo-o com gentileza até o ninho que ela chamava de lar. As folhas desceram novamente, abrindo-se como cortinas para a bruxa adentrar.

Dentro do ninho, um espetáculo mágico se desdobrava. Vaga-lumes dançavam em um balé de luz amarelada, iluminando cada canto com um fulgor encantador. O sorriso de Ghottic refletia sua sensação de pertencimento, um calor familiar que emanava do santuário natural.

Escalar o tronco retorcido da árvore não era um desafio para Ghottic, que chegou ao seu ninho com facilidade. O domo desfeito afastou-se, revelando o humano adormecido em uma cama improvisada de grama seca, pelos e penas. O ninho tornara-se um refúgio tranquilo e acolhedor, onde a magia entrelaçava-se com a beleza natural, a bruxa sentia-se em casa, envolta pela luz dos vaga-lumes e deixando a escuridão da floresta bem longe dali.

— como será que o deiyi⁴ aqui?

Perguntou em voz alta para ela mesma, sem saber se queria ou não uma resposta daquilo. O humano dormia profundamente, desejando de que tudo aquilo não passasse de um pesadelo bizarro, a sua respiração estava fraca e a face neutra; na sua mente ele sonhava com algo parecido com uma guerra nuclear entre sorveterias rivais. A bruxa senta ao lado do rapaz e suspira, ela sentia medo, mas queria ajuda-lo.

— Emi yoo um ọ larada⁵...

Sussurrou a bruxa no ouvido do rapaz, logo, se afastou e pulou da árvore, assim, correndo em direção a floresta.

Ghottic passou a madrugada inteira colhendo, amassando, cortando e cozinhando ervas medicinais, que diminuíssem os inchaços e queimaduras do rapaz, ela nunca trabalhou tanto, as suas mãos tremiam e a sua vista embaçava, ela já usara boa parte da sua magia naquele dia, se usasse mais poderia desmaiar ali mesmo por exaustão.

— Mo ti pari!⁶

Exclamou Ghottic após horas trabalhando, com o seu olho fundo ela olhou entre as folhas do salgueiro e viu que o céu estava aos poucos ficando azul-claro, com um longo suspiro ela jogou o seu corpo pesado no ninho, assim, deitando-se ao lado do humano, que estava coberto de curativos úmidos feitos com folhas e ervas, o seu corpo estava bem melhor visualmente, a bruxa sorriu, orgulhosa de si mesma, fechou os olhos e nem sentiu o sono chegar.

Não deu tempo de sonhar, Ghottic acordou sentindo algo se mexer ao lado dela, rapidamente, ela abriu o olho e viu o rapaz sentado, coçando os olhos enquanto bocejava. Quieta como uma onça, ela fez o mínimo movimento possível para sentar-se também, sem tirar o olho dele, o observando atentamente.

— a ai...minha cabeça...

Disse o humano enquanto coçava a testa, sem ele sentir os curativos caiam do seu corpo. Quanto mais ele acordava, mais percebia o ambiente estranho que ele estava, primeiro sentiu o ninho quando pôs a sua mão para baixo, depois percebeu as folhas acima da sua cabeça, como um enorme teto dourado, ele estava confuso.

Ghottic estava quieta e atenta, não falava nada, mas queria muito falar, ela não sabia o que fazer.

O garoto virou-se e arregalou aqueles enormes olhos verdes quando viu a bruxa, o seu corpo deu um pequeno pulo devido ao susto, por um momento seu coração acelerou e os seus pelos arrepiaram

— ah! Ah...meu Deus! Você me assustou! Ahm...isso aqui é algum tipo de acampamento? Não me lembro de ter chegado aqui noite passada.

Ghottic também se assustou ao ver que ele havia se assustado, ela o encarava, notando cada expressão facial que ele fazia ao falar.

— o ji! Iwa lero ti o dara? (você acordou! Sente-se bem?)

Exclamou Ghottic, animada, porém, ainda nervosa. O humano a olhou confuso e passou as mãos nos ouvidos, ele pensou que estava ouvindo tudo embolado por acabar de acordar.

— desculpe... não entendi pode repetir? Acho que ainda tô meio tonto por acordar rápido haha

Ele coça a nuca, enquanto sorria envergonhado, Ghottic suspira, percebendo que ele não havia entendido ela.

— o lero ti o dara? (sente-se bem?)

Disse Ghottic pausadamente, porém, ele ainda não entendia, fazendo novamente uma expressão confusa, que logo se transformou em raiva.

— isso é algum tipo de brincadeira? Ou código de escoteiros? É sério! Eu quero saber onde eu tô!

Sempre que dizia a palavra “eu” o garoto apontava as suas mãos em direção ao peito; a bruxa suspirou e gesticulou como ele.

— e-eu...eu...Temi ilê (minha casa)

Ela abre os braços e olha em volta, querendo mostrar que aquele salgueiro era sua casa, mas ele não entende e suspira, já um pouco sem paciência. Porém, ao olhar em volta percebe que lá haviam objetos parecidos com o que ele havia em casa, como o travesseiro e o cobertor de Ghottic, que eram feitos com penas e pelos.

— você...é alguma nativa ou algo do tipo? Eu só lembro de estar machucado na floresta e do nada acordei aqui!

Diz apontando para a bruxa, depois para ele e para o ninho, a expressão de raiva havia saído do seu rosto, agora, o humano expressava concentração.

— vo-você...

Ghottic apontou para o garoto da mesma forma que ele apontou para ela, a bruxa estava pensativa, tentando conectar aquelas palavras tão difíceis.

— você...estar machucado...eu chegado aqui...e acordar...

A bruxa corou, pois, se sentia uma boba, aquelas palavras não pareciam fazer sentido, ela tentava gesticular ao máximo, pois sabia que aquela comunicação seria difícil.

— humm...então...você me levou até a sua árvore e...cuidou de mim? É isso? Você me achou de noite e me trouxe até a sua tribo para me curar?

Ele apontou para a cabeça e para os braços, onde ainda tinha algumas folhas.

— eu...curar você.

A garota pegou um punhado de folhas ao seu lado, que ainda estavam com um pouco da pasta que ela havia feito para ser o remédio, assim, as mostrando ao rapaz.

— uau...obrigado!

O garoto sorri, Ghottic percebe que ele estava agradecido ou feliz por ver as folhas, então percebe que estava fazendo algo certo.

— orukọ mi ni Ghottic Kimyona. ( o meu nome é Ghottic kimyona)

Diz a bruxa apontando para ela mesma, o rapaz parece pensar um pouco, mas logo responde.

— ah! Prazer Ghottic! O meu nome é Isaac Kaji de Ramos, mas meus amigos me chamam de Iwa.

Diz apontando para ele mesmo e a bruxa aponta para ele.

— prazer...Isaac.

Ghottic sentada diante dele, curva o seu tronco até a altura do peitoral de Iwa, depois volta a postura, com a mão esticada ela leva a mesma até a pélvis e numa linha reta a bruxa traça um caminho até a própria testa, assim, passando e direcionando a ponta dos dedos para Iwa.

— temi laisi opin pade tire ( o meu infinito encontra o seu)

Iwa sorri e tenta imitar o que a bruxa fez, corado e envergonhado ele pronuncia o cumprimento.

— temi..laichi...opim...pade tire

Ghottic cora e solta uma leve risada, achando fofo aquele gesto inesperado. O humano, notando a reação dela, fica ainda mais vermelho, mas também ri, sentindo-se mais à vontade na presença da bruxa. Com um sorriso tímido, ele estende a mão em direção a ela, esperando por uma resposta.

A bruxa observa a mão estendida, seu coração batendo um pouco mais rápido do que o normal. Ela espera por um momento, até que gentilmente decide aceitar o gesto, tocando na mão estendida do humano. Um choque quente percorre pelo corpo dos dois, deixando-os ainda mais vermelhos, mas ao mesmo tempo, uma sensação reconfortante os envolve, como se uma conexão especial estivesse se formando entre eles.

Em um gesto impulsivo, o humano guia a mão da bruxa até a sua, entrelaçando seus dedos suavemente. Ambos sentem o calor da pele um do outro, criando uma ligação delicada e significativa que parecia transcender o momento. Era como se, naquele instante, o tempo se dilatasse e o mundo ao seu redor desaparecesse, deixando apenas os dois juntos.

— é um prazer te conhecer, Ghottic.

Ele sacode levemente a mão enquanto sorri gentilmente.

— é um prazer te conhecer, Isaac.

...•Dicionário celtiano•

...

...Ilê: casa

...

...Ran mi lowo: me ajudar

...

...Ẹ ṣe é o: obrigada(o)

...

...O deiyi: Você chegou

...

...Emi yoo um ọ larada: Eu vou te curar / eu vou curar você

...

...Mo ti pari: terminei/eu terminei

...

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Comments

Luna006

Luna006

eles juntinhos aaaaaaaaa

2023-09-19

1

Ana pontel

Ana pontel

AHHH--- as intenções deles são de aquecer o coração kajskz eles foram tão fofos um com o outro 🥺💖

2023-07-20

2

Safira Cahon

Safira Cahon

fofo

2023-06-28

2

Ver todos

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