explorando

Ghottic despiu-se, depositando com gentileza suas delicadas roupas no chão. Cautelosamente, retirou as bandagens e curativos de seu corpo, sentindo a pele se soltar sob seus dedos. Os curativos feitos com folhas, embora eficazes, não aderiam à pele da mesma forma que materiais mais convencionais, causando uma sensação peculiar de desconforto.

Ao adentrar o box, seus olhos se fixaram na alavanca do chuveiro. Um adesivo indicava que, ao puxar para a esquerda, a água fluiria quente, enquanto para a direita, fria.

- será que para a água da cachoeira cair tenho que puxar essa alavanca?

Falou com si enquanto segurava na alavanca de alumínio, que estava levemente gelada, assim, Entre hesitação e necessidade, Ghottic ajustou a temperatura desejada, seus dedos tremiam levemente, refletindo não apenas o desconforto físico, mas também uma sutil relutância diante do ato simples de cuidar de si mesma naquele momento vulnerável. A bruxa puxou a alavanca completamente para a esquerda e antes que a água pudesse cair, já estava saindo vapor do chuveiro

- Aaaaah!

Ghottic deixou escapar um grito agudo ao sentir a água escaldante derramar-se sobre sua pele nua. Com um salto para trás, afastou-se rapidamente da correnteza fervente, puxando a alavanca totalmente para a direita. Um suspiro de alívio escapou de seus lábios ao experimentar a sensação refrescante da água gélida, que agora acariciava sua pele, proporcionando um alívio bem-vindo após o susto inicial. Agora, a água era incrivelmente igual aos banhos de cachoeira que a bruxa tomava na floresta.

- certo, estou molhada e agora? Esses artefatos devem servir para algo

Ghottic, com olhos brilhantes e uma expressão atenta, examinou a prateleira no box, onde uma variedade de produtos de higiene pessoal estava disposta. Ao segurar um frasco com a ilustração de uma mulher de cabelos brilhantes, seu rosto refletia fascínio diante da novidade. Ao tentar decifrar as letras na embalagem, a expressão da bruxa transmitia um misto de interesse e perplexidade, revelando a sua surpresa diante daquilo.

- será que devo passar isso no cabelo?

Ghottic enfrentou certa dificuldade ao abrir a embalagem, os dedos deslizando sobre as letras e formas desconhecidas. Quando, finalmente, conseguiu, foi envolvida por um forte aroma de mel e gengibre.

- Oh! Isso cheira a mel e... a alguma raiz...

Ela virou o frasco com curiosidade, deixando um líquido viscoso e amarelado escorrer para sua mão. A bruxa assistiu fascinada enquanto o líquido cobria sua pele, criando uma sensação suave e escorregadia. Depois de explorar a textura, recolocou a embalagem no lugar, mas ficou ali, contemplando suas mãos como se tivesse descoberto um novo tipo de magia.

- isso é mel? Parece tanto...

Embora sua consciência gritasse “não”, sua intuição insistia em dizer “sim”. Então, a bruxa levou suas mãos até o rosto e ousou experimentar o líquido com a ponta da língua. No mesmo instante, o amargor invadiu sua boca, fazendo o corpo de Ghottic estremecer. Sua boca ficou seca, e seu olho ardeu com uma sensação incômoda. A bruxa começou a salivar descontroladamente e cuspiu tudo o que pôde no chão, arrependida da experiência.

- não é mel! Não é mel!

Exclamou, ainda com a língua para fora, logo após analisar um pouco mais o liquido, ela levou as mãos até o topo da cabeça e mexeu elas para espalha-lo por seus cabelos, que aos poucos se tornou uma espuma, ao ver suas mãos, A bruxa arregalou o olho e ficou encantada com o que viu. Dezenas e centenas de bolhas de sabão escorriam por suas mãos, eram brancas e coloridas ao mesmo tempo, parecia mágica.

- uau...

Ela esfregou mais suas mãos na cabeça, o que espalhou a espuma, a bruxa se pegou rindo como uma criança, pois se lembrou de sua infância, onde as sereias assopravam centenas de bolhas de ar para fazer cócegas na garota em baixo da água.

A espuma foi escorrendo por seu corpo, aos poucos sumindo de sua cabeça. A bruxa observou novamente ao redor e viu uma barra de sabão cor de rosa, que exalava um cheiro forte de frutas vermelhas, curiosa, a garota pegou o objeto e o observou.

- possui cheiro de frutas...mas...será que devo?

Ela disse pausadamente, pensando e repensando nas suas ações, mas sua curiosidade gritava em sua cabeça.

- talvez...

A bruxa levou o sabonete até a boca e mordeu a barra, novamente, se arrependendo e gritando.

No quarto, Iwa ria enquanto ouvia os gritos da bruxa, já imaginando a bagunça que estaria aquele banheiro. Em seu quarto, o rapaz separava algumas roupas velhas para a garota usar por enquanto.

Seu quarto possuía as paredes bege papaia, o chão era de madeira como o resto da casa e o teto branco de gesso com luzes instaladas no mesmo. A porta era branca e nela havia colada inúmeras fotos do rapaz com seus amigos, na mesma parede ao lado havia uma escrivaninha branca com um notebook vermelho e em volta um porta lápis com algumas canetas, cadernos e livros de estudo levemente espalhados, abaixo da escrivaninha havia uma mochila com uma estampa listrada em preto, vermelho, amarelo e verde, ao lado uma lixeira preta simples e a frente uma cadeira comum de escritório cor vinho com uma almofada de pou triste em cima. Na parede ao lado podia-se ver um armário simples branco, com um espelho na porta direita, no armário havia muitos e muitos adesivos, Iwa adorava colecionar aqueles adesivos dos anos 2000 e apenas no armário já haviam 73; na mesma parede, ao lado do armário, havia um suporte com um violão vermelho acoplado; Na parede ao lado apenas uma janela que dava em direção há rua, entre essa parede e a última havia uma estante com uma modesta coleção de gibis; por fim, na última parede havia uma cama de colchão d’água com lençóis, cobertores e travesseiros das cores cinza, branco e vermelho.

Iwa parou por um momento, sentiu seu corpo arrepiar e o tempo parou por um segundo, quando ouviu sons encharcados seguirem até seu quarto, ele correu até a porta e arregalou os olhos, pálido, não sabia se ria ou se chorava, pois já esperava por essa cena.

- Iwa, como faz para desligar a cachoeira....digo, o chuveiro?

O ruivo suspirou e esperou alguns segundos para responder a bruxa, que o olhava de forma inocente e deveras infantil.

- ah....Ghottic...

Ele passava a mão nos olhos, os esfregando, evitando olhar para o corpo da bruxa pingando e encharcando o chão de sua casa.

- ah pelo menos não saiu do banheiro pelada...okay, aí calma

O ruivo caminhou até o banheiro e fechou o chuveiro, todo o chão estava encharcado, logo, arregalou os olhos e deixou uma risada escapar ao ver a marca de uma mordida no sabonete. O rapaz respirou fundo, querendo muito rir, mas se controlou e saiu de lá

- Ghottic, quando você termina de se banhar, tem que pegar a toalha e esfregar ela em você! E não só colocar ela no corpo.

A bruxa corou por causa de seu erro, olhando para o chão e percebendo o que havia feito, logo pedindo perdão.

- não, não relaxa. Pelo menos agora você sabe, vem, separei algumas roupas para você.

Ele a guiou até seu quarto, onde suas roupas da época de quando era emo estavam esticadas sobre a cama.

- após o banho você deve passar o desodorante, o perfume, se quiser...um hidratante, pentear o cabelo e se arrumar, okay?

O rapaz sentou na cama e deixou que a bruxa explorasse seu quarto.

- isso...é a cama, certo?

Ghottic ia sentar ao lado do rapaz, mas ele rapidamente exclamou para ela não sentar, lembrando a bruxa de que ainda estava com o corpo úmido.

- certo, então...

Ela caminhou até o armário e se espantou ao ver seu reflexo no espelho.

- Iwa! Tem outra de mim aqui!

O rapaz riu e levantou, caminhando até o espelho junto a garota, que estava fascinada e com medo do objeto mágico.

- é só um espelho, você já viu seu reflexo na água? É como isso, só que é como a água estivesse parada.

A bruxa encarava seu reflexo, que a imitava, com receio ela se aproximou mais do espelho e o tocou, arrepiando ao sentir o objeto gelado.

- que mágico....

Suspirou a bruxa, encantada ao conseguir ver detalhadamente como ela era, Era alta, possuía a cor de ébano, seu corpo possuía lindas curvas, mas nada que definisse se era um corpo feminino ou masculino, reparou nos seus encaracolados cabelos roxos que pingavam em seu rosto, notou finalmente suas orelhas que estavam redondas e seu olho, que antes era um vermelho brilhante como rubi, agora estava um vermelho barro.

- eu...eu pareço uma humana...

Quando a bruxa suspirou, sentiu sua respiração tremular e grandes lágrimas cobrirem seu olho, naquele momento ela tinha a mais absoluta certeza de que a magia havia se esvaído do seu corpo.

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