capítulo 19

Capítulo 19

Caterine

- Me conte mais sobre como foi a luta de vocês - falei quando já andávamos no gramado e eu sentia o aroma das rosas brancas que cercavam os dois lados da passarela de pedras em que caminhávamos.

- Diga o que quer saber? Somos Trinyths superiores e lutamos por três dias, aconteceram muitas coisas...

- Ele parecia dominado pelo laço? - perguntei

- Tanto quanto eu, mas o seu bruxo vulgo padre dele, estava o tempo todo conosco, então tenho minhas dúvidas do que foi real e do que não foi

- Acha que ele teria matado você?

- Não - ele disse e colocou suas mãos em seus bolsos, já eu, apertei mais meu xale ao redor dos meus braços, hoje estava um pouco frio - acho que ele só queria mostrar que podia se quisesse, mas acho que em breve vai querer

- Se for por minha causa, então pare! - falei e segurei seu braço para que ele me olhasse

- Não posso - ele disse olhando no fundo dos meus olhos

- Não sou sua responsabilidade! - falei e apertei minha mão em seu braço

- Não, não é! - ele pareceu nervoso e cansado - mas eu não posso, de novo não...

- De novo não? Do que está falando? - perguntei confusa

- Não quero mais perder pessoas, estou farto disso... podemos por favor mudar de assunto? - ele falou e puxou seu braço, arrumou seu casaco e colocou aquela sua máscara de deboche no rosto novamente - diga-me do que mais sentiu falta em mim estes dias?

- Do seu ego que não foi! - falei decidindo mudar de assunto, mas ainda sim, queria saber mais...

- Você só está fingindo que não gosta - ele falou e sorriu, depois voltamos a caminhar

Jogamos conversa fora, falamos um monte de bobagens e eu acabei rindo bastante das coisas que ele falava.

- Seu sorriso é bonito, devia usar mais - ele falou quando chegamos a um espiral de folhas na parede e cercas vivas de rosas brancas e hortênsias lilases misturadas, formando grandes círculos até em cima de nossas cabeças, era a coisa mais linda que eu já tinha visto.  Elas se misturavam formando um misto de cores, com um degradê incrível.

- É maravilhoso - falei encantada com a visão e o aroma

- Obrigado - ele disse e eu o olhei erguendo uma sobrancelha

- Está se responsabilizando pela beleza das flores? - perguntei incrédula com a audácia dele

- Sim e não! Eu explico, quem mandou plantar este jardim aqui fui eu!

- Ah... bom ainda sim, o crédito é todo das flores! - falei olhando ao redor, estávamos completamente cercados por aquele misto de cores, devia ter uns três metros de altura os espirais. - agora me diga, por que mandou plantar este jardim?

- Para mim falecida esposa - disse ele também olhando ao redor

- Sente falta dela... - falei olhando para ele e notando que estava pensativo

- Sinto, éramos bons amigos, começamos apenas por interesse, ela seria princesa e eu me tornaria Trinyth supremo, mas aprendemos a nos dar bem e ficamos muito amigos - explicou ele

- Não a amava? - não sabia porque tinha perguntado

- Sim... a amava, mas não de um jeito romântico

- Entendo... do que ela morreu? - perguntei caminhando lentamente entre as flores e tocando com a ponta dos meus dedos

- Ela... - ele tomou fôlego e seguiu - ninguém soube explicar ao certo, ela foi ficando fraca, pálida, perdendo o movimento do corpo aos poucos, no seu fim, ela já desejava a morte e eu... por pior que seja, queria que ela morresse, para que Rhuala não sofresse mais - achei ter visto seus olhos marejados

- Sinto muito - falei - não é ruim da sua parte pensar assim, ela merecia paz e descanso, conte-me mais - pedi e sentamos num banco branco de ferro que tinha no centro daquele lugar magnífico.

- Ela adorava flores, era alegre, muito gentil, sempre preocupada com tudo. Um pouco antes da doença a atingir, ela mudou bastante, ficou meio deprimida, eu custei a notar... quando percebi, mandei fazer este jardim só para Rhuala, assim como você, ela adorou, vinha para cá ler ou apenas pensar, isso animou um pouco ela, mas logo a doença a atingiu e alguns meses depois ela se foi, mas passou seus últimos dias aqui e me agradecia sempre, por ter dado a ela, este canto de paz

- Estou impressionada... - falei e toquei sua mão que repousava na sua perna - você é um homem bom...

- Achava que eu não era um homem bom?

- Tinha minhas dúvidas - falei rindo e o cutuquei com meu ombro no seu, ele sorriu também - a quanto tempo não vinha aqui?

- A muitos anos... - falou Brendow

- E por que veio aqui hoje, comigo?

- Não sei dizer, senti vontade de mostrar a você, sei que também adora flores

- Como sabe? - perguntei, será que ele tinha conseguido olhar minha mente

- Seu quarto... sempre está cheio de flores frescas e bem cuidadas

- Ah... sim... verdade - falei e ficamos em silêncio, um bom tempo, apenas olhando as rosas e as hortênsias. - este lugar parece mágico!

- Parece - disse ele baixo e senti uma onda estranha passar por todo o meu corpo, Brendow me olhou, como se me avaliasse e não disse nada, nem eu.- preciso ir! - ele disse e sumiu um segundo depois, me deixando ali sozinha e confusa com aquela sensação estranha no corpo.

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